91
Fig. 7 – Oocinetos de
Plasmodium berghei
: A) emcultura, comcoloração Giemsa e sob microscópio ótico
Zeiss (ampliação: 1000X); B)melanizados no intestino médio de
Anopheles stephensi
, empreparação a fresco,
sob microscópio ótico Zeiss (ampliação: 400X) (Fotos de Almeida, APG).
A rota de invasão do epitélio intestinal é diferente
consoante a espécie de mosquito e parasita, podendo
ser utilizada via intracelular, intercelular ou ambas.
A teoria da “bomba-relógio” veio esclarecer este
ponto, durante muito tempo alvo de controvérsia
(Han
et al.
, 2000). Vários têm sido os alvos
estudados com vista a interromper a cadeia de
transmissão nesta fase. Destacam-se algunstrabalhos
realizados no nosso instituto, como o silenciamento
do citocromo P450 redutase e das tubulinas A e B,
cujo efeito se traduziu numa redução da penetração
de oocinetos de
P.berghei
no epitélio de
An.gambiae
(Félix e Silveira, 2011). Igualmente, foi pela primeira
vez demonstrado que a injeção de oligonucleótidos
contendo motivos CpG em mosquitos tornou-os
menos suscetíveis à infeção pelo plasmódio, estando
este efeito relacionado com a ativação da enzima
transglutaminase (Silveira
et al
., 2012).
A superfície microvilar do epitélio tem sido
também explorada como alvo para a interrupção da
transmissão. A imunização contra extratos das
microvilosidades
resultou
em
mortalidade
aumentada de mosquitos e diminuição de infeção
plasmódica (Almeida e Billingsley, 2002).
Posteriormente, foi identificado o péptido SM1
presente quer no epitélio intestinal, quer nas GS, com
a capacidade de bloquear a invasão de plasmódios
em mosquitos transgénicos (Ghosh
et al
., 2001; Ito
et al
., 2002). Da mesma forma, anticorpos contra
carboxipeptidases B de
An. gambiae
reduziram
drasticamente a penetração de
P. falciparum
e
P.
berghei
(Lavazec
et al
., 2007).
Ensaios de interação proteica, realizados no nosso
laboratório, indicaram possíveis moléculas
candidatas para pares ligando-recetor, no epitélio
intestinal de
An.gambiae
, tais como as superiores a
220, 200 e 48 kDa, e nos oocinetos de
P.berghei
,
tais como os de 116, 45 e 21 kDa. Por
espectrometria de massa, foi identificada uma
molécula homóloga ao antigénio
Pf
EBA-165
como candidata a ligando dos oocinetos ao epitélio
intestinal (Toubarro
et al
., 2010).
Outra questão por nós investigada tem sido a
possível suscetibilidade do antigo vetor de malária
em Portugal,
An. atroparvus
, a plasmódios
importados, dado o perigo representado pelas
alterações climáticas e crescente nº de casos de
malária de importação. Apesar de, numa primeira
tentativa, este vetor se ter mostrado refratário a
P.
falciparum
de origem africana (Ribeiro
et al
.,
1989), experiências recentes demonstraram que,
em condições específicas de temperatura e de RS,
há, de facto, suscetibilidade de
An. atroparvus
de
Portugal a
P. falciparum
da estirpe NF54, com
prevalências de infeção que podem atingir 13,5%,
com uma média de 14 oocistos por intestino médio,
num intervalo entre 2 e 75 oocistos (Sousa, 2008).
A capacidade vetorial foi, contudo, baixa, donde o
risco para a reintrodução da malária em Portugal
foi considerado um evento possível mas
improvável no atual contexto (Sousa, 2008).