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móveis (Mueller
et al
., 2010; Pimenta
et al
., 1994;
Sultan
et al.,
1997).
Várias proteínas dos micronemas têm sido
descritas como potencialmente envolvidas no
processo de invasão das GS, assim como na
mobilidade dos esporozoítos. A proteína CSP tem
uma região de cinco aminoácidos, denominada de
“Região I”, cuja deleção impede a invasão das
glândulas (Myung
et al
., 2004; Sidjanski
et al
.,
1997). A adesão às GS é ainda favorecida por uma
proteína específica, a
apical membrane
antigen/erythrocyte binding-like protein
(MAEBL)
(Kariu
et al
., 2002), cujo papel na mobilidade do
plasmódio no mosquito ainda não está clarificado.
Uma terceira proteína envolvida é a TRAP, um
membro da família das invasinas, que não está
envolvida no passo inicial de ligação às glândulas,
mas assume um papel importante na mobilidade
(por deslizamento) do plasmódio.
Para algumas destas proteínas, já foram
identificados recetores específicos nas GS. No
hospedeiro vertebrado, a proteína CSP dos
esporozoítos, através de um motivo de ligação à
heparina, liga-se ao sulfato de heparano que reveste
os hepatócitos; no mosquito, a mesma proteína
reconhece este glicosaminoglicano presente na
superfície das GS (Armistead
et al
., 2011; Sinnis
et
al
., 2007). Também foi identificada uma outra
proteína, denominada SGS1, pertencente a uma
família de proteínas de superfície (o acrónimo
“SGS” deriva da expressão inglesa
salivary gland
surface
), com capacidade de ligação a
glicosaminoglicanos e, eventualmente, com papel
indireto na invasão do mosquito (Korochkina
et al
.,
2006). No nosso laboratório, estamos a realizar
experiências no sentido de estabelecer uma ligação
entre as transglutaminases e o sulfato de heparano
do mosquito. Oakulate e colaboradores (2007)
identificaram uma proteína denominada saglina,
localizada à superfície das GS, que foi
recentemente estabelecida,
in vitro
, como recetor
da TRAP (Ghosh
et al
., 2009), mais
especificamente através da interação do domínio A
desta proteína com a saglina. Os mesmos autores
concluíram também que o péptido SM1
anteriormente referido mimetiza a região da
proteína TRAP que interage com a saglina e, por
esse motivo, poderá funcionar como bloqueador da
invasão.
Depois de invadir o epitélio das GS, o
esporozoíto chega ao lúmen da cavidade secretora.
Não se sabe se, depois de chegar ao citoplasma das
células epiteliais, o parasita adquire uma forma de
migração unidirecional ou como é que o
esporozoíto abre caminho pela membrana apical.
Uma vez dentro da cavidade, os esporozoítos
associam-se em grupos através de um mecanismo
ainda desconhecido. Um pequeno número de
esporozoítos entra no ducto secretório, muito
embora também não se saiba o que os leva a
dissociar-se e a entrar nestes ductos.
Um aspeto a salientar da estadia do esporozoíto
dentro do mosquito é a sua passagemde forma não-
invasiva, enquanto esporozoíto dentro do oocisto, a
uma forma altamente infeciosa, depois de estar
dentro das GS, o que, de alguma maneira, sugere a
existência de fases de maturação, ainda não
identificadas, durante esta fase de invasão.
Dentro do mosquito, o plasmódio tem que
ultrapassar várias barreiras físicas, como a MP, o
epitélio do intestino médio e as GS de modo a
completar o seu ciclo de vida. No entanto,
conforme aqui referido, a base molecular que
permite o estabelecimento destas interações não é
totalmente conhecida, apesar dos muitos trabalhos
desenvolvidos nesta área, como aqui se tentou
resumir. O aumento do conhecimento sobre a base
molecular de interações entre vetor e parasita irá
permitir explorar e utilizar estas mesmas interações
no controlo da transmissão desta doença.