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INTERAÇÃO

Plasmodium/Anopheles

: UM MISTÉRIO POR RESOLVER?

ANA CUSTÓDIO (Custódio A.) * / **

HENRIQUE SILVEIRA (Silveira H.) * / **

ANTÓNIO PAULO GOUVEIA DE ALMEIDA (Almeida A.P.G.) * / ***

* Unidade de Ensino e Investigação de Parasitologia Médica, Instituto de Higiene e Medicina Tropical

(IHMT), Universidade Nova de Lisboa. Rua da Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa, Portugal. Tel. :

213652600.

E-mail

:

PAlmeida@ihmt.unl.pt

(Almeida APG).

** Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais (CMDT) / IHMT.

*** Unidade de Parasitologia e Microbiologia Médicas (UPMM) / IHMT.

As interações entre o vetor e o parasita são

essenciais para que se complete o ciclo de vida do

parasita causador da malária. A transmissão de

Plasmodium

a um novo hospedeiro vertebrado

obriga a que este se desenvolva dentro do

hospedeiro invertebrado. Esta obrigatoriedade

poderá ser um calcanhar de Aquiles, mas, será que

a especificidade destas interações poderá ser

utilizada como ferramenta de controlo desta

doença? Esta revisão, embora não apresentando a

solução para o problema, realça as barreiras físicas

e moleculares ao plasmódio dentro do seu

hospedeiro invertebrado, demonstrando o potencial

deste tema no controlo da doença.

Quando a fêmea do mosquito

Anopheles

fazasua

refeição sanguínea (RS) num indivíduo infetado e

portador de gametócitos de plasmódio, inicia-se a

fase esporogónica do ciclo de vida deste parasita,

cuja duração média é 12 dias, dependendo da

temperatura ambiente e das espécies de parasita e

vetor envolvidos. Após a fusão dos gâmetas, é

originado um zigoto que evolui para oocineto que,

em 12-24h, invade o epitélio do intestino médio do

mosquito.

Dentro do mosquito, o plasmódio é extracelular

nos estados que vão desde o gametócito até àinvasão

do esporozoíto, nas glândulas salivares (GS), estando

exposto à resposta imunitária quer do hospedeiro

vertebrado, transportada na refeição sanguínea

infetante ou noutras posteriores que o vetor faça,

quer à própria resposta imunitária do mosquito. Esta

ação do sistema imunitário do hospedeiro vertebrado

tem sido explorada na pesquisa de candidatos para

vacinas de bloqueio de transmissão, ou vacinas

altruístas, tendo já sido identificadas moléculas

candidatas, como Pfs48/45 e P25-P28, cuja funçãose

pensa estar relacionada com a formação de

nanotúbulos que facilitam o contacto intercelular na

fecundação (Chowdhury

et al.

, 2009).

Quando atinge a lâmina basal, o oocineto temque

enfrentar várias barreiras, a primeira das quais é a

matriz peritrófica (MP), seguida do epitélio

intestinal. A MP é uma camada acelular constituída

por glicoproteínas, que se forma ao redor da RS e

cuja função é proteger o epitélio contra os cristais de

hematina,

bactérias,

e

obstrução

das

microvilosidades, delimitando também um espaço

endo- e ecto-peritrófico. A MP tem sido relacionada

com a competência vetora de diferentes espécies de

mosquitos

Anopheles

para várias espécies de

plasmódios, sem que haja evidência conclusiva,

podendo esta constituir uma barreira absoluta em

mosquitos refratários ou apenas uma barreira

limitante da velocidade de penetração. Alguns

estudos permitiram, no entanto, comprovar o papel

da MP de

Aedes aegypti

no processo de invasão

pelos oocinetos de

P. gallinaceum

(Shahabuddin

et

al.

, 1996).