89
Fig. 6 - Pupas de glossinas (Diptera, Glossinidae). Fotografia de Maria Odete Afonso (2000).
A larviposição é normalmente diurna e é
efetuada em locais favoráveis à larva,
nomeadamente junto aos locais habituais de
repouso dos adultos, em solos não compactos, por
vezes arenosos, sob troncos e ramos caídos de
árvores ou juntos às grandes raízes das mesmas, em
buracos existentes no solo, mas sempre à sombra.
A larva LIII apresenta movimentos de reptação e
tem um curto período de vida livre, à superfície, de
apenas alguns minutos. Depois, penetra no solo,
permanecendo a pouca profundidade, imobiliza-se,
o tegumento escurece, a cor passa de branca a
amarela, laranja, castanha e, por fim, endurece e
torna-se opaca. O pico de eclosão dos adultos
verifica-se, vulgarmente, a meio da tarde, não se
efetuando a temperaturas muito baixas ou muito
elevadas. No adulto recém-eclodido, ou teneral, as
asas, o tórax e o abdómen expandem-se, o
probóscis adquire a posição horizontal e a quitina
inicia o seu endurecimento, estando o inseto apto a
voar cerca de uma hora após a eclosão. Esta
glossina, um a dois dias depois, procura um
hospedeiro vertebrado para efetuar a sua primeira
refeição sanguínea, que se realiza durante o dia.
Na África Ocidental e Central, durante o dia, as
pessoas, em áreas florestais, rurais e periurbanas,
assim como o seu gado, estão sujeitas a serem
picadas e infetadas por espécies glossínicas do
grupo
palpalis.
Na África Oriental, caçadores,
lenhadores e turistas, em reservas de caça (entre
outros locais), estão sujeitos a serem picados e
infetados por espécies glossínicas do grupo
morsitans.
A tripanossomose humana africana
(THA), causada por
Trypanosoma brucei
gambiense
, ocorre na África Ocidental e Central e
pode ser transmitida, consoante as regiões, pelos
seguintes vetores:
Glossina palpalis palpalis
,
G.p.
gambiensis
,
G. tachinoides
,
G. fuscipes fuscipes
e
G. f. quanzensis.
Já a THA causada por
T. b.
rhodesiense
, que se observa predominantementena
África Oriental, pode ser transmitida por
G.
morsitans morsitans
,
G. m. centralis
,
G. pallidipes
e
G. swynnertoni.
Trypanosoma b. brucei
,
T.
congolense
e
T. vivax
são os tripanossomas animais
com maior importância em Medicina Veterinária e
podem ser transmitidos por glossinas de várias
espécies e subespécies.
Nas glossinas suscetíveis, os tripanossomas
apresentam
transformações
morfológicas,
metabólicas e multiplicações cujo local onde
ocorrem, no inseto, é variável segundo as espécies
tripanossómicas.
Assim,
Trypanosoma
(
Duttonella
)
vivax
, no vetor, apresenta o ciclo mais
simples, onde a quase totalidade do mesmo se
desenrola na armadura bucal.
T.
(
Nannomonas
)
congolense
apresenta um ciclo intermédio, onde
apenas o probóscis e o intestino médio, ou
estômago, estão envolvidos.
T.
(
Trypanozoon
)
brucei
ssp. apresenta o ciclo mais complexo,
implicando o estômago (formas procíclicas do
parasita),
o
proventrículo
(formas
proventriculares), o probóscis e, por último, as
glândulas
salivares
onde
as
formas
proventrículares se transformam em epimastigotas,
multiplicam-se e dão origem às formas
metacíclicas infectantes que, através da saliva,
serão inoculadas no hospedeiro vertebrado.
A
duração dos ciclos, consoante as espécies dos
tripanossomas, e as condições ambientais, podem
variar, nos vetores, em média de 6 a 30 dias
(Afonso, 2000).
Presentemente, devido à gravidade das
tripanossomoses africanas, vários investigadores
do IHMT, em colaboração com outras instituições,
têm realizado estudos sobre as glossinas, ainda que,
tal como os flebótomos, as moscas tsé-tsé sejam
consideradas de “menor importância” em relação a
outros vetores. Contudo, este “preconceito” está,
felizmente, a desaparecer (Dyer
et al
., 2009;
Ferreira
et al
., 2008).