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da população e, emCabo Verde, este resultado tem

importantes implicações para as estratégias de

controlo da malária pois, sendo uma área

epidémica, é recomendado, pela OMS, o uso de PQ

como fármaco bloqueador de transmissão.

A PQ, uma 8-aminoquinolina, é o único

antimalárico disponível ativo contra as formas

hepáticas (incluindo hipnozoítos), as formas

eritrocitárias e os gametócitos (bloqueando a

transmissão ao mosquito) (Vale

et al.

, 2009a).

Infelizmente, possui baixa biodisponibilidade oral

(por

conversão

no

metabolito

inativo

carboxiprimaquina), o que obriga à administração

frequente de doses elevadas, e é hemotóxica,

especialmente em populações vulneráveis, como

mulheres grávidas, crianças (inferiores a 4 anos) e

idosos. Estas limitações afetam, principalmente, a

sua utilização na profilaxia e no tratamento da

malária por

P. vivax

ou

P. ovale

(que formam

hipnozoítos), sendo a primeira a espécie mais

prevalente em áreas de clima temperado onde a

malária pode reemergir e causar morbilidade

considerável. Além disto, os efeitos deste fármaco

em indivíduos deficientes em G6PD causam

preocupação, sendo a frequência desta deficiência

enzimática elevada na maioria das áreas

endémicas.

A PQ foi aprovada pela FDA em 1952 e, apesar

dos esforços para desenvolver derivados, apenas a

bulaquina, na Índia, foi aprovada para uso clínico.

Os novos derivados deverão conservar as

excelentes propriedades como antimalárico multi-

estadio, aumentar a biodisponibilidade oral e

diminuir a toxicidade. Para isto têm sido feitas

abordagens químicas para “mascarar“ a amina

alifática da molécula da PQ, a fim de obter

derivados resistentes à desaminação oxidativa,

principal via subjacente à baixa biodisponibilidade

oral.

Foram

desenvolvidos

derivados

peptidomiméticos, as imidazoquinas, que testados

em modelo murino (

Plasmodium berghei

),

demonstraram ótimo potencial no bloqueio de

transmissão. Apesar de muito estáveis em meios

fisiológicos, as imidazoquinas são menos ativas

contra formas hepáticas (Vale

et al.

, 2008; Vale

et

al.

, 2009b; Vale

et al.

, 2009c). Em alternativa,

foram

também

desenhados

derivados

organometálicos, os primacenos, tendo sido

conseguido um metaloceno (ferroceno) com

atividade de bloqueio de transmissão e 45 vezes

mais ativo contra as formas hepáticas de

P. berghei

do que a PQ (Matos

et al.

, 2011).

Atualmente, por forma a poder aplicar-se este

fármaco mais eficazmente na terapêutica e controlo

da malária nas regiões endémicas e epidémicas, os

quatro derivados com melhores perfis de atividade

multi-estadio encontram-se em fase de

caracterização

das

suas

propriedades

farmacológicas

de

ADME

(Absorção-

Distribuição-Metabolismo-Excreção), estabilidade

metabólica

(meia-vida)

e

interações

medicamentosas (DDI).

Desta forma, esperamos contribuir para o

desenvolvimento de um antimalárico multi-

estadio, eficaz e seguro para o tratamento de

malária em pessoas com deficiência de G6PD e

outras populações vulneráveis, passível de ser

utilizado em maior escala do que, até ao momento,

tem sido possível com a primaquina.

AGRADECIMENTOS

Trabalho realizado com financiamento da

FCT/MEC.