Table of Contents Table of Contents
Previous Page  53 / 202 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 53 / 202 Next Page
Page Background

53

TRIPANOSSOMOSE HUMANAAFRICANA

NUNO MIGUEL CARMONA DE JESUS ROLÃO (N. ROLÃO)

JORGE BEIRÃO DE ALMEIDA SEIXAS (J. SEIXAS)

MARCELO SOUSA SILVA (M. SILVA)

SÓNIA CHAVARRIA ALVES FERREIRA CENTENO LIMA (S. CENTENO LIMA)

JORGE LUÍS MARQUES DA SILVA DE ATOUGUIA (J. ATOUGUIA)

Unidade de Ensino e Investigação de Clínica Tropical, Instituto de Higiene e Medicina Tro pical,

Universidade Nova de Lisboa. Rua da Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa, Portugal. Telefone: 213652600.

E-mail

:

nrolao@ihmt.unl.pt (

N. Rolão).

A tripanossomose humana africana (THA), ou

“doença do sono”, é uma doença exclusivamente

africana e

com distribuição

geográfica

predominante nas áreas rurais. A doença existe em

36 países de África, estando 50 milhões de pessoas

em risco de contrair a infeção. Na década passada,

observou-se diminuição do número de novos casos

anualmente declarados, que passaram de mais de

25000 para cerca de 12000, mas a situação real

poderá ser mais grave (Simarro

et al.

, 2008).

Quando não tratada, a doença evolui

inexoravelmente para a morte (Atouguia e

Kennedy, 2000). Por isso, é obrigatório

diagnosticar, estabelecer a fase da infeção e tratar

todos os doentes. O agente da doença é um

protozoário extracelular do género

Trypanosoma

,

que sobrevive sobretudo no sangue, linfa e líquido

cefalorraquidiano dos indivíduos infetados

(Atouguia e Kennedy, 2000). Duas subespécies

provocamdoença no homem:

Trypanosoma brucei

gambiense

, prevalente na África ocidental e

central, e

Trypanosoma brucei rhodesiense

,

predominante na África oriental. A transmissão da

doença do sono ocorre por picada do vetor - moscas

do género

Glossina

-, que inocula, no hospedeiro,

os parasitas presentes nas suas glândulas salivares

(Gomes

et al

., 2009). Formas menos frequentes de

transmissão incluem a transmissão vertical

(Atouguia e Nelson, 2009), acidentes de

laboratório e um raríssimo caso de possível

transmissão sexual (Rocha

et al

., 2004). Uma vez

que a transmissão só ocorre na presença de

humanos ou animais domésticos ou selvagens

infetados, as áreas de África infestadas com

glossinas são muito mais extensas do que aquelas

de doença do sono. Assim, a doença caracteriza-se

por distribuição multifocal, correspondente à

distribuição das populações. Nas décadas de 60 e

70, o número de novos casos nas colónias

europeias era reduzido e a doença estava

controlada mas, após as independências, os

recursos económicos dos novos países diminuíram

acentuadamente e, como consequência, a doença

reemergiu (Simarro

et al

., 2008).

A tripanossomose por

Trypanosoma brucei

gambiense

tem as características clínicas clássicas

da doença do sono, com dois períodos evolutivos:

a inicial fase hemolinfática, em que os

tripanossomas se encontram ativos no sangue,

gânglios linfáticos e tecidos dos doentes,

caracterizada por episódios febris autolimitados, de

curta duração, que se podem repetir

periodicamente, e em que é frequente um falso

diagnóstico de malária ou síndroma gripal; e a

segunda fase, neurológica, correspondente à

atividade dos tripanossomas no sistema nervoso

central, na qual surgem os quadros clínicos

neuropsiquiátricos (alterações do comportamento,

psicoses, alterações sensitivas e motoras,

paralisias,

convulsões

e

manifestações

relacionadas com a estrutura interna do sono –

crises narcolépticas e alteração do ritmo do sono).

O doente acaba por morrer em caquexia, por

convulsões ou coma (Atouguia e Kennedy, 2000).

O diagnóstico baseia-se na deteção do parasita

no sangue, suco ganglionar e líquido

cefalorraquidiano, através de métodos de deteção

direta, preferencialmente com técnicas de

concentração; para triagem utiliza-se uma técnica

de deteção de anticorpos (

Card Agglutination Test

for Trypanosomiasis

, CATT) que se aplica apenas

em

T. gambiense

. Esta forma da doença do sono

pode manter-se assintomática durante meses ou

anos, pelo que os indivíduos infetados não

recorrem aos serviços de saúde. A luta contra esta

doença baseia-se, portanto, no diagnóstico e

tratamento destas populações, através da pesquisa

ativa, no terreno, realizada por equipas móveis

(Atouguia e Kennedy, 2000; Simarro

et al

., 2008).

O estadiamento da doença é crítico, uma vez que

o tratamento com pentamidina ou suramina é

simples e eficaz no período hemolinfático. Na fase