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neurológica, é difícil, caro e complicado. Os

fármacos utilizados nesta fase (melarsoprol,

eflornitina e nifurtimox) apresentam elevada

toxicidade (síndroma encefalopático) (Atouguia e

Costa, 1999; Atouguia

et al

., 1995; Jennings

et al

.,

1993; Lutje

et al

., 2010). As recaídas são

frequentes, devido principalmente a deficiências na

terapêutica e/ou resistências aos fármacos

utilizados. A utilização atual da combinação

eflornitina/nifurtimox como primeira linha da

terapêutica para

T. gambiense

permite diminuir a

toxicidade dos fármacos e reduzir as resistências.

Uma vez que o seguimento pós-tratamento é longo

(superior a dois anos) e exige uma punção lombar

de 6 em 6 meses, os pacientes têm tendência para

não comparecer às consultas, o que dificulta a

contabilização dos insucessos terapêuticos

(Atouguia e Kennedy, 2000; Simarro

et al

., 2008).

Portugal sempre teve um papel de realce no

estudo e controlo da doença do sono, através do

IHMT. Nomes como Ayres Kopke e Cruz Ferreira

são alguns dos muitos clínicos e cientistas que

trabalharam nesta área. Nos últimos anos, tem sido

desenvolvido trabalho científico importante, quer

clínico, no acompanhamento dos casos de THA

importada em Portugal (Rocha

et al

., 2004), quer

na formação, com a realização do III ICAT, um

curso internacional sobre tripanossomose africana

da OMS, quer no desenvolvimento de várias linhas

de investigação sobre novos métodos de

diagnóstico (Gomes

et al

., 2009), tratamento

(Atouguia e Costa, 1999; Atouguia

et al

., 1995;

Jennings

et al

., 1993) e vacinas de DNA (Lança

et

al.

, 2011; Silva

et al

., 2009).

Em conclusão, a doença do sono é mortal,

exclusivamente africana, existente unicamente em

áreas rurais, com evolução crónica, de diagnóstico

difícil e tratamento pouco satisfatório e tóxico.

Estas características, agravadas por circunstâncias

de carácter político, económico e de instabilidade

social, contribuíram para a falta de apoio

institucional, nacional e internacional, quer no

controlo da doença emÁfrica, quer na investigação

aplicada. Assiste-se, no entanto, na última década,

a progressos no controlo vetorial e a melhorias no

tratamento e diagnóstico, permitindo diminuição

da sua prevalência. É necessário prosseguir

esforços para consolidação do controlo desta

importante doença negligenciada.