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PROTOZOOSES INTESTINAIS E MICROSPORIDA

OLGA MARIA GUERREIRO DE MATOS (O. MATOS)

Grupo dos Protozoários Oportunistas/VIH e Outros Protozoários, Unidade de Ensino e Investigação de

Parasitologia Médica, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa. Rua da

Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa, Portugal. Telefone: 213652600.

E-mail

:

omatos@ihmt.unl.pt.

Não obstante o crescente conhecimento

científico e o desenvolvimento tecnológico

observados nos últimos anos, as doenças

parasitárias e, principalmente, as protozooses

intestinais, ainda constituem um importante

problema de saúde pública. Nos países em

desenvolvimento onde as condições de saneamento

básico e de higiene pessoal são precárias e o nível

socioeconómico é baixo, as protozooses intestinais

são, ainda, muito frequentes, principalmente na

população pediátrica, nas grávidas e nos doentes

com sida. Também nas regiões industrializadas,

como nos EUA (Hotez, 2008) e na Europa,

continuamos a encontrar estas doenças da pobreza,

negligenciadas e emergentes. As razões apontadas

para a difusão destas doenças entre os pobres que

vivem em países considerados desenvolvidos

passam, por um lado, pelas alterações climáticas

(Bezirtzoglou

et al.

, 2011), o aumento do turismo e

da imigração e, por outro lado, no que respeita à

Europa, também pela recente crise económica que

tem grassado nas regiões do Sul, e à indefinição

política e à instabilidade económica na Europa de

Leste, devidas à queda do comunismo e à guerra

nos Balcãs. Todas estas alterações observadas na

Europa, nos últimos 20 anos, têm levado ao

declínio substancial dos padrões de vida e ao

enfraquecimento das economias, criando um

terreno propício para persistência e até emergência

das doenças parasitárias, entre elas as protozooses

intestinais e a microsporidiose, nestas regiões

(Hotez, 2009). A morbilidade e mortalidade

associadas às protozooses intestinais são elevadas,

com mais de 58 milhões de casos de diarreia

infantil por protozoários/ano, estimando-se que os

custos diretos de gestão destes casos nos EUA

sejam de 150 milhões de dólares (Savioli

et al.

,

2006).

Os protozoários

Entamoeba histolytica, Giardia

duodenalis

,

Cryptosporidium

spp.,

Cystoisospora

(

Isospora

)

belli

e

Cyclospora cayetanensis

ealguns

membros do filo Microsporidia são os parasitas

intestinais patogénicos mais importantes por

causarem diarreia aguda e crónica, em

imunocompetentes e em imunocomprometidos.

Estes

microrganismos

estão

amplamente

difundidos, podendo ser encontrados em todos os

continentes e são causa, principalmente, de

infeções entéricas nos seres humanos e nos animais

(com exceção de

C. belli

e

C. cayetanensis

, que só

infetam humanos), em todo o mundo sendo,

portanto, de considerar a possibilidade de

transmissão zoonótica. Todos eles são também

importantes agentes patogénicos de origem hídrica

e a via sexual de transmissão está descrita para

E.

histolytica

,

G. duodenalis

e

Crytosporidum

spp..

Nas regiões em desenvolvimento e nas bolsas de

pobreza nas regiões industrializadas, a amebíase, a

giardíase e a criptosporidiose fazem parte do

complexo grupo de doenças parasitárias,

bacterianas e virais, classificadas como

negligenciadas,

que

comprometem

o

desenvolvimento socioeconómico. Todas as

doenças incluídas na “Iniciativa Doenças

Negligenciadas” da OMS têm um elo comum com

a pobreza (Hotez e Gurwith, 2011; Savioli

et al.

,

2006).

Nestas parasitoses intestinais, o diagnóstico

baseia-se no exame de amostras de fezes para

visualização/identificação de quistos, oocistos ou

esporos, por microscopia ótica. Por norma, é

necessário examinar três a seis amostras de fezes,

obtidas em dias alternados, para ter umdiagnóstico

preciso, uma vez que os quistos não são excretados

nas fezes com regularidade. Colorações

citoquímicas, como as de Ziehl-Neelsen

modificado ou auramina-fucsina, são utilizadas

para identificação de oocistos de

Cryptosporidium

spp., enquanto as colorações de Gram, Giemsa,

tricrómio ou quimiofluorescentes têm sido

experimentadas na deteção dos microsporídeos em

amostras de fezes. A identificação de antigénios

parasitários

nas

fezes

através

da

imunofluorescência com anticorpos mono- ou

policlonais ou imunoensaios enzimáticos é,

também, muito aplicada, permitindo estudar um

grande número de amostras biológicas. No caso das

protozooses invasivas, como a amebíase, quando se