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outros mega-síndromes. Na fase indeterminada e
crónica, a terapêutica disponível não é eficaz,
sendo claramente inadequada devido aos seus
efeitos secundários tóxicos, que levam a frequentes
interrupções da terapêutica e aparecimento de
resistências.
Apesar da prevenção e tratamento serem de
difícil aplicação, o número estimado de pessoas
infetadas na América Latina caiu de
aproximadamente 20 milhões, em 1981, para cerca
de 10 milhões, em 2009 (WHO, 2010). Este fato
deveu-se, em grande parte, a um alargado
programa de controlo denominado “Iniciativa do
Cone Sul”, que teve início em 1991, apoiado pelos
governos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Paraguai e Uruguai, juntamente com a
Pan
American Health Organization
. A Iniciativa do
Cone Sul estabeleceu planos de ação regionais para
eliminação do vetor e interrupção da transmissão
do parasita através de transfusões sanguíneas. No
entanto, atualmente, a doença ainda subsiste em21
países da América Latina, estimando-se em 100
milhões as pessoas em risco de contrair a infeção
por
T. cruzi
. Estudos epidemiológicos efetuados na
última década nos países endémicos detetaram
taxas de infeção que variam de 1% a 25% (Perez-
Molina
et al.
, 2012). Recentemente, tem-se
registado uma tendência para domiciliação de
espécies silvestres de triatomíneos, o que levou a
novos cenários epidemiológicos, nomeadamente
na Venezuela, não se observando progressos reais
de redução do risco. Por outro lado, verificou-se a
emergência da doença empaíses não endémicos, de
um modo particular nos Estados Unidos da
América e na Europa. Este fato é resultado da
grande mobilidade das populações, como as
migrações, tendo também sido reportados casos em
viajantes que retornam da América Latina. A
transmissão do parasita nestes países ocorre através
de transfusões sanguíneas, por via congénita ou por
transplante de órgãos. Desde 2000 que um
acentuado aumento do número de casos tem sido
reportado em países europeus; estima-se que, de
1999 a 2009, o número de pessoas infetadas com
T.
cruzi
na Europa tenha excedido 80000, sendo os
países mais atingidos a Espanha e o Reino Unido.
EmPortugal, o número de casos de seroprevalência
da infeção
,
naquele período de tempo, foi 850.
Com base neste quadro da epidemiologia da
doença de Chagas, e também em relação a outras
doenças tropicais emergentes na Europa, foi criada,
em 2008, a rede
EuroTravNet
, pela
International
Society of Travel Medicine
, em associação ao
European Centre for Disease Prevention and
Control
, para detetar, verificar e notificar doenças
transmissíveis que possam estar associadas a
viagens, com particular ênfase nas doenças
tropicais.
Relativamente à problemática da doença de
Chagas emPortugal e na América Latina, docentes
e investigadores do IHMT têm dado um contributo
significativo com a sua ligação a estas redes de
vigilância, organização de reuniões científicas e
investigação sobre a doença tendo, como parceiros,
diversos centros europeus e da América Latina.
Desde 1991 que as iniciativas de prevenção e
controlo da doença de Chagas criaram novas
expectativas, às comunidades dos países
endémicos, sobre o controlo global da infeção. O
objetivo mais importante num programa de
controlo é que este seja constante, duradouro e com
vigilância vitalícia. Espera-se que, até 2020, se
chegue à interrupção da transmissão vetorial
domiciliária, um marco que será atingido quando a
infestação peri-domiciliária for eliminada, e que a
transmissão via transfusão sanguínea seja
interrompida até 2015, de um modo particular em
países não endémicos, nomeadamente na Europa
(WHO, 2012). Adicionalmente, devem ser
desenvolvidas terapêuticas combinadas com
compostos ativos com maior eficácia e
minimização dos efeitos secundários. Tem que
existir um maior empenho da comunidade política,
farmacêutica e científica internacional de modo a
reverter a falta de orçamento para investigação
desta doença negligenciada, no sentido de fornecer
recursos e plataformas de partilha de
conhecimentos,
permitindo
assim
um
desenvolvimento mais rápido da investigação, no
sentido de melhorar o diagnóstico, tratamento e
prevenção. Com o empenho da OMS e de todos os
intervenientes, espera-se que sejam atingidos os
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio em
2015 e as metas de eliminação das doenças
tropicais negligenciadas até 2020, incluindo a
doença de Chagas (WHO, 2012).
AGRADECIMENTOS
SC bolseira da Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT)/Ministério da Educação e
Ciência (MEC).