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noite, o período de maior atividade hematofágica

do vetor, coincidente com o período habitual de

sono do hospedeiro, ficando retidas em capilares,

principalmente pulmonares, fora deste período.

Contudo, tanto

B. malayi

como

W. bancrofti

apresentam formas sub-periódicas.

Na oncocercose, os parasitas adultos alojam-se

em nódulos no tecido conjuntivo. As microfilárias

migram frequentemente para os olhos, onde

causam levam a conjuntivite e eventualmente

cegueira, pelo que esta doença é também

denominada “cegueira dos rios”.

Na loíase, os sintomas são causados

principalmente pela migração do parasita adulto

em tecido sub-cutâneo e conjuntiva ocular.

Caracteriza-se principalmente por

prurido

acentuado, podendo causar inflamação local

(edema de Calabar) quando o parasita aí permanece

durante algum tempo, mas é largamente

assintomática.

Loa loa

apresenta também

periodicidade, mas diurna.

A filaríase linfática apresenta distribuição

equatorial, com 120 milhões de casos estimados,

sendo 90% causados por

W. bancrofti

,

principalmente na Ásia (66%) ou na África (33%).

O género

Brugia

encontra-se apenas na Ásia. A

oncocercose é ainda um grave problema de saúde

pública, particularmente em África, mas também

em seis países da América Latina e no Iémen.

Estima-se que exista meio milhão de pessoas cegas

devido à oncocercose e que 18 milhões de pessoas

estejam infetadas. A loíase restringe-se à floresta e

pântanos tropicais da África Ocidental, estando

presente em Angola, e estima-se que parasite 13

milhões de pessoas.

Programas de controlo para eliminação da

filariose linfática (PELF) e da oncocercose

(APOC), através do tratamento em massa, foram

implementados nas áreas endémicas. Em todos os

casos, os tratamentos disponíveis atuam

principalmente

nas

microfilárias,

sendo

normalmente pouco eficazes contra os adultos.

Entre os medicamentos usados, encontram-se a

dietilcarbamazina (DEC), que pode atuar nos

adultos de

W. bancrofti

, e ivermectina, assim como

o albendazol. Em tratamento em massa, usa-se

normalmente uma

combinação de

dois

medicamentos. A DEC pode causar reacções

graves emdoentes infetados com

O. volvulus

e, por

seu lado, a ivermectina pode causar graves reações

adversas, principalmente a nível neurológico, em

doentes infetados com

Loa loa

. Estas reações

limitam o uso daqueles anti-helmínticos no

tratamento em massa nas várias regiões de co-

endemicidade entre espécies de filárias. Contudo, a

descoberta da dependência destes parasitas na

bactéria simbionte

Wolbachia

sp, levou à crescente

utilização de antibióticos.

A investigação em filariose tem longa tradição

no IHMT. Investigadores deste Instituto,

principalmente Fraga de Azevedo, publicaram

estudos sobre filárias desde a década de 40, tanto

em Portugal como nas então colónias em África.

Os primeiros estudos foram publicados em 1943

nos Anais do Instituto, então de Medicina Tropical,

e incidiram, respetivamente, sobre espécies de

filárias zoonóticas em cães portugueses. Aos

estudos de caráter eminentemente epidemiológico,

realizados nas então colónias portuguesas, como na

Guiné Portuguesa, Timor e na Ilha do Príncipe,

seguiram-se estudos aplicados, acompanhando os

avanços científicos da época, nomeadamente no

âmbito do diagnóstico, da patologia e da terapia.

Azevedo, em 1964, já usa a distinção entre os

géneros

Wuchereria

e

Brugia

numa revisão sobrea

sua distribuição nos territórios portugueses além-

mar. Estudos em Timor (Ferreira

et al.

, 1965)

levaram ao reconhecimento de uma forma distinta

de filariose pelo género

Brugia

em Timor (David e

Edeson, 1965) e à descrição de uma nova espécie,

Brugia timori

, por Partono

et al.

(1977). A

distinção morfológica a nível de microfilárias foi

confirmada por Pinhão (1973), tendo, contudo,

mostrado haver uma grande variação a nível de

microfilárias.

A oncocercose mereceu atenção no IHMT desde

a década de 1950, com a publicação dos resultados

de inquéritos epidemiológicos em Angola e na

Guiné Portuguesa e a descrição de lesões oculares

em Angola. Barbosa

et al.

(1971) contribuíram

para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico

através da avaliação do uso de um novo antigénio

de

O. volvulus

na técnica de fluorescência indireta

em lâmina, que apresentou 100% de especificidade

e 95% de sensibilidade em diluições superiores a

1/40.

A primeira menção nos Anais do IHMT a

Loa

loa

é feita num estudo publicado em 1966 (Casaca,

1966), no qual também se estudaram,além de

O.

volvulus

, os nemátodes

Dipetalonema perstans

(agora

Mansonella perstans

).

Os estudos sobre filárias por investigadores e

alunos do IHMT prosseguiram nas últimas

décadas, nomeadamente sobre filariose linfática

em alunos de escolas primárias em Timor Leste

(Bonaparte

et al

., 2005), que mostrou altas taxas de

prevalência infantil (21,1% e 55,6-59,3%, em duas

regiões) e confirmou a periodicidade noturna,

tendo sugerido padrões distintos de exposição aos

vetores em regiões diferentes. As filarioses