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Lobo,

2011).

Esta

diminuição

deve-se

principalmente à melhoria das condições sanitárias

e de saneamento básico e também à implementação

da rede de saúde escolar.

A investigação atual sobre geohelmintas (como

outros parasitas intestinais) no IHMT é

maioritariamente realizada em países tropicais,

como Angola, Guiné, Moçambique, Timor-Leste e

Brasil. Estudos recentes encontraram prevalências

de 20-22% de

A. lumbricoides

, 3-8% de

T.

trichiura

e 2-5% de ancilostomídeos em duas

localidades de Timor (Rêgo, 2004), semelhantes às

encontradas para

A. lumbricoides

em duas

províncias de Angola (11-28%), mas distintas para

T. trichiura

(0,7-3%) e ancilostomídeos, para os

quais se registou uma grande amplitude (2-20%)

(Dumba, 2006). Estas prevalências são

suficientemente

altas

para

afetar

o

desenvolvimento infantil, tendo sido encontrada

correlação estatisticamente significativa entre a

anemia por deficiência de ferro em mulheres

grávidas e presença de

T. trichiura

(Jeremias,

2006).

Considerando que o combate às parasitoses

transmitidas pelo solo é um dos objetivos da

Organização das Nações Unidas para o milénio

(Fenwick

et al.

, 2005), o grupo de Helmintologia

do IHMT continuará a apoiar investigação nesta

área, assim como na formação, contribuindo para a

seleção de medidas de controlo mais adequadas e

eficazes.

Schistosomose

A schistosomose é uma doença parasitária

causada por tremátodes digenéticos do género

Schistosoma

. Devido à sua ampla distribuição e

elevada morbilidade, é considerada a segunda

parasitose de maior impacte em saúde pública, em

particular nos países em vias de desenvolvimento

das regiões tropicais e subtropicais.

A dinâmica epidemiológica da schistosomose

humana é heterogénea e complexa: envolve um

hospedeiro definitivo (vertebrado), um hospedeiro

intermediário

(moluscos

gastrópodes),

contaminação com excreta de indivíduos infetados

de meios aquáticos, e exposição a esse meio por

motivos ocupacionais, recreativos, domésticos ou

higiénicos.

Atualmente, cerca de seis espécies do género

Schistosoma

causamdoença emhumanos, sendoas

mais importantes

Schistosoma haematobium,

responsável pela patologia urogenital

,

e

S.mansoni,

S. japonicum, S. intercalatum

e

S. mekongi

,agentes

da forma intestinal. Outras espécies afetam os

humanos apenas ocasionalmente.

Os ovos das espécies responsáveis pela patologia

intestinal são eliminados nas fezes e os de

S.

haematobium

na urina do hospedeiro infetado. Ao

entrarem em contacto com água doce (lagoas, rios),

eclodem, libertando larvas ciliadas (miracídios),

forma infetante para o caracol. Neste, o parasita

multiplica-se e desenvolve-se em cercárias (forma

infetante para o Homem), cuja eliminação coincide

temporalmente com os hábitos humanos de

contacto com água, e têm capacidade de penetrar

ativamente na pele. Após 2-6 semanas de infeção,

começam a ser produzidos ovos, recomeçando o

ciclo de vida. Nesta fase, o diagnóstico pode ser

realizado por pesquisa de ovos nas fezes ou na

urina.

Dos 200 milhões de pessoas infetadas e 600

milhões expostas à infeção, 80% ocorrem no

continente africano (Hotez e Fenwick, 2009;

WHO, 2006). O número de DALYs (

disability

adjusted life years

) causado por

Schistosoma

spem

África (70 milhões) está significativamente

subestimado (King

et al.,

2008). A schistosomose

é, assim, uma endemia de grande impacte

epidemiológico e, mais importante, um problema

socioeconómico grave, sendo uma doença

gravemente negligenciada.

As lesões patológicas são provocadas

principalmente pelos granulomas periovulares e

fibrose, induzidos pela resposta inflamatória aos

antigénios libertados dos ovos retidos nos tecidos.

As lesões causadas por

S. haematobium

afetam

sobretudo o sistema genito-urinário, podendo

causar obstrução, insuficiência renal e neoplasia. À

schistosomose urogenital tem sido atribuída baixa

saúde reprodutiva, incluindo disfunção sexual e

infertilidade (Takougang

et al

., 2008), assim como

a transmissão horizontal do VIH e da sida (Kjetland

et al

., 2006). Na schistosomose intestinal por

S.

mansoni

(e pelas outras espécies), as lesões

localizam-se

principalmente

no

aparelho

gastrointestinal tendo, como consequência grave, o

comprometimento hepático (Maxwell, 2008; Van

Le

et al.,

2004).

Os métodos de diagnóstico parasitológico (como

Kato-Katz e filtração da urina - métodos padrão) e

imunológico (mais sensíveis em infeções leves)

apresentam limitações, em particular na fase inicial

do parasitismo, na avaliação da eficácia do

tratamento e na possibilidade de reações cruzadas

com outras parasitoses. Assim, as técnicas

moleculares, baseadas na reação da polimerase em

cadeia (PCR), aumentam a sensibilidade e a

especificidade de deteção, as quais são oito vezes