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zoonóticas têm também sido alvo de investigação
no IHMT como por exemplo, em estudos de
dirofilariose canina no concelho de Setúbal
(Gomes, 2002).
Atualmente, a equipa de helmintologia do IHMT
está a realizar estudos epidemiológicos sobre
Dirofilaria
spp. emPortugal, especificamente para
determinar a sua prevalência em cães e vetores e,
assim, determinar a sua dinâmica de transmissão, e
fazer a sua caracterização molecular. A equipa
também está a iniciar estudos de prevalência e
distribuição de filaríase linfática em Moçambique
e Angola, incluindo estudos moleculares para
determinação de diversidade genética e presença de
marcadores de resistência a anti-helmínticos. Estes
estudos deverão contribuir para prever e avaliar o
sucesso de campanhas de controlo.
Geohelmintas
Na atual crescente e efetiva globalização, a
movimentação de populações e a situação
geográfica de Portugal continental têm ocasionado
que diversas helmintoses figurem entre as doenças
de importação detetadas com mais frequência em
Portugal (Azevedo, 1976; Raposo
et al.
, 1981). O
seu correto diagnóstico é fundamental para
instituição de terapêutica e de medidas de controlo
adequadas. Dentro deste grande grupo, estão
inseridos os geohelmintas, ou seja, parasitas que,
para completarem o seu ciclo de vida, necessitam
obrigatoriamente de passar pelo solo. De entre
estes destacam-se, como tendo maior importância
na saúde humana,
Ascaris lumbricoides
,
Trichuris
trichiura
e os ancilostomideos (
Ancylostoma
duodenale
e
Necator americanus
), cuja aquisição
resulta do contacto com solos ou alimentos
contaminados por ovos destes parasitas.
Embora ocorram casos no mundo desenvolvido,
as infeções mais graves ocorremnas áreas tropicais
e subtropicais, onde as condições ambientais e
socioeconómicas das populações são mais
favoráveis à sua transmissão. A ausência ou
insuficiência de condições de saneamento básico,
inadequadas práticas de higiene pessoal e
doméstica e condições ambientais propícias, são os
principais fatores responsáveis pela transmissão
destes parasitas (WHO, 2012). A sua incidência e
prevalência atingem números bastante elevados.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
3,5 mil milhões de pessoas estão infetadas com
parasitas intestinais, geohelmintas na sua maioria,
e 450 milhões com patologia grave sendo, na sua
maioria, crianças. Anualmente, ocorrem cerca de
60000 a 65000 mortes provocadas por infeções de
ascarídeos e ancilostomídeos, respetivamente.
Infeções múltiplas com diferentes espécies de
helmintas são comuns e levam facilmente a
deficiências nutritivas, o que compromete não só o
desenvolvimento
físico
e
intelectual,
principalmente em crianças, como também
induzem maior vulnerabilidade a outros agentes
infeciosos, contribuindo para o aumento da taxa de
mortalidade infantil (Pullan e Brooker, 2008).
Assim,
sendo
causadores
de
doenças
negligenciadas, que atingem, em particular, as
populações mais marginalizadas, a redução da
morbilidade provocada pelos geohelmintas é uma
das metas de saúde infantil definidas nos Objetivos
do Milénio.
Em Portugal, os trabalhos realizados nesta área
através de inquéritos a crianças em idade escolar,
têm tido, como objetivo principal, chamar a
atenção para as parasitoses transmitidas por
geohelmintas e as suas repercussões sobre as
crianças.
No início do século XX, o Professor José
Firmino
Sant’Anna,
um
investigador
multifacetado, foi dos primeiros investigadores
Portugueses a publicar sobre helmintologia, na
então Escola de Medicina Tropical, em 1909.
Contudo, é apenas em 1913 que surge, nos
“Arquivos de Higiene e Patologia Exóticas”, um
estudo sobre geohelmintas, especificamente sobre
ancilostomídeos (“anquilostomíase”) em São
Tomé, por Bruto da Costa. Os ancilostomídeos
foram, desde então, um dos principais temas de
pesquisa no IHMT, com várias publicações de
estudos feitos em Portugal e nas então províncias
ultramarinas. Esta particular atenção aos
ancilostomídeos levou a estudos específicos sobre
os efeitos daqueles parasitas no hospedeiro humano
como, por exemplo, sobre a citoquímica
leucocitária
na
ancilostomíase,
estudos
nutricionais, e até mesmo “tolerância” a estes
parasitas, principalmente na década de 1950.
Em certas regiões, com condições climáticas
favoráveis, a prevalência de ancilostomídeos em
Portugal chegou a ser bastante alta. Um estudo
realizado no distrito de Coimbra encontrou uma
prevalência de ancilostomídeos (
Ancylostoma
duodenale
), em humanos, superior a 60%
(Azevedo
et al
., 1948). Contudo, a prevalência dos
geohelmintas diminuiu significativamente em
Portugal continental, até que, nos últimos anos,
pesquisas em solos e em crianças em idade escolar,
onde as geohelmintoses tendem a ser mais
prevalentes, revelaramque estes parasitas têmuma
expressão quase nula ou, pelo menos, muito baixa,
mesmo em algumas regiões rurais (Peraboa, 2002;