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Em termos de saúde, constata-se existir uma associação entre a não
realização de consultas de revisão do parto e as chances superiores de
pertencer a um grupo socioeconómico mais pobre. Haverá aqui lugar a um
cuidado acrescido em termos de organização de cuidados de saúde para que
estas mulheres, com vulnerabilidades de vária ordem, sejam devidamente
acompanhadas, orientadas, apoiadas para a realização deste tipo de consultas,
envolvendo uma sensibilização para “gostar de si própria”, de valorização
individual, mesmo depois do nascimento dos filhos.
As redes de sociabilidade são distintas consoante a posição que a mulher
ocupa em termos de gradiente social, sendo que a posição é mais vulnerável
para as mulheres muito pobres e pobres, quer em situação de doença, quer em
situação de apoio para os filhos e ainda em termos de privação material existe
um efeito em termos de diluição das sociabilidades para grupos já tão
fragilizados a outros níveis.
Ao descrever, analisar e caracterizar os gradientes de pobreza e privação
múltipla entre os grupos de mulheres em estudo posso concluir que existem
aspectos diferenciadores das mulheres pobres relativamente às mulheres não
pobres. Mas elas manifestam sobretudo características que as aproximam das
mulheres muito pobres. Ou seja, este grupo de pessoas está particularmente
envolta numa multiplicidade de riscos sociais, uma vez que são mulheres que
têm filhos, trabalham, têm redes de sociabilidade enfraquecidas e não podem
contar com a ajuda do Estado em termos de medidas de apoio social, não
sendo elegíveis, por exemplo, para o RSI. Urge rever as condições de
atribuição de medidas, não necessariamente com a configuração actual, mas
que tenham em atenção este conjunto populacional. A actividade sexual
começa muito cedo nas vidas das jovens, independentemente da proveniência
socioeconómica, pelo que esse é um aspecto que, penso, deverá continuar a
ser considerado em termos de saúde sexual e reprodutiva por parte das
diferentes entidades no que se refere à educação e promoção para a saúde.
As questões relacionadas com a incapacidade para comportar custos de saúde
- deixar de comprar medicamentos, sobretudo, para as próprias mulheres, não
poder pagar consultas em médicos especialistas e dentistas - revelam-se
sérias, na medida em que fazem emergir as diferenças em termos de grupos
socioeconómicos, constituindo-se como um factor associado com as
iniquidades em saúde ainda existentes em Portugal. Como é sabido pelos
estudos realizados, estas são também causas de pobreza. Assim, esta é uma
das áreas a merecer actuação prioritária no sentido de contribuir para que
caminhemos para uma sociedade com mais equidade.
A existência de diferenças na acessibilidade e no acesso geográfico e
económico, marcada pelas diferenças em termos de gradientes sociais, deixa
em aberto a necessidade de actuar no sentido de que o sistema de saúde
tenha políticas de promoção da equidade, nomeadamente a equidade de
acesso económico, na investigação desenvolvida sobre “sistemas de saúde”.
Parece que fica evidente a necessidade de monitorizar quais as interacções
entre as políticas, de saúde e sociais, e a variabilidade nas desigualdades
sociais ao longo do tempo, ou seja, a importância de monitorizar os efeitos das
políticas nos grupos vulneráveis. Só avaliando poderemos saber se as medidas
devem continuar com conteúdo e formas de implementação actuais ou se, pelo
contrário, deverão acontecer mudanças nas medidas de apoio para melhorar
as condições sociais e de saúde das populações.