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COSTA, João Borges (2009) Infecções sexualmente transmissíveis

em adolescentes prevalência e associação com factores sócio

demográficos, Dissertação de Doutoramento no ramo de Ciências

Biomédicas, especialidade de Microbiologia. IHMT. Lisboa.

As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são um problema crescente de

saúde pública mundial, com maior incidência em adultos jovens e

adolescentes. Estas infecções, apesar da morbilidade e mortalidade associada,

são frequentemente negligenciadas ou abordadas apenas na prevenção da

infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH).

Portugal é o país da Europa ocidental com a maior prevalência de infecção

pelo VIH e o segundo na incidência de gravidez na adolescência. O sistema de

notificação português de doenças sexualmente transmissíveis é clínico,

predominando a subnotificação e a não recolha de informação que permita

interpretar tendências epidemiológicas ou rastrear grupos específicos.

O estudo efectuado teve como objectivos a averiguação da prevalência de IST,

pesquisa das associações entre estas e factores sócio-demográficos ou

morbilidade materno-fetal e estudar a adesão dos parceiros ao tratamento, em

403 adolescentes, grávidas e não grávidas, observadas nos dois maiores

centros de ginecologia-obstétricia de Lisboa, entre 2005 a 2007. A pesquisa de

Chlamydia trachomatis

e de

Neisseria gonorrhoeae

foi efectuada por reacção

em cadeia da polimerase (PCR) em urinas e exsudados cervicais e a recolha

de variáveis sócio-demográficas obtida por inquérito preenchido por profissional

de saúde. Posteriormente, pesquisou-se também nos processos clínicos

disponíveis dos recém-nascidos das adolescentes grávidas a existência de

morbilidade materno-fetal.

A infecção por

C.

trachomatis

foi diagnosticada em 10,4% das adolescentes e

por

N. gonorrhoeae

em 4,2%, com 1,2% de coinfecção. Estas infecções foram

assintomáticas, respectivamente em 60 e 53% das adolescentes. Os

exsudados cervicais, apesar de uma boa concordância com as urinas, tiveram

maior número de resultados positivos para estas duas bactérias.

A tricomonose foi diagnosticada em 1% das adolescentes, a hepatite B em

igual percentagem e não se diagnosticou infecções pelo VIH, hepatite C ou

sífilis.

A prevalência de

C. trachomatis

e de

N. gonorrhoeae

na população estudada

está de acordo com as prevalências descritas em adolescentes de outros

países. Estas percentagens, sobretudo as de

C.

trachomatis

, justificam o

rastreio destas IST nesta faixa etária, conforme defendido por várias entidades

europeias e internacionais.

As urinas, pela sua maior facilidade de obtenção são habitualmente utilizadas

para rastreio, mas poderão ter mais resultados falsos negativos por inibição da

técnica de PCR, sobretudo em grávidas, como se observou no nosso estudo. A

colheita do exsudado cervical tem maior sensibilidade e a sua realização é

também uma oportunidade para a pesquisa de outras IST e esclarecimento de

dúvidas das adolescentes.

No estudo de associações significativas destas infecções com variáveis sócio-

-demográficas salientou-se a associação entre a infecção por

C.

trachomatis

e

a maior idade dos parceiros, o que pode explicar a prevalência elevada de IST

observada em adolescentes com início recente da actividade sexual e média

de apenas um parceiro no último ano.

As adolescentes grávidas tiveram significativamente menor escolaridade

obtida, menor uso regular do preservativo, maior desemprego e exclusão do