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Os resultados vêm mostrar a importância atribuída ao sexo do médico e a

vergonha envolvida na utilização dos cuidados de saúde materna, cujas

consequências se revelaram impeditivas de realização das consultas pós-parto.

Vários estudos já apontaram o desconforto durante o encontro biomédico nos

cuidados pré-natais resultando de uma incapacidade da mulher para lidar com

certas características do profissional de saúde, que podem incluir idade, género

e linguagem (cfr. nomeadamente, Whiteford e Szelag, 2000). Um outro aspecto

em que há diferenças entre grupos socioeconómicos nos resultados do estudo

de caso-controlo, e que vem ser ainda mais aprofundado através do estudo

qualitativo, está relacionado com os apoios recebidos quando os filhos nascem

e quando existe uma situação de doença. As mais pobres encontram-se numa

posição de vulnerabilidade acrescida, porque não podem colmatar a falta de

apoios, por exemplo com amas para tomar conta dos filhos, como é admitido,

por exemplo, por uma mulher de etnia cigana. Mas emerge uma semelhança

entre as mulheres dos diferentes grupos socioeconómicos, quando reivindicam

a necessidade de existir mais apoio, nomeadamente uma rede de creches.

Os profissionais (saúde e social) demonstram nas suas representações as

influências do modelo biomédico de saúde. Quanto às mulheres, consoante o

seu contexto cultural, elas tendem a integrar num “modelo próprio” a sua

relação com os cuidados de saúde, especificamente com os cuidados pré-

natais. Modelo esse que não exclui o uso dos serviços biomédicos durante a

gravidez, o que acontece é que as mulheres conservam as suas crenças e

algumas práticas tradicionais em face de novas. Deixando em aberto a

possibilidade de negociação e transmissão de conhecimentos por parte dos

profissionais de saúde, processo facilitado com existência de diálogo e abertura

dos profissionais de saúde para as especificidades culturais (cfr. outros

estudos, nomeadamente, Atkinson e Farias, 1995; Whiteford e Szelag, 2000).

Os profissionais atribuem ao “pobre” uma característica-tipo: o imediatismo.

Este condiciona a actuação dos indivíduos “pobres” nas práticas de

planeamento familiar e nas formas de utilização de cuidados de saúde

reprodutiva. Por exemplo, para os profissionais de saúde e técnicos de serviço

social a utilização correcta da contracepção dependerá do nível educacional da

mulher.

Mas não se comprova tal facto nos estudos, havendo mesmo indício de uma

certa transversalidade nas “falhas” de utilização, por exemplo da pílula. Através

do estudo de caso-controlo comprova-se que a pílula era o contraceptivo mais

usado no momento em que as mulheres engravidaram do último filho, sendo

que aparentemente algo terá falhado (dosagem, esquecimento, toma

simultânea de antibiótico), não existindo diferenças entre os grupos

socioeconómicos.

A análise reflecte a existência de representações nem sempre coincidentes

entre mulheres e profissionais de saúde, no que diz respeito à maternidade, à

gravidez e à fecundidade, mas também às necessidades e formas de utilização

dos cuidados de saúde reprodutiva (saúde materna e planeamento familiar).

Chama-se a atenção para a importância dos decisores terem estes factos em

atenção de forma a adequar as políticas de saúde às expectativas e

percepções de necessidade por parte das populações vulneráveis, procurando

atingir o objectivo de utilização adequada de cuidados de saúde reprodutiva e,

em última análise, promover a equidade em saúde.

Conclusões Gerais

Esta investigação insere-se numa lógica de perceber as características

associadas no continuum de pobreza, procurando-se os factores que explicam

a posição relativa dos grupos nesse mesmo continuum.