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ferência aqueles referentes ao período de implementação dos
cursos vinculados ao Teias, totalizando oito informantes. Os
informantes-chave, total de sete, foram selecionados conforme
critério de importância na gestão institucional do ensino, cursos
que mais possuem trabalhos voltados ao território e orientado-
res mais envolvidos com o território de Manguinhos, seja por
tempo de experiência, produtividade, orientação, participação
em grupo de pesquisa de maior proeminência na instituição, en-
tre outros aspetos.
Ao tomar como base a referência daTeoria doAtor Rede (TAR),
conforme apresentado anteriormente, para a análise do pre-
sente estudo, foram definidas as seguintes categorias de análise
baseadas no estudo de Figueiró
et al
, 2011: rede sociotécnica
(atores/atuantes), atores interessados, interações e consequên-
cias.Ascategorias possibilitaram uma análise mais detalhada dos
dados coletados por meio do levantamento documental e das
entrevistas. Importante apenas assinalar que os interesses dos
atores e interações foram tratados como permeando e ou mate-
rializando as pontes ou possibilitando as consequências.
Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo,
com a realização de leituras sucessivas, buscando identificar os
temas previstos nas categorias de análise inicialmente formula-
das, bem como padrões emergentes, num processo de codifi-
cação aberta (Bardin, 2011; Minayo, 2006). Inicia-se com uma
análise prévia para a apreciação da qualidade do material e a or-
denação dos dados.Verificou-se, em seguida, se as informações
eram suficientes para interpretação sobre os aspetos importan-
tes, considerando os objetivos da avaliação. Por fim, a análise
final do material, procurando aprofundar as articulações esta-
belecidas entre os dados e os referenciais teóricos da pesquisa,
respondendo às questões com base nos seus objetivos.
3.
Resultados
A partir do levantamento realizado dos trabalhos dos cursos de
pós-graduação no período de 2004 a 2013 a respeito do territó-
rio de Manguinhos foram localizados 49 trabalhos, 37 orienta-
dores e 71 alunos.Todos os orientadores são vinculados à Escola
Nacional de Saúde Pública, alguns com vínculo com outra insti-
tuição de pesquisa e ensino e associados a 129 linhas de pesquisa,
conforme informações do Currículo Lattes.
Grande parte dos trabalhos é oriunda dos cursos de pós-gradua-
ção
stricto sensu
(88%), sendo que desse conjunto 46% trata-se
do Mestrado Académico em Saúde Pública, que é o curso mais
antigo da ENSP e concentra todas as linhas de pesquisa supra-
citadas. Importante mencionar a diferença da distribuição da
oferta de vagas no mestrado académico que é bem superior a
qualquer outra modalidade de formação.
Considera-se que no período estudado, mudanças e novas con-
figurações no contexto da Escola estabeleceram diferentes rela-
ções entre cursos, docentes, pesquisadores, gestores e suas insti-
tuições, que interferiram diretamente na relação do ensino com
o território – período este coordenado pelo mesmo diretor e
equipa por dois mandatos.Ainda que a Escola possua um histó-
rico de intervenções nas condições de saúde em Manguinhos,
nesse período um fator diferencial na relação estabelecida entre
a instituição e o território foi o contrato formalizado entre a
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e a ENSP, com
o objetivo de ampliar a esfera da Atenção Básica em Saúde con-
forme os pressupostos do SUS, em consonância com iniciativas
a nível federal e no âmbito da própria Fiocruz.
Tais mudanças possibilitaram a criação de uma rede de ensino
e de pesquisa voltada para as necessidades de Manguinhos, de
novos cursos e a reformulação de outros, assim como, a reali-
zação de pesquisas aplicadas ao território. Ainda nesse período
constatou-se que consideráveis iniciativas no campo do ensino e
da pesquisa foram realizadas para o fortalecimento desse propó-
sito, em especial no que se refere ao aperfeiçoamento dos ser-
viços de saúde. No entanto, apesar de praticamente desde sua
origem o CSEGSF ter como área de abrangência o território de
Manguinhos, muitos ainda eram os desafios da atenção básica
nesse território a serem superados.
O curso de residência em saúde da família mostrou ser a mo-
dalidade de formação da ENSP com maior aproximação com o
território, pois trata-se de formação teórica e inserção na rede
de atenção à saúde, que tem ênfase na atenção primária em saú-
de, ainda que com menor capilaridade na difusão do conheci-
mento produzido.
“As áreas mais estudadas, os complexos de favelas mais estudados do Rio
de Janeiro, são Manguinhos e Maré. Mas isso não interfere em nada na
vida na Maré e em Manguinhos. Eu acho isso impressionante, como é
desgarrado uma coisa da outra? Então é assim,todo ano nós fazemos pelo
menos cinco trabalhos pequenos (TCC) mas bons,sobre a atenção do PSF
aqui, em todo Rio de Janeiro, seja em Manguinhos, seja no Alemão,mas
isso não é publicável numa revista boa,porque refere-se ao SUS,refere-se
a uma particularidade (...).(
Professor 1
)
Poucos são os trabalhos desenvolvidos que conseguem ser for-
malmente divulgados, publicados em revistas científicas por
tratarem de objetos tidos como restritos e particulares. Nes-
se ponto percebe-se não só a dificuldade de certos docentes/
orientadores lidarem com objetos de investigação do serviço
que orientam para um tipo de pesquisa operacional como tam-
bém para a produção de produtos que subsidiem a gestão de
curto a médio prazo.
Um fator importante a respeito do modo de construção do co-
nhecimento na formação da residência, que se vincula à pro-
dução coletiva do conhecimento, trata-se de, nas palavras de
um interlocutor,
“considerar importante o senso comum do morador”
,
como alguém que detém um conhecimento importante sobre
o local e que qualquer pesquisa deve dialogar saberes e práti-
cas entre moradores, pesquisadores e profissionais de saúde.Tal
perspetiva sustenta-se no intuito de formar o sanitarista como
profissional sensível à escuta das demandas e necessidades da
população em prol da melhoria dos serviços e da qualidade de
vida.
“A gente vai dizer que tanto o usuário tem o conhecimento daquele ter-
ritório quanto o profissional. Ninguém é dono desse saber, que precisa
Gestão, meta-avaliação e redes de conhecimento