S50
pecializados deVIH/IST, mais de 20 peritos científicos das áreas
de Epidemiologia, Saúde Pública e Ciências Sociais e mais de 50
membros das comunidades de HSH eTS.
Como estratégia de envolvimento de todos os parceiros nas ati-
vidades do projeto constituíram-se dois Conselhos Consultivos
da Sociedade Civil, das comunidades de Homens que têm Sexo
com Homens e deTrabalhadores do Sexo, que contaram com a
participação de elementos das comunidades envolvidas e de or-
ganizações que intervêm nos contextos mais marginalizados nos
quais se inserem estas populações. Para validação e monitoriza-
ção do projeto também se constituiu uma Comissão Científica
composta por vários especialistas, nomeadamente académicos
nas áreas da Epidemiologia, Saúde Pública e Ciências Sociais,
peritos de diversas instituições e organizações comunitárias.
De forma global, a participação dos Conselhos Consultivos e
da Comissão Científica em reuniões em momentos-chave ao
longo do projeto proporcionaram oportunidades para apresen-
tar e discutir resultados, validar procedimentos, monitorizar e
avaliar as diferentes etapas do projeto e debater sobre os passos
seguintes.
Como já mencionado, um dos principais pressupostos ineren-
tes a este projeto foi a adoção de uma abordagem colaborativa/
participativa e orientada para a ação, com o papel ativo dos par-
ceiros no projeto desde a sua conceptualização e implementa-
ção, até à interpretação, disseminação e tradução dos resultados.
Neste contexto foi necessária uma gestão das diferentes com-
petências, graus de compromisso, interesses e motivações dos
parceiros.A integração dos diversos
stakeholders
no projeto levou
a que atuassem como parceiros e como negociadores entre os
objetivos do projeto e os seus próprios objetivos. Durante todo
o processo foi crucial manter ativa a parceria, o que implicou
ajustamentos ao longo do projeto, requereu tempo, diálogo, re-
cursos e aumentou a carga de trabalho. Para tal, diversas aborda-
gens e processos foram utilizados, nomeadamente a realização
de
workshops
, grupos focais e reuniões com a parceria, os conse-
lhos consultivos e a comissão científica.
No âmbito da parceria houve uma constante reflexão crítica so-
bre que necessidades, em termos de produção e translação do
conhecimento, eram prioritárias e relevantes para os parceiros,
bem como que oportunidades neste processo não deveriam ser
perdidas. De facto, de forma global, o processo participativo foi
determinante para tornar o contexto e seus atores mais favorá-
veis e abertos ao projeto, bem como promover a consciencia-
lização das comunidades sobre a importância da produção de
conhecimento útil para a melhoria da sua saúde. O processo de-
senvolvido contribuiu para promover uma relação de confiança
e uma base de objetivos comuns com os parceiros. Foi também
possível aumentar a relevância das principais questões de saúde
e identificar novas questões, permitindo obter ummaior conhe-
cimento que traduz as necessidades das comunidades. Adicio-
nalmente, o processo participativo foi determinante para forta-
lecer o sentido de domínio, regulação e co-responsabilidade do
processo através de decisões partilhadas.
No entanto, no decorrer do projeto também surgiram alguns
desafios que tiveram de ser superados. Um dos desafios para
os investigadores foi alguma reticência inicial das comunidades
em se envolverem num projeto de investigação, decorrente de
experiências anteriores negativas de investigação e “utilização”
das comunidades, sem garantir um retorno e benefícios para as
mesmas.Outro desafio prendeu-se com as preconceções em re-
lação aos parceiros, aos temas em foco, aos grupos abrangidos.
Outro desafio vivenciado foi a inexperiência dos intervenien-
tes para trabalhar em projetos de investigação participativa, por
exemplo, ao nível da partilha de poder e da expectativa de par-
ticipação mais passiva e orientada (
top-down
) de alguns parceiros
comunitários. Outros constrangimentos prenderam-se com a
incapacidade de flexibilização na gestão dos recursos financei-
ros e nos procedimentos burocráticos exigidos no contexto de
instituições governamentais. Assim, todo o processo de desen-
volvimento do projeto exigiu adaptação de todos os parceiros a
um novo sistema de trabalho colaborativo, além de mais tempo
e diálogo.
Processo de investigação
participativa com base na comunidade
Na componente de investigação do projeto adotou-se a abor-
dagem de investigação participativa baseada na comunidade,
descrita na literatura como uma abordagem colaborativa que
envolve de forma equitativa os atores interessados e afetados
pela problemática do VIH no processo de produção de co-
nhecimento [4,13]. Assim, estabelecida a parceria do projeto,
dinamizaram-se discussões aprofundadas entre os parceiros, os
Conselhos Consultivos e a Comissão Científica através da reali-
zação regular de
workshops
, reuniões e seminários. Nestes mo-
mentos, os principais
stakeholders
e os investigadores trabalharam
em conjunto para definir os objetivos do projeto, alcançar um
consenso abrangente acerca do seu foco e limites e estabelecer
as questões de investigação. Esta fase foi importante para deba-
ter, repensar e redefinir aspetos que fundamentavam o projeto,
como as definições de “risco” e de “comunidade HSH/TS”, e
também para incorporar questões de saúde percebidas pelas
comunidades como prioritárias mas que não haviam sido equa-
cionadas inicialmente pelos investigadores. Estas discussões fo-
ram também importantes no debate sobre a metodologia mais
apropriada às populações e seus contextos de forma a alcançar
subgrupos “escondidos”, garantindo simultaneamente o rigor
científico. Outras questões abordadas em parceria foram as
questões éticas associadas ao estudo de populações vulneráveis.
O envolvimento dos parceiros de forma participativa foi tam-
bém importante para rever e adequar as abordagens e instru-
mentos à linguagem e cultura. De forma assegurar o envolvi-
mento de parceiros comunitários na recolha de dados e garantir
a qualidade e rigor científico deste processo foi feito um impor-
tante investimento no treino dos entrevistadores. Desenvolve-
ram-se sessões de treino dinâmicas e participativas que consisti-
ram na apresentação dos objetivos do estudo, do instrumento,
Gestão, meta-avaliação e redes de conhecimento