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S48

Translação do conhecimento

na investigação participativa em Saúde

Um desafio da investigação em saúde pública tem sido pro-

mover a utilização do conhecimento científico produzido em

estratégias de ação e políticas de saúde mais eficazes, adequa-

das e que, consequentemente, se traduzam em efetivos gan-

hos em saúde. O conceito de “translação do conhecimento”

consiste na síntese, intercâmbio e aplicação do conhecimento

por

stakeholders

relevantes a fim de acelerar os benefícios de

inovações globais e locais no fortalecimento dos sistemas de

saúde e na melhoria da saúde das pessoas [1]. A translação do

conhecimento assume cada vez mais uma importância críti-

ca para a investigação em saúde, já que é reconhecido que a

criação de novos conhecimentos muitas vezes, por si só, não

leva à sua aplicação ou a impactos efetivos sobre a saúde das

populações [2]. Na verdade existem vários aspetos críticos na

tradução de resultados da investigação em boas práticas [3].

Estes incluem, entre outros, a discrepância entre as necessi-

dades de conhecimento identificadas pelas comunidades e o

trabalho desenvolvido pelos investigadores durante o processo

de “investigação” e o hiato entre o conhecimento produzido e

a sua incorporação em boas práticas e políticas em saúde [3].

Assiste-se assim ao crescente interesse na investigação sobre os

mecanismos subjacentes à translação do conhecimento, pro-

curando potenciar e maximizar os resultados deste processo.

O envolvimento ativo dos vários sectores da sociedade tem

sido determinante para garantir a produção de um conheci-

mento útil e que vá ao encontro das necessidades reais, bem

como a sua aplicação na solução de problemas, em especial

no contexto das populações vulneráveis. Deste modo, a ado-

ção de abordagens participativas e intersectoriais encerra

em si um potencial de promoção da participação comunitá-

ria e do

empowerment

individual e comunitário, e de redução

das disparidades em saúde [4,5].

No contexto da investigação participativa, a translação do

conhecimento é uma prática inovadora e multifacetada que

permite trocas multidireccionais de conhecimentos, com-

petências e recursos, e co-produção de conhecimento entre

académicos, representantes das comunidades, profissionais e

decisores políticos [6]. Adicionalmente, a translação do co-

nhecimento permite o desenvolvimento de conhecimento e

compreensão compartilhados entre universos inicialmente

estranhos entre si mas que, por sua vez, se vão reconfiguran-

do gradualmente através das suas interações [7]. O carácter

de inovação desta abordagem reside no estabelecimento de

conexões ou alianças que se formam a partir dos interesses e

capacidades dos atores individuais. Durante a formação des-

sas conexões, as relações entre atores vão sendo definidas e

negociadas e, por isso, a rede e as suas ligações são dinâmi-

cas, fluidas e inconstantes [8].

Progressivamente tem-se assistido ao crescimento do inte-

resse na translação do conhecimento, sendo consensual a

necessidade de mais evidência sobre o seu processo de im-

plementação e como diferentes estratégias influenciam os

resultados obtidos e o seu impacto [9,10].Tal conhecimento

permitirá reforçar o quadro teórico e a compreensão da uti-

lidade, potencialidades e limitações do processo de transla-

ção do conhecimento nos diferentes projetos, contextos e

populações. É ainda importante um maior conhecimento do

impacto do processo de translação do conhecimento no

em-

powerment

e capacitação dos diferentes intervenientes e na

promoção do seu papel enquanto agentes de mudança, maxi-

mizando de forma mais global os resultados em saúde.

O objetivo deste artigo é refletir sobre como potenciar a

produção e translação de conhecimento na investigação par-

ticipativa, tendo como base a experiência de um projeto na

área doVIH/Sida.

PREVIH:

Um projeto de investigação e intervenção

com abordagem participativa

O projeto

PREVIH:VIH/sida nos grupos de Homens que têm Sexo com

Homens (HSH) eTrabalhadores do Sexo (TS): Prevalência,Determinan-

tes, Intervenções e Acesso aos Serviços de Saúde

teve como objetivo

contribuir para promover a saúde sexual, reduzir a transmissão

da infeção peloVIH e melhorar o acesso aos cuidados de saúde

dos HSH eTS em Portugal, bem como promover o

empowerment

das comunidades e capacitá-las para o

advocacy

em promoção da

saúde. Este projeto propôs-se a produzir evidência científica que

sustentasse o desenvolvimento de intervenções para atender às

necessidades identificadas, bem como a promover a capacitação

dos vários intervenientes na promoção da saúde sexual.

O PREVIH surgiu de uma estreita colaboração entre uma

instituição académica, IHMT, e o GAT, uma organização não

governamental de base comunitária que trabalha na área do

VIH/Sida, que desde logo trabalharam em parceria no planea-

mento e submissão do projeto para financiamento. O projeto

adotou uma abordagem multissectorial e participativa envol-

vendo parceiros de diferentes sectores da sociedade e atores

interessados ​e afetados pela problemática do VIH para gerar

conhecimento e implementar iniciativas que poderiam aten-

der às necessidades identificadas. O projeto teve a duração de

4 anos (2009-2013) e decorreu em várias zonas do país.

O PREVIH integrou duas principais componentes de atuação:

a primeira componente, mais ligada à investigação, consistiu

num diagnóstico e análise de necessidades para avaliar as ques-

tões de saúde e identificar os fatores e processos que influen-

ciam a saúde sexual e a vulnerabilidade das populações estu-

dadas. Para tal desenvolveu-se uma pesquisa formativa para

analisar necessidades, viabilidade e aceitação das atividades de

investigação e intervenção. Posteriormente desenvolveram-se

estudos com cada uma das populações (HSH eTS) em que se

pretendia caracterizar conhecimentos, atitudes e práticas rela-

cionadas com oVIH, obter informação sobre a infeção nestas

populações, conhecer os fatores comportamentais e sociais as-

Gestão, meta-avaliação e redes de conhecimento