Table of Contents Table of Contents
Previous Page  36 / 118 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 36 / 118 Next Page
Page Background

S36

1. As redes de investigação

e a translação do conhecimento

Há uma variedade de redes, de atividade industrial (ou

clus-

ters

), redes sociais ou humanas, não-governamentais e redes

de pesquisa. Estas últimas referem-se a uma estrutura orga-

nizacional em que as pessoas ou instituições e outras entida-

des interagem (Cressman

et al

2009a). Dentro da rede, os

membros estabelecem interligações múltiplas (formais e/

ou informais) num ambiente com diversas possibilidades de

atividades interrelacionadas, quer existam ou não financia-

mentos associados (Cressman

et al

2009b).

No que se refere à geografia da ciência, esta enfrenta uma

mudança fundamental. Em todas as regiões do globo emer-

gem redes de colaboração de pesquisa, que estão num pro-

cesso de expansão (Adams 2012).

Estas estruturas de intercâmbio incluem tanto as organiza-

ções como os indivíduos e são favorecedoras da construção

de relacionamentos, da partilha de tarefas e da cooperação

mútua na resolução de problemas de interesse comum, for-

talecendo a capacidade de fazer pesquisa (IDRC 2006).

A compreensão desta estrutura complexa de atividades mul-

tifacetadas é crucial para o desenvolvimento de um quadro

de avaliação (Cressman

et al

2009a), cujos resultados permi-

tirão que as instituições aumentem a sua capacidade de im-

plementar a pesquisa, de coordenar parcerias e comunicar

os resultados, de fazer a gestão e distribuição de recursos,

permitindo-lhes melhorar o desempenho e fazer a transla-

ção do conhecimento, tendo em vista o aumento da sua no-

toriedade (IDRC 2006).

Inovação

Existe evidência de que as redes desempenham um papel im-

portante em termos de inovação, considerada aliás uma das

principais razões para que as redes de investigação tenham

surgido (Freeman 1991; Robertson

et al

2011). Particular-

mente nos sectores onde o conhecimento se está a desenvol-

ver de forma rápida, como é o caso da saúde, é sabido que

uma intensa atividade de redes inter-organizacionais pode

promover a inovação, embora seja referida uma falta de estu-

dos que integrem simultaneamente a dimensão longitudinal e

a componente de avaliação (Scarbrough

et al

2014).

Novos conhecimentos e a importância

da sua translação

O sucesso das redes de investigação está ligado à produção

de novos conhecimentos e à sua translação para os utilizado-

res, aqueles que podem usar os resultados da investigação,

nomeadamente para apoiar a tomada de decisões políticas,

os programas de saúde e as práticas nos serviços de saúde.

Na nossa análise prévia da evolução da produção do conhe-

cimento sobre desigualdades na saúde é reconhecida a im-

portância de desenvolver estratégias de conhecimento ade-

quado, quer para Portugal quer para o Brasil (Craveiro

et

al

2015). Em vez disso, há uma lacuna em termos de meca-

nismos de translação dos conhecimentos das pesquisas para

a tomada de decisões políticas, nomeadamente na área das

determinantes sociais da saúde e a interligação com as polí-

ticas de formação e distribuição equitativa dos profissionais

de saúde.

Isto significa que a produção de novos conhecimentos sem

aplicabilidade na prática não tem impacto sobre a saúde

(CIHR, 2012). Mas a translação do conhecimento não é sim-

plesmente o reconhecimento de novas informações, implica

a adoção de conhecimento prático e mudança de comporta-

mento (Roy

et al

2003).

A translação de conhecimentos diz respeito ao ponto de en-

contro entre dois processos fundamentalmente diferentes:

investigação e ação (Bennett and Jessani, 2011). E signifi-

ca mais do que disseminação de resultados, na medida em

que a translação de conhecimento é um processo dinâmico

e interativo que exige a participação ativa de pesquisadores

e de utilizadores da investigação (CIRH). Existe uma multi-

plicidade de outros termos que têm sido usados para referir

estes mesmos processos:

implementation science

, utilização de

investigação, comunicação, difusão de inovações, educação

continuada, desenvolvimento profissional contínuo, gestão

do conhecimento, etc. Na verdade, trata-se de uma área vas-

tíssima, sendo reportada a utilização de cerca de 90 termos

(Bennett and Jessani, 2011).

Uma das questões essenciais prende-se com saber porque

devemos apostar na pesquisa dos processos de translação do

conhecimento. As razões são variadas, mas resumimos as se-

guintes: cerca de um terço dos pacientes não recebem tra-

tamentos de eficácia comprovada; um quarto dos pacientes

recebe o cuidado que não é necessário ou é potencialmente

prejudicial; até três quartos dos pacientes não recebem a in-

formação de que necessitam para a tomada de decisão; até

metade dos médicos não obtém evidência necessária para a

tomada de decisão. Ou seja, como nos lembram Berghman

e Potvin (2005) é bem conhecido o “know-do gap” entre o

conhecimento científico e a sua translação para a melhoria da

qualidade de vida das populações.

2. Princípios da translação

do conhecimento

A translação do conhecimento apresenta um conjunto de ca-

racterísticas principais, que resumimos de seguida: a) envol-

ve todas as etapas da produção de novos conhecimentos e/

ou produtos, serviços e ferramentas benéficos para o público;

b) precisa de comunicação multidireccional; c) é “circular”, na

medida em que o fim conduz ao início; d) é um processo ite-

rativo; e) é interdisciplinar e pressupõe uma colaboração en-

tre todas as partes envolvidas; f) pode envolver prestadores de

cuidados de saúde, o público em geral, o governo, ONG’s, o

sector voluntário e o sector privado; g) inclui muitas ativida-

Gestão, meta-avaliação e redes de conhecimento