Table of Contents Table of Contents
Previous Page  96 / 108 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 96 / 108 Next Page
Page Background

S94

Artigo Original

através de questionários de avaliação e observações, mas tam-

bém analisando as perceções dos novos gestores e responsáveis

clínicos sobre os benefícios decorrentes da sua participação

em atividades de fortalecimento de capacidades, entre 2008 e

2010. A primeira seção descreve o perfil da população-alvo e

o programa, chamado PACES (Lapão e Dussault, 2011), que

foi projetado para prepará-los para as suas funções de gestão.

3.2. A estratégia

A implementação de uma reforma organizacional é, por

definição, a passagem do modo de fazer as coisas para ou-

tro, e é um processo multidimensional em que as capa-

cidades para efetuar a mudança são necessários a vários

níveis (Braithwaite, 2008; Dickson, 2009). A mais óbvia

é a de indivíduos que podem precisar de dominar novas

competências na forma de conhecimento, mas também ha-

bilidades e atitudes. Os líderes formais podem ser os pri-

meiros agentes de mudança, mas também podem fazê-lo

falhar se não tiverem as competências certas ou práticas.

Outros pontos são a estrutura organizacional e o ambien-

te institucional, políticas de apoio, regras, normas, pro-

cessos e sistemas de incentivos são necessários para ajudar

e motivar pessoas para alcançar os objetivos da reforma,

tanto quanto infra-estruturas e outras ferramentas e recur-

sos (de financiamento, informações,

pessoal, etc.). O desafio está em pro-

jetar e implementar o tipo certo de

estratégias que irão criar o ambiente

que pode apoiar uma mudança efe-

tiva. Como alguns autores colocam,

"todo sistema humano - um país ou

setor ou rede ou grupo ou indivíduo

- tem dentro de si o potencial para

desenvolver a sua própria capacidade"

(Baser e Morgan, 2008). O desenvol-

vimento de capacidades é o "processo de desbloqueio ou

indução dessas capacidades". De salientar que a estratégia

que o Ministério da Saúde de Portugal adotou para a re-

forma incluiu o fortalecimento da capacidade dos futuros

gestores dos ACES, que implicou uma colaboração com as

Universidades.

3.3. Processo de reforma

O Relatório Mundial de Saúde (WHO, 2008) argumenta

que a APS é uma estratégia adequada para melhorar acesso

aos cuidados de saúde e, ao mesmo tempo, para resolver

os problemas de aumento de custos de serviços e expec-

tativas dos utentes. O fortalecimento da APS pressupõe

novas atividades e funções a serem desenvolvidas a fim de

alcançar os objetivos organizacionais, tais como o forne-

cimento de acesso equitativo a serviços, garantindo a sua

eficácia, produzindo-os de forma eficiente para satisfazer

as necessidades e as expectativas da população. Por sua vez,

isto requer que capacidades adequadas a vários níveis. A

capacidade pode ser vista como a capacidade de uma or-

ganização para desenvolver e implementar estratégias para

alcançar as suas metas.

Em Portugal, a reforma consistiu, principalmente, no de-

senvolvimento de um novo modelo de gestão e de governa-

ção clínica na perspetiva de melhorar o acesso aos serviços

de APS, para reduzir a utilização inadequada de serviços

hospitalares e de emergência, para obter ganhos de efi-

ciência e melhor controlo de custos. O objetivo final era

assegurar que todos os residentes em Portugal estariam

registrados com um médico de medicina familiar, numa

unidade de saúde familiar (USF) (Lapão, 2008). A "refor-

ma" começou em 2005, num contexto político e económi-

co favorável e foi promovido por um governo de maioria

(os anteriores tinham sido principalmente governos de co-

ligação). O principal desafio eram um défice de médicos

especialistas em medicina familiar e a implementação de

novas estruturas organizacionais. As ideias base da reforma

estavam em linha com as tendências europeias e em con-

tinuidade com as medidas tomadas nos últimos 30 anos: a

criação da especialidade de Medicina Geral e Familiar, a

promoção da prática de grupo e do trabalho em equipa,

a introdução do pagamento adicional, como um incenti-

vo para executar serviços específicos

(por exemplo, a imunização ou um

programa de controlo da diabetes)

e de capitação parcial para comple-

mentar taxa de serviço, o desenvol-

vimento de serviços ao domicílio e o

reforço do papel de ponto de entrada

para a APS (Bodenheimer et al, 2002;

Macinko et al, 2003; Grumbach, Bo-

denheimer 2004; OMS, 2008). Uma

área em que a reforma portuguesa tem

avançado pouco é a da expansão dos papéis dos enfermei-

ros e outros profissionais a quem os médicos poderiam de-

legar algumas das suas funções tradicionais (Buchan et al.,

2012).

As primeiras políticas para organizar os serviços de APS fo-

ram aprovadas em 1962, com vista a enfrentar uma taxa de

mortalidade infantil bastante alta (77,5 ‰) (INE, 2001),

que consistiu principalmente num programa de vacinação e

no desenvolvimento de serviços materno-infantis em todas

as regiões do país, com o apoio da Igreja Católica, por meio

das suas Santas Casas da Misericórdia. Com o surgimento

do regime democrático, em 1974, um dos objetivos de-

clarados dos novos dirigentes era a criação de um Serviço

Nacional de Saúde, com base no modelo britânico, o que

aconteceu em 1979. Em 1982, a especialidade do médico

de família foi criada e no ano seguinte, a implementação

de uma segunda geração de centros de saúde foi lançado,

com os novos especialistas (Pisco, 2008). Em 1985, a Asso-

Opinião

Brasil:as mais de 40 mil equipes de Saúde da Famí-

lia atuam também no combate ao Aedes aegipty*