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S98

Artigo Original

- Centros de Saúde de Achada de Santo António, Tira-

-Chapeu, Achadinha, Achada Grande Trás e Ponta de

Água, na cidade da Praia;

- Centros de Saúde de Tarrafal de Santiago, Boavista, Maio

e Mosteiros; Postos Sanitários de Telhal e Chão Bom. Mais

tarde construi-se a Delegacia de Saúde de SãoVicente.

Foram ainda remodelados os Centros de Saúde de Paúl

(Santo Antão), de Santa Cruz e de Cova Figueira.

Quando aos recursos humanos, apesar da persistente ca-

rência, nos últimos anos tem sido feita uma aposta para

renovar e adquirir novas áreas, como é por exemplo o novo

serviço de diálise, integrado no Hospital Agostinho Neto.

Mas os CS necessitam de mais médicos e enfermeiros qua-

lificados, bem como de outros especialistas, como sejam

técnicos de higiene e epidemiologia, técnicos de gestão

de informação para ajudar nas estatísticas. Os CS possuem

uma equipa de saúde chefiada por um médico e dispõem

duma rede de extensões (ou postos sanitários) para estar

mais próximos das populações. As estruturas físicas são

heterogéneas (Cabo Vede, 2014). Nos CS urbanos (CSU),

perto de instituições hospitalares, regionais ou centrais, a

função de internamento não se justifica. O critério de po-

pulação servida não deve ser o único considerado, dadas as

heterogeneidades entre as várias ilhas: existem 8 CS com

menos que 10 000 hab., 7 entre 10 000 e 20 000 e 2 acima

de 20 000 hab. (CaboVerde, 2014).

Os objetivos de prestação de serviços dos CS são (Cabo

Verde): garantir um acesso facilitado a, pelo menos, 70%

da população servida, a 30 minutos de distância do local de

residência; pelo menos 90 % dessa população deverá estar

até uma hora de distância (68% a menos de 30 minutos e

14% a mais de 1 hora), tendo em atenção os aspetos liga-

dos ao acesso (estradas, custos de deslocação, etc.). Estes

devem ter urgências por períodos entre 12 a 24 horas todos

os dias. A lista de serviços prestados varia de CS para CS

mas inclui, além das consultas e do internamento, visitas

itinerantes programadas às zonas mais distantes e receção

de especialistas vindos dos hospitais; vigilância à saúde in-

dividual (mulher, criança, saúde mental, saúde oral, saúde

ocupacional, profilaxia das doenças evitáveis, promoção de

hábitos e estilos de vida saudáveis, algum apoio ao nível

da ação médico-social integrada, garantia de evacuação

referenciada de doentes cuja situação clínica ultrapassa a

capacidade técnica instalada no CS (hoje apoiada por tele-

medicina), exames complementares de diagnóstico de aná-

lises clínicas (num laboratório ou posto laboratorial para

recolha das amostras e entrega dos resultados); Radiologia

para tórax e ossos; Ecografia; etc. (CaboVerde, 2005).

Claramente os CSP em Cabo Verde estão num processo

evolutivo e de amadurecimento, com a entrada de médi-

cos mais familiarizados com as doenças crónicas e com a

relação de referenciação com os hospitais vem trazendo

maior consciência dos desafios. Mas ainda há muito para

fazer. Com a criação do curso de medicina procurar-se-á

ter acesso a mais profissionais qualificados e conhecedo-

res destes desafios. Mais cedo ou mais tarde a questão da

carreira de medicina geral e familiar e das equipas multi-

-disciplinares virá a colocar-se.

5. Discussão

As experiências dos três diferentes países de língua por-

tuguesa mostram, com clareza, que é necessário existir

uma correlação de forças favorável à implementação de re-

formas e mudanças de paradigma, em que se incluem um

componente político, um componente técnico e um forte

componente de formação, em que estejam presentes tanto

a dimensão da conscientização e adesão a uma proposta de

mudança, quanto aquela relacionada ao reconhecimento de

lideranças capazes de disseminar o processo.

Ao contrário de Portugal, que teve o cuidado de contem-

plar todos os elementos necessários para que uma reforma

pudesse ocorrer, o Brasil não se preocupou inicialmente

com a formação de médicos de família, embora tivesse fei-

to uma clara opção pela estratégia de saúde da família como

modelo de organização da APS. Assim, os ganhos obtidos,

embora significativos, situam-se aquém do necessário e tra-

duzem certa frustração com respeito às ambições iniciais.

Pela mesma forma, a questão da suficiência do financia-

mento público da saúde foi negligenciada, cabendo hoje

assistir ao paradoxo de ter-se no Brasil um nível de gastos

privados em saúde superior ao dos gastos públicos, mes-

mo na vigência de um sistema público universal que existe

como decorrência de um direito constitucionalmente ga-

rantido. Para agravar ainda mais tal aberração, o governo

prática renúncia fiscal importante, ao permitir que gastos

com o subsistema privado possam ser deduzidos do im-

posto de renda anual pago pelos cidadãos, o que priva o

sistema público de recursos financeiros que nele deveriam

ser investidos.

Um fator que merece destaque, no caso brasileiro, onde a

extensão territorial, o volume da população e as disparida-

des regionais configuram cenários diferentes, com realida-

des particulares, foi a escolha da municipalização da saúde,

como expressão de uma radical descentralização. Os cuida-

dos que compõem a APS estão a cargo dos municípios, que

tiveram que se estruturar ao longo da década de 1990 para

fazer face a suas novas responsabilidades na área da saúde.

Isso permitiu um contacto mais estreito com a população

e possibilitou um reconhecimento mais fidedigno de suas

necessidades e aspirações, o que contribuiu para a melhoria

dos indicadores de saúde e, de certa forma, com a noção

nova da saúde como um direito do cidadão e um dever do

Estado.

Opinião