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S99

Plano Estratégico de Cooperação em Saúde na CPLP

O caso de CaboVerde, país cujas políticas de saúde se des-

tacam no contexto africano, tendo sido dos poucos que

conseguiu atingir os objetivos do milénio, é muito inte-

ressante. Apesar das limitações, Cabo Verde tem desenvol-

vido uma política sustentada com esforços sistemáticos de

reforço das infraestruturas, de mais recursos humanos e

do relacionamento entre níveis de serviços. De salientar

ainda a forma como vem tentando introduzir a telemedi-

cina como forma de melhorar o acesso a serviços de maior

qualidade. Mas ainda há muito por fazer, desde o desen-

volvimento dos sistemas de informação até à dignificação

da carreira de medicina da família, tornando estes profis-

sionais o centro de uma equipa multi-disciplinar (com os

enfermeiros e os outros técnicos) no acompanhamento da

saúde das populações, das crianças, jovens e grávidas, aos

idosos e as suas doenças crónicas.

Portugal é um exemplo como a única forma de manter

uma reforma viva é continuar com reformas que dinami-

zem quer a qualidade clínica da medicina da família, quer

a gestão de recursos profissional para garantir um acesso

universal sustentável. Mas também aqui existem desafios,

hoje que se têm 50% da população servida por Unidades

de Saúde Familiar, num processo voluntário desde 2007. O

que terá de fazer para que a outra metade também possa

beneficiar de um sistema mais organizado? E como promo-

ver mais o trabalho multidisciplinar que consiga motivar

mais os doentes a assumir maior responsabilidade na ges-

tão da sua saúde? Estas e outras questões carecem de uma

análise profunda do que se fez mas também da investigação

que decorre nas Universidades e sobretudo de uma partici-

pação mais ativa das populações.

6. Conclusão

As três experiências evidenciam o esforço da sociedade e dos

governos em considerar a saúde como um direito de cida-

dania, embora com peculiaridades inerentes a cada uma das

realidades distintas. Além disso, tanto Portugal quanto Brasil

e CaboVerde priorizaram o fortalecimento da APS como es-

tratégia capaz de aumentar acesso e reduzir desigualdades em

saúde, cada qual à sua maneira, mas com resultados encoraja-

dores embora persistam desafios importantes a serem supera-

dos. Não restam dúvidas, entretanto, que os ganhos em saúde

e os dispêndios a eles relacionados apresentam uma relação

custo-benefício bastante satisfatória, o que vai ao encontro do

já demonstrado pela literatura quanto aos benefícios reais al-

cançados pelas sociedades e sistemas de saúde que tomaram a

decisão estratégica de ter uma APS forte e bem estruturada.

Além de contribuir objetivamente para a melhoria das con-

dições de saúde, os sistemas de saúde ancorados numa APS

robusta expressam a realização do desejo social de que a saúde

esteja, realmente, ao alcance de todos, independentemente de

suas posses ou classes sociais, por tratar-se de um direito e não

de uma mercadoria.

Mas alguns desafios ainda persistem, quer a busca de maior

qualidade com a utilização de tecnologias de informação (e.g.

telemedicina), quer pela participação mais séria das popula-

ções na gestão das suas doenças, e já agora com uma dimensão

de promoção da saúde.A resposta a estes desafios necessita de

um maior envolvimento da sociedade e das instituições aca-

démicas, quer de um ponto de vista avaliativo e promotor de

boas políticas, mas sobretudo como motor da inovação que a

APS necessita, e vai continuar a necessitar.

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