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S103

Plano Estratégico de Cooperação em Saúde na CPLP

Em quinto lugar, é um livro que dá um espaço importante aos

recursos humanos, porque certamente a maior carência em

África diz respeito à escassez de pessoal qualificado e identi-

ficam o problema da migração dos países pobres para os ri-

cos, mas também nos dizem que em matéria de delegação e

partilha de tarefas dos profissionais a África está na dianteira

mundial e não esquecem o papel central das enfermeiras e dos

terapeutas tradicionais.

Em sexto lugar, é um livro que nos fala das tecnologias de in-

formação e comunicação, como é o caso dos agentes de saúde

comunitária no Ruanda que têm um telemóvel para enviarem

os relatórios via SMS, bem como para chamar as ambulâncias,

pedir conselhos, ou para alertar as autoridades para possíveis

surtos de doença. Mas também para a formação dos profissio-

nais de saúde, para a marcação de consultas, para a transmissão

de resultados e averiguação de fármacos contrafeitos através

da leitura de códigos de barra.

Em sétimo lugar, é um livro que nos fala dos sistemas de fi-

nanciamento, das estratégias para diminuir os pagamentos

directos – o

out of pocket

representa mais de 40% da despesa

total em saúde em 45% dos países avaliados – e está na base

do avanço lento da cobertura universal, e dá-nos o exemplo

do Ruanda, que criou um sistema de seguro de saúde de base

comunitária, pagando os doentes 10% dos custos directos no

local de atendimento, assegurando o Governo o pagamento do

prémio e da comparticipação dos pobres. Diz a autora,Agnes

Binagwaho, ministra da saúde de um país que há 20 anos foi

destruído durante o genocídio dos tutsi, que foi a primeira vez

que a população pagou para ter acesso aos serviços de saúde

sem estar doente.

É um livro que apresenta conclusões práticas e sábias:

a. Desde logo “A Saúde Começa em Casa” e tem um bom

exemplo nesta frase de Francis Omaswa, enquanto director

geral dos serviços de saúde do Uganda, gravada no ano 2000

e reproduzida nas estações de rádio, várias vezes por dia, a

nível nacional, até 2005: “A saúde começa em casa, só sendo

necessário recorrer às unidades de saúde quando esta não re-

sultar. Mantenham uma boa higiene, alimentem-se bem e não

partilhem a casa com animais”.

b. Uma outra conclusão sobre sistemas de saúde, tem um es-

pecial enfoque nos recursos humanos e diz nos que sem en-

fermeiros não se pode falar sobre sistemas de saúde em África

e que a forma como a África subsariana rentabiliza os profis-

sionais de saúde é, em certos aspectos, a melhor do mundo

e dá-nos pistas sobre as acções necessárias para se conseguir

uma transferência de tarefas eficaz e sobre as que conduzem

ao fracasso.

c. Depois, é urgente que os governos, as organizações da

sociedade civil e as organizações internacionais promovam a

inclusão da cobertura universal dos cuidados de saúde como

um elemento importante da agenda internacional para o de-

senvolvimento.Muitos países africanos já definiram um pacote

de serviços mínimo, básico ou essencial, cuja prioridade é atri-

buída a partir do peso da doença a nível nacional. Em alguns

casos disponíveis para segmentos específicos da população em

primeira instância, depois alargado quer no seu âmbito quer

a outros segmentos da população. Mas a defesa da cobertura

universal tem de incluir a qualidade. Por vezes, os serviços

têm um nível de qualidade tão reduzido que só são procurados

pelos mais desesperados.

d. África detém as melhores hipóteses de melhorar os índices

de saúde com os recursos do país e das comunidades, se for

atribuída prioridade ao nível dos agregados e das comunida-

des.A administração local deve ser o ponto de partida para im-

por o cumprimento das regulamentações locais relativas à saú-

de, desde a água potável, a segurança alimentar, até ao registo

de nascimentos e de óbitos. Quando Francis Omaswa cresceu

no Uganda, na época colonial, o chefe local era o responsável

por estas questões. Hoje, o mesmo acontece com o governo

local, constituindo os cuidados básicos de saúde os principais

componentes das suas funções de administrador. Hoje existe

em toda a África um maior número de esquemas de saúde

comunitária e esta experiencia africana é seguida com atenção

na zona norte do mundo.

Sobre o futuro, o que nos dizem os autores:

Em primeiro lugar, os africanos têm de reconhecer que os

problemas e as soluções são da sua principal responsabilidade.

Trata-se de criar sociedades democráticas e governos que fun-

cionem melhor.

Em segundo lugar, África tem de manter níveis elevados de

crescimento económico. Para isso, são necessários governos

sólidos, responsabilização, liberdade de expressão e associa-

ção, capacidades humanas e institucionais, estradas, políticas

sociais de inclusão, legislação tributária justa.

Em terceiro lugar, África tem de recolher dividendos demo-

gráficos, investindo na juventude.A educação de qualidade é a

resposta necessária e o ponto de partida.

Em quarto lugar, África tem de aproveitar a oportunidade

proporcionada pelas tecnologias de informação e comunica-

ção para alargar rapidamente o âmbito dos serviços e o seu

acesso a indivíduos e comunidades.

Ainda sobre o futuro, uma nota final com uma citação de

Francis Omaswa que há 30 anos escreveu: “ A minha mulher

e eu tomámos a decisão ousada de ir trabalhar num hospi-

tal missionário num local remoto, no distrito de Ngora, no

Uganda, saindo do hospital universitário de Nairobi, onde tí-

nhamos passado três anos como especialistas bem sucedidos

na área da anestesiologia e cirurgia cardiotorácica. O Ugan-

da vivia os piores momentos da sua história. Era normal que

as coisas não funcionassem e os habitantes locais riam-se en-

quanto perguntavam: “Estamos no Uganda, o que se pode

esperar? Apenas o melhor”.