Table of Contents Table of Contents
Previous Page  92 / 108 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 92 / 108 Next Page
Page Background

S90

Artigo Original

1. Cuidados de Saúde Primários

e o acesso universal à saúde

O Relatório Mundial da Saúde de 2008 propôs que os ser-

viços de cuidados de saúde primários (ou atenção primária à

saúde, APS) bem organizados são necessários "agora mais do

que nunca" (OMS, 2008). Estes serviços deAPS funcionariam

como uma estratégia adequada para melhorar o acesso aos cui-

dados de saúde e, ao mesmo tempo, para resolver os proble-

mas de aumento de custos e as expectativas de qualidade dos

utilizadores. Barbara Starfield foi provavelmente a primeira a

ter mostrado o valor dos cuidados primários através do es-

tudo, evidenciando o lado positivo de seu impacto sobre os

resultados de saúde (Starfield, 1998).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) está muito compro-

metida com a APS e este relatório de 2008 celebra e reco-

nhece sua importância, trinta anos depois da Assembleia da

OMS realizada em Alma-Ata, em 1978, dedicada a reforçar

a necessidade de acesso integrado e universal aos cuidados

de saúde.

A APS pode ser definida como na Declaração de Alma-Ata

Assembleia (WHO, 1978). Os serviços de APS apresen-

tam variações significativas em toda a Europa, tal como de-

monstrado por um recente projeto da Comissão Europeia

Euprimecare, em 2012, embora a maioria deles partilhe

(Starfield, 2002) características identificadoras de uma APS

(Lapão, 2014):

- Para ser a entrada principal para os serviços de saúde;

- A continuidade dos cuidados (ou seja, longitudinalidade): o

paciente mantém o vínculo com o serviço de saúde ao longo

do tempo;

- Integralidade: como o primeiro nível de cuidados de saúde

deve ser responsável por todos os problemas de saúde do pa-

ciente. Mesmo que parte deles tenha que ser resolvida através

de referência para um nível secundário ou terciário, o serviço

de cuidados de saúde primários deve sempre ter co-respon-

sabilidade.

- Coordenação do cuidado: mesmo que uma parte significativa

dos serviços de saúde são fornecidos em outros níveis de cui-

dados de saúde, a APS deve sempre ter o papel de organizar,

coordenar e integrar essas atividades assistenciais.

Estas características, embora procurando melhores resulta-

dos com menos custos, representam um conjunto de desafios

muito difíceis. A pretensão de ter serviços de APS mais orga-

nizados, os gestores mais qualificados e profissionais de saú-

de, maior nível de integração com os cuidados secundários,

incluindo integrado e sistemas de informação interoperáveis,

são cada um deles um desafio de grandes proporções e com-

plexidade. O principal objetivo da APS é, de facto, apoiar as

condições para uma "melhor saúde para toda a população".

Neste contexto, a OMS identificou cinco principais elemen-

tos necessários para alcançar este objetivo (OMS, 2008; Lapão

2014):

- Reduzir a exclusão e as desigualdades sociais em saúde (isto

é, introduzir reformas que permitam uma cobertura verda-

deiramente universal);

- Promover a organização de serviços de saúde de acordo com

as necessidades (avaliado) de saúde e as expectativas das pes-

soas (ou seja, prestação de reformas que promovam uma orga-

nização adequada de serviços);

- Efetivar a integração dos cuidados de saúde em todas as polí-

ticas (ou seja, políticas públicas e reformas);

- Buscar oportunidades de diálogo sobre políticas e modelos

de colaboração (ou seja, proporcionar oportunidades para

envolver todos os atores, permitindo que lideranças possam

emergir, etc.); e,

- Aumentar a participação dos diversos intervenientes (isto é,

mais responsabilidade a cada um dos atores que se encontram

no interior do sistema de saúde).

A este respeito, a abordagem da APS poderia representar um

meio para desenvolver uma estratégia de longo prazo orienta-

da para cobrir as necessidades de saúde da população, exigindo

um compromisso dos governos e outros jogadores para orga-

nizar os serviços de saúde, de modo a corretamente respon-

der a essas exigências (Starfield, 2007). Em geral, e de acordo

com Starfield (2007; 2011), os países com sistemas de saúde

orientados para a APS têm normalmente melhores resultados

de saúde (ex: menos crianças com baixo peso ao nascer; maior

expectativa de vida, em quase todas as faixas etárias; menor

mortalidade geral, menos mortalidade por doenças cardía-

cas);

A reforma daAPS centra a sua atenção no desenvolvimento de

ferramentas para melhorar a qualidade e reduzir custos. No

Reino Unido e em outros países, a maioria dos médicos de clí-

nica geral (GP) já estão sob um contrato-programa (Campbell

et al, 2007; Reischauer et al, 2003). O Observatório Europeu

da Saúde recomendou a adoção de estruturas organizacionais

mais flexíveis para lidar com o aumento da complexidade das

organizações de saúde e seus ambientes, isto é, uma perspetiva

mais ampla é necessária para incluir o controle clínico e qua-

lidade.Trisolini (2004) demonstrou potencial para permitir a

melhoria da qualidade e custo, mas assegura que não é um

processo fácil. No Canadá, Portugal e Reino Unido, a lideran-

ça tem sido considerada uma questão-chave no contexto da

reforma (Dickson, 2009; Lapão & Dussault, 2011).

Fortalecer a APS pressupõe que as novas atividades e funções

são desenvolvidas para atingir os objetivos da organização, tais

como o fornecimento de acesso equitativo aos serviços, garan-

tindo a sua eficácia, produzi-los de forma eficiente, e atender

às necessidades e expectativas da população (Lapão & Dus-

sault, 2012). Por sua vez, isto requer que a capacidade adequa-

da exista em vários níveis.A capacidade pode ser vista como a

capacidade das organizações para desenvolver e implementar

estratégias a fim de atingir seus objetivos. Ela exige que os ges-

tores e funcionários tenham competências consistentes com

a missão, tenham a adequada informação, apoio de técnicos

financeiros e disponibilidade de recursos humanos, para além

Opinião