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humillación de la bandera? Nada puedo contestarme.Sólo sé que
esto no puede durar,pues absolutamente se impone una solución
[17: 278].
Em sua luta contra o cretinismo e contra as posições assumidas
pelos simpatizantes do positivismo, Bertoni parece ter se insurgi-
do – solitariamente – em defesa da superioridade dos indígenas
Guarani.
Considerações finais
Escritas entre a última década do século XIX e o final da primei-
ra metade do século XX, as obras dos leigos Arata e Bertoni e
dos religiosos Leonhardt e Furlong constituem-se em referên-
cia para a discussão sobre a efetiva contribuição da Companhia
de Jesus para o pensamento científico nos países de colonização
ibérica.
SeArata e Bertoni tiverammotivações distintas para questionar a
originalidade do pensamento e da prática científica dos missioná-
rios jesuítas, Leonhardt e Furlong reconstituíram e justificaram
de forma diversa a atuação da ordem na América platina, atri-
buindo também diferentes razões para que padres e irmãos se
dedicassem às ciências como a medicina e a botânica.
Enquanto Arata e Leonhardt registraram sua convicção de que
os jesuítas não atuaram como homens de ciência, mas primor-
dialmente como missionários que, por estarem empenhados
no atendimento espiritual e na prática da caridade, realizaram
experimentos com plantas medicinais, Bertoni e Furlong se dis-
tanciam significativamente em suas posições acerca do papel de-
sempenhado pela Companhia de Jesus para a cultura científica
platina.
O botânico suíço, apesar de reconhecer o papel desempenhado
por alguns irmãos e padres jesuítas [comdestaque paraMontene-
gro e Asperger], creditará os avanços médicos e botânicos que a
ordem viria a aplicar e divulgar através de receituários e
matérias
médicas
, essencialmente, aos indígenas [guaranis] e ao conheci-
mento já sistematizado por médicos e naturalistas europeus. Já
Furlong, empenhado em contestar a tese de uma “infecunda Es-
colástica”, procurou evidenciar a influência que os jesuítas exer-
ceramno desenvolvimento das ciências e da filosofia, associando-
-os à difusão do pensamento científico ilustrado e à renovação do
cenário intelectual do século XVIII naAmérica platina.
Se, por um lado, Leonhardt e Furlong convergem em suas po-
sições, ao defenderem que a experimentação com plantas me-
dicinais e a produção científica jesuítica estiveram a serviço do
projeto religioso da Companhia de Jesus, por outro, as posições
assumidas por Furlong parecem confirmar certa reorientação
da prática historiográfica da ordem jesuítica ao final da primeira
metade do século XX. Suplantando a visão da “profunda vocação
missionária”, as obras de Furlong apresentam a Companhia de
Jesus como fundamental para o estudo e a compreensão da histó-
ria e da cultura do período colonial americano, não somente por
ter desenvolvido “um projeto científico próprio”,
18
mas por ter
contribuído significativamente para os estudos das humanidades
e das cências realizados nos séculos seguintes.
Como se pode constatar, as posições assumidas por Arata, Ber-
toni, Leonhardt e Furlong na última década do século XIX e na
primeira metade do século XX anteciparam as mais recentes re-
flexões tanto sobre as inovações introduzidas pela ordem jesuíta
no campo da ciência moderna desde o século XVII, quanto sobre
a contribuição que os indígenas – em especial, dos saberes que
possuíam sobre a farmacopéia americana – aportaram para o
conhecimento médico, farmacêutico e botânico que os missio-
nários da Companhia de Jesus fizeram circular nos continentes
em que atuaram.
18 - Este conceito foi retomado por Domingos por Domingos Ledezma e Luis
Millones Figueroa.Ver mais em: Millones Figueroa L, Ledezma D (2005). El sa-
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Medicina tropical e ambiente