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responsável pela pandemia, é ainda subdividido em
nove subtipos (A-D, F-H, J e K), seis sub-subtipos
(A1-A4, F1-F2) e cerca de 50 formas
recombinantes circulantes. Conjuntamente com
estas últimas, os subtipos não-B são responsáveis
por cerca de 90% das infeções, atingindo
prevalências muito elevadas na África subsariana e
na Ásia. Contrariamente, o subtipo B predomina
nas Américas, Europa e Oceânia. Em relação ao
VIH-2, existem oito grupos (A-H), mas o A e o B
são os únicos que originaram epidemias, embora a
uma escala geográfica restrita. O grupo A é o mais
difundido e foi detetado em Cabo Verde, Guiné-
Bissau e Senegal, na sua região endémica.
A recente introdução da terapêutica
antirretroviral combinada no continente africano
permitiu um aumento considerável da esperança de
vida dos indivíduos infetados com o VIH, com
notável diminuição das taxas de morbilidade e
mortalidade. Contudo, o seu acesso ainda é
relativamente restrito na África subsariana e
estima-se que apenas 56% das pessoas infetadas
elegíveis recebam terapêutica antirretroviral
(UNAIDS, 2012). Nos PALOPs, estes valores
variam entre 33%, para Angola, e 48%, para a
Guiné-Bissau. O facto de esta terapêutica ser
dispendiosa, muitas vezes associada a efeitos
secundários que conduzem a falhas de adesão e a
desenvolvimento de variantes virais resistentes e
sua posterior transmissão, constitui uma forte
limitação para o sucesso da sua implementação
nestes países. Apesar disso, estima-se que a
prevalência de
estirpes resistentes
aos
antirretrovirais é comparativamente inferior à dos
países desenvolvidos.
O grupo de Virologia da Unidade de Ensino e
Investigação de Microbiologia Médica tem
realizado estudos diversos que têm contribuído
para desenvolvimento da investigação na área da
epidemiologia molecular e de resistências aos
antirretrovirais na infeção VIH-1 e VIH-2 em
Portugal e nos PALOP’s. Na área da Grande
Lisboa, foi constatada uma elevada diversidade
genética de subtipos de VIH-1 (com maior
prevalência de B e G e das formas recombinantes
CRF02_AGe CRF14_BG), para diferentes regiões
do genoma, sugerindo-se a existência de uma
epidemia geneticamente heterogénea e a ideia de
evolução para um padrão epidemiológico único na
Europa (Esteves
et al.
, 2002; Parreira
et al.
, 2005;
Videira e Castro, 2010). Parreira e colegas
(Parreira
et al
., 2006b) caracterizaram também a
diversidade genética do VIH-1 na Beira, em
Moçambique, observando que a quase totalidade
dos indivíduos estava infetada com vírus do
subtipo C. Anteriormente, Esteves e colegas
(Esteves
et al
., 2000) e Parreira e colegas (Parreira
et al
., 2000)
analisaram a variabilidade genética
dos VIHs emBissau e constataram a circulação dos
tipos 1 e 2, com predominância do subtipo A, para
ambos, facto comprovado por publicações
posteriores. Nesse mesmo ano, a publicação de um
estudo retrospetivo (Piedade
et al.
, 2000), cobrindo
todo o país, permitiu concluir sobre a circulação do
VIH-2 na Guiné-Bissau em 1980 (seroprevalência
de 0,9%), antes ainda da descrição dos primeiros
casos de sida nos EUA.
Relativamente
aos
estudos
sobre
a
suscetibilidade aos antirretrovirais em VIH-1
circulantes na Grande Lisboa, Videira e Castro
(2010)
constataram a presença de 15 mutações
associadas a resistência (perfil genotípico) nas
regiões codificantes da protease (PR), transcriptase
reversa (RT) e integrase (IN), em 50% dos
indivíduos estudados, com uma distribuição de 1-3
mutações/indivíduo. Todavia, apenas quatro dessas
mutações conferiam uma expressão fenotípica de
resistência aos inibidores não-nucleosídicos da RT
(K103N, V106I/M e G190A) e da IN (S147G).
Recentemente, observou-se um número elevado de
polimorfismos genéticos associados a resistência
ao antagonista de CCR5 maraviroc presentes na
ansa V3 (gp120), em indivíduos nunca antes
submetidos a terapêutica antirretroviral (Sousa,
2012). Relativamente ao VIH-2, Parreira e colegas
(Parreira
et al
., 2006a) analisaram sequências da
PR de vírus de indivíduos sem tratamento,
detetando a presença da mutação M46I em 90%
delas. Este polimorfismo, juntamente com outras
substituições identificadas, poderá associar-se a
menor suscetibilidade do VIH-2 aos inibidores da
PR. Foram igualmente analisadas sequências de PR
e RT de VIH-1 circulantes na Beira, sendo descrita
uma única mutação primária (I84V) associada à
resistência aos inibidores da PR (Parreira
et al
.,
2006b). Contrariamente, as mutações acessórias
foram muito frequentes, algumas destas em
combinações favorecendo aquisição de resistência.
Foi ainda observada uma taxa inesperadamente alta
(11,6%) de mutações associadas à resistência de
nível elevado aos inibidores da RT. Os resultados
obtidos sugerem, contudo, circulação não
epidémica de estirpes resistentes e ausência de
vírus multirresistentes.
AGRADECIMENTOS
O trabalho aqui apresentado foi parcialmente
financiado
pela
FCT/MEC
através
de
financiamento plurianual. Agradecemos, ainda, à