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VÍRUS TRANSMITIDOS POR MOSQUITOS

RICARDO MANUEL SOARES PARREIRA (R.PARREIRA)

JOÃO MÁRIO BRÁS PIEDADE (J. PIEDADE)

AIDA MARIA DA CONCEIÇÃO ESTEVES SIMÕES (A. ESTEVES)

Grupo de Virologia, Unidade de Ensino e Investigação de Microbiologia Médica/, Instituto de Higiene e

Medicina Tropical (IHMT), Universidade Nova de Lisboa. Rua da Junqueira, 100, 1349-008 Lisboa,

Portugal. Telefone: 213652600.

E-mail

:

Ricardo@ihmt.unl.pt

(R. Parreira).

Unidade de Parasitologia e Microbiologia Médicas (UPMM) / IHMT

.

A designação “arbovírus” (do inglês

arthropod-

borne virus

) compreende um grupo polifilético de

vírus transmitidos por vetores artrópodes que

exploram diferentes estratégias replicativas. A

grande maioria está distribuída por quatro famílias

de vírus de genoma de ARN: Togaviridae (género

Alphavirus

), Flaviviridae (género

Flavivirus

),

Bunyaviridae (géneros

Nairovirus

,

Phlebovirus

e

Orthobunyavirus

)

e

Reoviridae

(género

Coltivirus

). Estes vírus são, normalmente,

transmitidos ao homem e aos outros animais

durante as refeições sanguíneas dos seus vetores

hematófagos (mosquitos, carraças, flebótomos e

culicóides) persistentemente infetados, nos quais

replicam até atingirem as glândulas salivares.

A grande maioria dos arbovírus conhecidos

mantém-se na natureza em ciclos enzoóticos que

envolvem mamíferos ou aves, sendo a sua

transmissão ao homem acidental e resultante: i) da

incursão humana em ambientes florestais; ii) de

focos epizoóticos associados a períodos em que se

observa aumento considerável das populações de

vetores competentes; iii) da atividade de um vetor,

designado de “ponte”, que aproxima estes vírus do

ambiente peridoméstico. Poucos são os casos

conhecidos em que estes vírus se demarcam da

necessidade de amplificação enzoótica/epizoótica,

restringindo a sua circulação ao homem, que

exploram enquanto hospedeiro e reservatório

natural. Este ciclo de transmissão é característico

de três dos arbovírus com maior impacto na saúde

pública: o vírus da dengue, o vírus Chikungunya e

o vírus da febre-amarela (Weaver e Reisen, 2010).

A maioria das infeções causadas por arbovírus é

assintomática. Quando sintomáticas, manifestam-

se normalmente como síndromes virais com febre

abrupta, associada a mialgias e dor retro-orbital,

artrite e eritema maculopapular, dando origem, nos

casos mais graves, a artrite crónica

incapacitante,

encefalite,

manifestações

hemorrágicas, choque ou mesmo morte.

A circulação de arbovírus assume, por vezes,

características erráticas, registando-se atividade

viral baixa na natureza até que um ou mais fatores

se conjuguem para permitir a sua amplificação e

dispersão. Se, por um lado, as atividades humanas

associadas à agricultura, à pecuária e à exploração

madeireira conduzem à extinção ou alteração de

biótipos, as alterações climáticas que se têm

registado na sequência do designado aquecimento

global

contribuem,

decisivamente,

para

alargamento dos limites geográficos de

distribuição de algumas espécies vetoras. A

aproximação entre vírus e populações humanas é,

frequentemente,

fruto

da

urbanização

expansionista registada emvárias partes do mundo,

a qual permite juntar, em áreas de dimensões

consideráveis, um número elevado de potenciais

hospedeiros vivendo em condições facilitadoras da

proliferação de vetores e, consequentemente, da

transmissão destes vírus. Finalmente, a

movimentação constante e extraordinariamente

rápida, por todo o planeta, de pessoas, animais e

bens de consumo, permite a dispersão de vetores e

vírus por grandes áreas geográficas e a exposição

de indivíduos não imunes à infeção por estes

agentes. São exemplos disto a dispersão mundial

dos quatro serotipos do vírus da dengue,

contribuindo para a sua atual hiperendemicidade

em várias partes do mundo, e do vírus

Chikungunya por diferentes regiões no oceano

Índico, a partir de um foco epidémico inicial,

datado de 2004, que terá afetado a costa oriental da

África. Em 2006, este vírus terá sido responsável

pela infeção de um terço da população da ilha da

Reunião e de, aproximadamente, 6 milhões de

indivíduos na Índia, de onde, acidentalmente, terá

chegado à Europa um ano mais tarde. Aqui, a

entrada, no nordeste de Itália, de um indivíduo com

viremia ativa e a presença de uma população em

expansão de um vetor altamente competente (o

mosquito

Aedes albopictus

) combinaram-se para