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notável aumento de infeções nosocomiais causadas

pelos mesmos fungos emergentes, nos mesmos

grupos de doentes.

Estes agentes etiológicos emergentes geralmente

acabam por ser novas espécies de fungos

filamentosos e leveduras, até agora considerados

não patogénicos e, por isso, muitas vezes ignorados

pela maioria dos laboratórios de diagnóstico. Com

frequência desconcertante, estes “novos fungos”

são descartados como contaminantes antes que seja

realizada avaliação da sua importância médica.

Além desses obstáculos, para um adequado

atendimento ao paciente, existe uma escassez de

clínicos, patologistas e microbiologistas treinados

para diagnosticar doenças fúngicas.

As infeções fúngicas invasivas apresentam, em

geral, quadros clínicos difíceis de reconhecer, uma

vez que os sinais e sintomas são, muitas vezes,

inespecíficos. A EORTC (

European Organisation

for Research and Treatment of Cancer

) eoNIAID

(

National Institute of Allergy and Infectious

Diseases

) definiram que o diagnóstico de infeções

fúngicas invasivas em pacientes com cancro e

transplantes de precursores hematopoiéticos

assenta em três índices: i) fatores predisponentes

no hospedeiro; ii) elementos clínicos e

radiológicos; iii) resultados laboratoriais. Estes

fatores, considerados em conjunto, permitem

classificar estas infeções como comprovadas,

prováveis ou possíveis. Para considerar uma

infeção fúngica como comprovada, é suficiente a

obtenção de um exame direto ou de uma cultura

positiva a partir de um local normalmente estéril,

independentemente da presença de fatores

predisponentes no hospedeiro, fatores clínicos e

radiológicos. Uma infeção é considerada provável

quando existem fatores predisponentes no

hospedeiro, elementos clínicos sugestivos, mas

resultados micológicos positivos não decisivos

como, por exemplo, uma cultura positiva a partir de

um local não estéril.

Uma infeção possível é aquela em que um dos três

elementos não está presente, sejam fatores

predisponentes, clínicos e radiológicos ou

micológicos. É importante ter presente que uma

cultura fúngica positiva a partir uma amostra de um

local não estéril não é suficiente para confirmar

uma infeção por fungos. Combase nas informações

clínicas, deve sempre excluir-se colonização do

local anatómico ou também considerar a

possibilidade de que, durante a colheita da amostra

ou no processamento laboratorial, possa ter

ocorrido contaminação.

Uma ligação estreita entre os clínicos e o

laboratório é muito importante para uma adequada

colheita das amostras, bem como o fornecimento

de informações sucintas e precisas sobre o doente.

O laboratório de micologia deve apoiar o médico

no diagnóstico de infeções fúngicas invasivas,

possuindo técnicas adequadas, rápidas e

confiáveis, contribuindo para início precoce da

terapêutica antifúngica apropriada. O diagnóstico

micológico convencional depende principalmente

de microscopia direta das amostras biológicas e de

cultura do agente etiológico, embora se estejam

desenvolvendo metodologias como a deteção

rápida de antigénio e/ou anticorpos e técnicas de

biologia molecular.

Devido a dificuldades, principalmente do tempo

requerido pelas técnicas micológicas tradicionais,

ao longo das últimas décadas têm sido aplicadas

várias técnicas no domínio da biologia molecular,

com grande potencial na área do diagnóstico

micológico, tanto através da deteção e

identificação do agente causador, como para

avaliação de clonalidade. A amplificação de ácidos

nucleicos por PCR está entre as técnicas mais

comuns, especialmente pela elevada sensibilidade,

rapidez e facilidade de implementação emqualquer

laboratório de diagnóstico. Em relação aos fungos,

tem sido muito utilizado, como alvo, o DNA

ribossómico, e respetivas regiões espaçadoras, em

virtude de apresentar regiões altamente

conservadas alternando com regiões de sequências

hipervariáveis, permitindo identificação das

espécies causadoras de infeção em diferentes

amostras clínicas.

No entanto, para a sua aplicação em rotina, há

necessidade de melhorar numerosos aspetos

técnicos, como a otimização dos métodos de

extração de ADN dos fungos e redução da

potencial contaminação com fungos ambientais

que podem dar origem a falsos positivos. Outro

aspeto a considerar é a eventual excessiva

sensibilidade dos métodos moleculares, a qual,

muitas vezes, torna difícil a interpretação dos

resultados. A descoberta do DNA fúngico em

amostras clínicas nem sempre significa infeção

fúngica, principalmente se estas amostras forem, à

partida, não estéreis (exs.: urina, expetoração e

exsudados). Pode corresponder a uma simples

colonização, contaminação ambiental, ou os

fungos detetados fazerem simplesmente parte da

flora microbiana normal do organismo. Enquanto

os maiores desafios nesta área consistem em

correlacionar os métodos propostos com os casos

de doença invasiva e, acima de tudo, no

desenvolvimento de técnicas padronizadas e

reprodutíveis, o exame laboratorial convencional,

assente na observação direta das amostras clínicas