76
notável aumento de infeções nosocomiais causadas
pelos mesmos fungos emergentes, nos mesmos
grupos de doentes.
Estes agentes etiológicos emergentes geralmente
acabam por ser novas espécies de fungos
filamentosos e leveduras, até agora considerados
não patogénicos e, por isso, muitas vezes ignorados
pela maioria dos laboratórios de diagnóstico. Com
frequência desconcertante, estes “novos fungos”
são descartados como contaminantes antes que seja
realizada avaliação da sua importância médica.
Além desses obstáculos, para um adequado
atendimento ao paciente, existe uma escassez de
clínicos, patologistas e microbiologistas treinados
para diagnosticar doenças fúngicas.
As infeções fúngicas invasivas apresentam, em
geral, quadros clínicos difíceis de reconhecer, uma
vez que os sinais e sintomas são, muitas vezes,
inespecíficos. A EORTC (
European Organisation
for Research and Treatment of Cancer
) eoNIAID
(
National Institute of Allergy and Infectious
Diseases
) definiram que o diagnóstico de infeções
fúngicas invasivas em pacientes com cancro e
transplantes de precursores hematopoiéticos
assenta em três índices: i) fatores predisponentes
no hospedeiro; ii) elementos clínicos e
radiológicos; iii) resultados laboratoriais. Estes
fatores, considerados em conjunto, permitem
classificar estas infeções como comprovadas,
prováveis ou possíveis. Para considerar uma
infeção fúngica como comprovada, é suficiente a
obtenção de um exame direto ou de uma cultura
positiva a partir de um local normalmente estéril,
independentemente da presença de fatores
predisponentes no hospedeiro, fatores clínicos e
radiológicos. Uma infeção é considerada provável
quando existem fatores predisponentes no
hospedeiro, elementos clínicos sugestivos, mas
resultados micológicos positivos não decisivos
como, por exemplo, uma cultura positiva a partir de
um local não estéril.
Uma infeção possível é aquela em que um dos três
elementos não está presente, sejam fatores
predisponentes, clínicos e radiológicos ou
micológicos. É importante ter presente que uma
cultura fúngica positiva a partir uma amostra de um
local não estéril não é suficiente para confirmar
uma infeção por fungos. Combase nas informações
clínicas, deve sempre excluir-se colonização do
local anatómico ou também considerar a
possibilidade de que, durante a colheita da amostra
ou no processamento laboratorial, possa ter
ocorrido contaminação.
Uma ligação estreita entre os clínicos e o
laboratório é muito importante para uma adequada
colheita das amostras, bem como o fornecimento
de informações sucintas e precisas sobre o doente.
O laboratório de micologia deve apoiar o médico
no diagnóstico de infeções fúngicas invasivas,
possuindo técnicas adequadas, rápidas e
confiáveis, contribuindo para início precoce da
terapêutica antifúngica apropriada. O diagnóstico
micológico convencional depende principalmente
de microscopia direta das amostras biológicas e de
cultura do agente etiológico, embora se estejam
desenvolvendo metodologias como a deteção
rápida de antigénio e/ou anticorpos e técnicas de
biologia molecular.
Devido a dificuldades, principalmente do tempo
requerido pelas técnicas micológicas tradicionais,
ao longo das últimas décadas têm sido aplicadas
várias técnicas no domínio da biologia molecular,
com grande potencial na área do diagnóstico
micológico, tanto através da deteção e
identificação do agente causador, como para
avaliação de clonalidade. A amplificação de ácidos
nucleicos por PCR está entre as técnicas mais
comuns, especialmente pela elevada sensibilidade,
rapidez e facilidade de implementação emqualquer
laboratório de diagnóstico. Em relação aos fungos,
tem sido muito utilizado, como alvo, o DNA
ribossómico, e respetivas regiões espaçadoras, em
virtude de apresentar regiões altamente
conservadas alternando com regiões de sequências
hipervariáveis, permitindo identificação das
espécies causadoras de infeção em diferentes
amostras clínicas.
No entanto, para a sua aplicação em rotina, há
necessidade de melhorar numerosos aspetos
técnicos, como a otimização dos métodos de
extração de ADN dos fungos e redução da
potencial contaminação com fungos ambientais
que podem dar origem a falsos positivos. Outro
aspeto a considerar é a eventual excessiva
sensibilidade dos métodos moleculares, a qual,
muitas vezes, torna difícil a interpretação dos
resultados. A descoberta do DNA fúngico em
amostras clínicas nem sempre significa infeção
fúngica, principalmente se estas amostras forem, à
partida, não estéreis (exs.: urina, expetoração e
exsudados). Pode corresponder a uma simples
colonização, contaminação ambiental, ou os
fungos detetados fazerem simplesmente parte da
flora microbiana normal do organismo. Enquanto
os maiores desafios nesta área consistem em
correlacionar os métodos propostos com os casos
de doença invasiva e, acima de tudo, no
desenvolvimento de técnicas padronizadas e
reprodutíveis, o exame laboratorial convencional,
assente na observação direta das amostras clínicas