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AS INFEÇÕES CAUSADAS POR FUNGOS E A IMPORTÂNCIA DO SEU DIAGNÓSTICO
LABORATORIAL
MARIA DA LUZMARTINS (M.L. MARTINS) *
/
**
ANA PAULA MADURO (A.P. MADURO) *
/
**
JOÃO JOSÉ INÁCIO SILVA (J. INÁCIO) ***
* Laboratório de Micologia, Unidade de Microbiologia Médica, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade
Nova de Lisboa. Rua da Junqueira 100, 1349-008 Lisboa, Portugal.
:
luz@ihmt.unl.pt(M.L. Martins). Telefone:
21 3652600;
** Centro de Recursos Microbiológicos (CREM) / Universidade Nova de Lisboa.
*** Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.).
Desde a sua fundação, têm sido estudadas, no
IHMT, as infeções humanas causadas por fungos.
A Micologia Médica, inicialmente integrada na 5ª
Cadeira
(Dermatologia,
Venereologia
e
Micologia), desde sempre se tem dedicado à
pesquisa de novos métodos de diagnóstico das
infeções fúngicas humanas, especialmente as
invasivas e as de origem tropical, sua
epidemiologia e tratamento.
As micoses estão entre as doenças infeciosas mais
ubíquas que atingem a humanidade. Na sua
diversidade de manifestações – superficiais,
subcutâneas e sistémicas – ocorrem em todos os
continentes e em todas as regiões climáticas.
Afetam todos os estratos da sociedade e todas as
faixas etárias, atingindo até fetos no ventre
materno. Não é de admirar que as micoses
constituam um problema de saúde pública
significativo mas, infelizmente, muitas vezes
subestimado e negligenciado. O desafio resulta não
só do grande número de vítimas estimado, mas
também das dificuldades inerentes à rapidez e
especificidade do diagnóstico da maior parte das
micoses. A falta de especificidade da
sintomatologia e dos sinais clínicos faz com que
mimetizem outras doenças microbianas, bem como
neoplasias. Estas caraterísticas podem atrasar, ou
até mesmo impedir, diagnóstico e tratamento
específicos.
Os países tropicais têm grande parte das doenças
fúngicas que ocorrem em todo o mundo. As suas
condições climáticas, económicas e sociais
influenciam significativamente a prevalência e
incidência de micoses. Os fungos patogénicos, tais
como a maioria dos fungos filamentosos e
leveduras, crescemmelhor em ambientes quentes e
húmidos e onde a matéria orgânica é abundante. As
micoses adquiridas através de incidentes
traumáticos são mais frequentes em regiões onde é
usada pouca roupa por causa do calor e da
humidade. A pobreza também desempenha um
papel importante, pois pessoas subnutridas têm
menor resistência a infeções. A falta generalizada
de assistência médica adequada permite que as
infeções fúngicas, uma vez adquiridas, se
desenvolvam e disseminem inabalavelmente e
cheguem a tornar-se ameaças à vida ou levem a
estados incapacitantes.
O impacto relativo das micoses em relação a outras
doenças infeciosas é difícil, se não impossível, para
que seja documentado com precisão razoável. A
OMS e os vários ministérios da saúde teriam que
designar micoses como doenças de notificação
obrigatória para que os dados sobre a sua
incidência e prevalência passem a estar
disponíveis. Somente através da publicação de
casos e de relatórios pode haver uma ideia da
magnitude do problema de saúde pública que elas
representam (Cunha
et al.
, 2012; Vieira
et al.
,
2009). O problema estatístico tem sido comparado
a um icebergue, onde a porção visível representa
apenas uma pequena fração do volume submerso.
As infeções fúngicas invasivas são cada vez mais
frequentes em todo o mundo, mesmo nos países
mais desenvolvidos, afetando especialmente
indivíduos
com
vários
graus
de
imunocomprometimento devido, por exemplo, à
infeção por VIH ou a neoplasias hematológicas.
Além disso, podem ocorrer secundariamente a
tratamentos mais agressivos como cirurgias,
terapêutica
antirretroviral,
quimioterapia,
transplante de precursores hematopoiéticos e
tratamentos com antimicrobianos de largo espetro.
Estes tratamentos, que têm, como objetivo, a
sobrevivência do paciente em relação à sua doença
subjacente, tornam-no, por sua vez, suscetível a
infeções por agentes oportunistas. Paralelamente,
temos testemunhado, nestes últimos anos, um