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INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA: QUE PAPEL PARA A SAÚDE

CARLOS J. N. MARTINS

Membro do Conselho Consultivo do IHMT; Assessor do Ministro da Saúde.

E-mail

:

carlosmartinspessoal@gmail.com

.

Em primeiro lugar, quero agradecer o convite do

Senhor Diretor do Instituto de Higiene e Medicina

Tropical, Professor Paulo Ferrinho, para partilhar

convosco uma reflexão sobre o papel da saúde na

internacionalização da nossa economia, no âmbito

das comemorações dos 110 anos desta prestigiada

instituição, que foi, é e será uma referência

nacional e internacional.

Permitam-me que as primeiras palavras sejam

para o Instituto de Higiene e Medicina Tropical,

para reconhecer o relevante serviço prestado ao

país e à cooperação externa desde 1902, tendo

construído, ao longo destes 110 anos, uma impar

credibilidade nas áreas das ciências biomédicas, da

medicina tropical e da saúde internacional,

designadamente no ensino e formação, na

investigação, na prestação de serviços à

comunidade e na cooperação e desenvolvimento,

contribuindo para a resolução de problemáticas de

vital importância para a saúde global, em geral, e

das regiões tropicais, em particular.

Hoje, o instituto é credor de um elevado

reconhecimento

internacional

pela

sua

competência e pelo seu saber, o que é patente nas

responsabilidades que lhe têm sido conferidas pela

Organização Mundial de Saúde, a qual lhe atribuiu

o estatuto de Centro Colaborador para Políticas e

Planeamento da Força de Trabalho em Saúde, e o

trabalho de liderança que tem desenvolvido na, e

com, a Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa, assim como devemos sublinhar a sua

atividade na cooperação bilateral e as funções

desempenhadas por muitos dos seus docentes em

prestigiados fóruns académicos e científicos.

Estamos, pois, numa instituição que fala e vive a

cooperação internacional desde os seus primórdios,

o que aumenta a minha responsabilidade de

partilhar convosco uma reflexão sobre o papel da

saúde na internacionalização da nossa economia.

Irei procurar, ao longo desta reflexão, dar a minha

perspetiva sobre o ponto de situação da cadeia de

valor da saúde, em sentido lato, sobre as suas

dificuldades atuais e as suas potencialidades, mas

sobretudo sobre as oportunidades em matéria de

internacionalização, de cooperação e sobre um

recente desafio assumido pelo país.

A cadeia de valor da saúde tem assumido uma

estratégica importância nos últimos anos,

destacando-se pela sua dinâmica, pelo seu valor

acrescentado, pelo investimento realizado e pelo

contributo na criação de emprego qualificado, pela

crescente capacidade de internacionalização das

empresas, através da exportação e investimento

direto no exterior, assim como pela melhoria da

atratividade do setor dos cuidados de saúde para

pacientes estrangeiros.

O progresso tecnológico, as alterações sociais e

as novas configurações da ordem mundial têm

proporcionado grandes alterações no setor de bens

e serviços da cadeia de valor da saúde. Estas

alterações decorrem, do lado da oferta, de uma

crescente inovação tecnológica e inerentes

alterações na composição industrial e pelo aumento

da regulação e, do lado da procura, pela entrada de

novos

players

internacionais (exs.: China e Brasil).

Na década de 2001-2011, o comércio mundial de

produtos de saúde cresceu a uma taxa média de

8,5%, enquanto o comércio mundial registou uma

taxa média anual de 6,2%. Em 2011, o seu valor

ultrapassou 490 mil milhões de euros, o que

significa que, em termos percentuais e absolutos,

este foi um dos setores menos afetados pela crise

internacional que começou em 2007. Se aditarmos

o valor registado no setor do turismo de saúde,

sensivelmente 70 mil milhões de euros, obtemos

um valor superior a 500 mil milhões de euros.

Portugal, só na área de produtos farmacêuticos e

de dispositivos médicos, registou também um forte

crescimento entre 2005 e 2011, passando de

335 para 730 milhões, o que significa um

crescimento de 117%. No entanto, se aditarmos o

que é possível contabilizar da nossa cadeia de valor

da saúde, designadamente serviços médicos e

outros serviços, podemos afirmar que, em 2011,

ultrapassámos 1000 milhões de euros. Constata-se

claramente forte aceleração na taxa de crescimento

das exportações nacionais de produtos de saúde

neste período analisado, de 6 anos, com uma taxa

média anual positiva de 14%, com ganhos de quota

no mercado global de 36%, o que significa que as

empresas portuguesas não se limitaram a aproveitar

o crescimento mundial da procura de produtos de