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A falta de profissionais de saúde em número
suficiente constitui-se como um dos obstáculos
mais importantes para o acesso aos cuidados de
saúde. Esta situação pode dever-se a vários fatores,
tais como:
O número de profissionais de saúde com formação
não é suficiente, por um lado, porque não há
capacidade de produção suficiente e, por outro,
porque não há candidatos em número suficiente
interessados ou com disponibilidade para
receberem formação como profissionais de saúde
(Dussault
et al.
, 2008);
A produção desequilibrada de novos trabalhadores,
isto é, demasiados médicos, poucos enfermeiros e
auxiliares. Timor-Leste seria um exemplo (Cabral
et al.
, 2012);
As definições legais acerca do exercício da
profissão limitam a possibilidade de criação de
novos quadros de profissionais de saúde (isto é,
médicos assistentes, técnicos de cirurgia,
etc
.)
como é o caso em Portugal (Temido e Dussault,
2012)
As perdas de profissionais de saúde para outros
setores; as perdas de pessoal da clínica para outras
atividades, por exemplo, gestão, ONG’s, agências
internacionais, indústria farmacêutica; a emigração
dos trabalhadores; elevados níveis de desgaste
devido à doença (HIV; síndrome de Burnout) ou
outros fatores (Joint Learning Initiative, 2004;
WHO, 2006).
As populações que vivem em zonas rurais e
remotas, mas também em zonas urbanas e
suburbanas pobres, são particularmente afetadas
por défices e carências. Existe umdéfice quando as
necessidades de trabalhadores de saúde são
maiores do que a oferta, de acordo com o perfil
demográfico e epidemiológico de uma população.
É o caso dos países de baixa renda, que a OMS
classificou como “países em crise” relativamente
aos recursos humanos para a saúde (OMS, 2006).
Existe uma carência ou demanda não satisfeita
quando as posições disponíveis permanecem
vagas, por qualquer motivo; frequentemente, é este
o caso das zonas carenciadas. Num contexto de
mercado livre, estas zonas não conseguem
competir, em termos de atração e retenção de
pessoal qualificado, na saúde ou em qualquer outro
setor. Em qualquer parte do mundo, é difícil atrair
e reter profissionais de saúde para zonas
carenciadas, daí a importância de compreender os
determinantes de atração e retenção, tendo emvista
elaborar estratégias efetivas para resolver o
problema (Dussault e Franceschini, 2006).
Este artigo resume o estado da arte acerca dos
fatores que influenciam as práticas em termos de
decisões sobre a localização de profissionais de
saúde, e o que os países têm feito para tentar reduzir
os desequilíbrios na distribuição geográfica dos
seus trabalhadores de saúde. Conclui chamando a
atenção para questões estratégicas importantes
tendo em vista alcançar uma distribuição de
profissionais de saúde mais justa e equilibrada.
PORQUE É QUE OS PROFISSIONAIS DE
SAÚDE PREFEREM AMBIENTES URBANOS
MAIS ABASTADOS?
Não existe qualquer razão para pensar que os
profissionais de saúde são diferentes de quaisquer
outros profissionais quando tomam as suas
decisões relativamente à entrada ou saída do
mercado de trabalho, onde trabalhar e com que
intensidade. As intenções e expectativas dos
profissionais em relação à escolha de uma zona
para trabalhar são documentadas emvários estudos
cujas conclusões convergem (Ferrinho
et al.
, 2011;
Girasek
et al.
, 2010; Witter
et al.
, 2011) A fim de
planear intervenções apropriadas para atrair e reter
profissionais de saúde para áreas que precisam
deles, em primeiro lugar é fundamental perceber
porque é que o problema existe.
De seguida, apresentam-se alguns dos fatores
que podem explicar os desequilíbrios entre as
zonas bem servidas e as zonas carenciadas
relativamente ao acesso aos serviços de saúde:
Os profissionais de saúde recebem formação
sobretudo em contextos urbanos onde existem
melhores serviços e educação (WHO, 2010);
A maioria dos profissionais qualificados é
proveniente desses contextos urbanos;
Durante a sua formação básica, os profissionais de
saúde têmpouco contacto com as necessidades das
populações carenciadas e têmperceções negativas
dessas zonas (Frenk
et al.
, 2010);
Não há incentivos, ou são inadequados, para atrair
e reter os trabalhadores nestas zonas;
Não há nenhumou há pouco mercado para a prática
privada em zonas carenciadas;
Existe o medo de ficar isolado profissionalmente,
de não ser capaz de progredir na carreira;
Há pouco reconhecimento profissional e social
das pessoas que trabalham em zonas carenciadas;
As infraestruturas sanitárias são de qualidade
inferior, o acesso a equipamentos e medicamentos,
e a supervisão e apoio de colegas não se situam ao
mesmo nível do que podem encontrar em zonas
mais abastadas (WHO, 2010);
Uma vez que estas são zonas com falta de pessoal
de saúde, existe o receio de que a sobrecarga de
trabalho seja excessiva;