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institucional, através da melhoria das competências

dos profissionais de saúde e, indiretamente,

contribuindo para aumento da qualidade dos

serviços e cuidados de saúde (Craveiro

et al.

,

2011).

DISCUSSÃO

Os nossos resultados são, em certa medida,

coincidentes com uma vasta literatura internacional

(Biesma

et al.

, 2009; Biesma

et al.

, 2012; Brugha

et al.

, 2004; Brugha

et al.

, 2005; Brugha

et al.

,

2010; Global Health Initiatives Network, 2010;

Shakow, 2006), segundo a qual existe uma miríade

de efeitos das IGSs nos países recetores,

nomeadamente na África subsaariana. Os impactos

reportados são positivos, por exemplo, quando

permitiram

scale-up

na prestação de serviços na

área do VIH/SIDA, uma participação crescente dos

diferentes atores-chave e a canalização de fundos

para atores-chave não-governamentais, sobretudo

ONGs e instituições religiosas. Também houve

impactos negativos, incluindo distorções nas

políticas nacionais dos países recetores,

nomeadamente por impedirem os governos de

empreender esforços de coordenação, que

permitiriam um reforço dos sistemas de saúde, por

fomentarem uma re-verticalização dos sistemas de

avaliação, planeamento, monitorização e gestão.

Quando analisamos o impacto das IGSs, é

essencial perceber o nível de “dependência” da

ajuda externa dos países recetores. Quando

comparamos países com níveis de dependência

distintos, esta variável joga um papel importante,

nomeadamente em termos da capacidade de

negociação dos países recetores com atores-chave

externos no que diz respeito, por exemplo, às

formas de canalização dos fundos e ao nível de

integração da prestação de serviços para doenças

específicas apoiadas pelas IGSs, como VIH/SIDA,

tuberculose ou malária.

Contrariamente ao que sucede com Angola,

Moçambique tem sido um país altamente

dependente de ajuda externa, o que tem

contribuído, como fator limitativo, para assumir

liderança em termos de agenda do setor da saúde.

A ajuda proveniente das IGS, e também de outros

parceiros, frequentemente não está alinhada com as

prioridades e programas nacionais, sendo uma

perspetiva centrada no apoio a doenças específicas

e não num reforço do sistema de saúde. Assim, são

assinalados impactos negativos das IGSs no

sistema de saúde moçambicano, nomeadamente

quando atraíram técnicos qualificados que

trabalhavam no setor público (Chilundo

et al.

,

2011).

Em Moçambique, o governo e os seus parceiros

têm acionado mecanismos e procedimentos no

sentido de tornar a ajuda mais efetiva. Existem

vários exemplos: a aprovação de declarações e

acordos internacionais e nacionais, que incluem a

Declaração de Paris de 2005 sobre a Eficácia da

Ajuda, os compactos nacionais e internacionais de

parceria de saúde de 2007/8; a coordenação e

estruturas de financiamento, incluindo os Quadros

de Avaliação de Desempenho, o Ministério da

Saúde e os parceiros externos (doadores), que

concordaram, em abril de 2001, em estabelecer um

grupo de trabalho conjunto da SWAP (GT-SWAP).

Todas estas iniciativas reconhecem a necessidade

de liderança do país no processo de

desenvolvimento de saúde, expressa, por exemplo,

nos programas, planos e políticas de

scale-up

(op.

cit).

Os efeitos da verticalização dos programas

financiados pelas IGSs sentiram-se através da

criação de sistemas de informação e monitorização

“paralelos”, sendo considerado uma oportunidade

perdida destes financiamentos contribuírem para o

fortalecimento dos sistemas de saúde nacionais.

Contrariamente, nos países em que existe um

esforço de integração da prestação dos serviços de

doenças específicas apoiadas pelos fundos das

IGSs, tal corresponde a um esforço no sentido de

fortalecer a capacidade de prestação de serviços

dos sistemas de saúde, nomeadamente quando

permite reforço em termos de recursos humanos,

que são utilizados não apenas para dar resposta a

programas específicos, mas estão integrados no

sistema de prestação de serviços público.

O investimento em formação de recursos

humanos em saúde é considerado crucial para o

sucesso do apoio proveniente das IGSs. Também é

importante a simplificação dos procedimentos

administrativos e de comunicações dos múltiplos

parceiros de ajuda externa, com o objetivo de

aliviar a sobrecarga de trabalho dos profissionais

de saúde.

Ainda há algumas questões a necessitarem de

mais investigação, como sejam os aspetos

relacionados com a sustentabilidade de longo prazo

dos programas, nomeadamente de VIH/SIDA,

financiados pelas IGSs, e a realização de mais

estudos acerca do impacto dos programas

financiados pelas IGSs nas populações mais

vulneráveis.

Por fim, existe necessidade de um grande

esforço na melhoria da qualidade dos indicadores

disponíveis nos países recetores e da capacidade de