Table of Contents Table of Contents
Previous Page  140 / 202 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 140 / 202 Next Page
Page Background

140

Tema 5

AS INICIATIVAS GLOBAIS DE SAÚDE E OS ATORES E INSTITUIÇÕES NACIONAIS:

O CASO DE ANGOLA

ISABEL MARIA RODRIGUES CRAVEIRO

(ISABEL CRAVEIRO)

GILLES DUSSAULT

Instituto de Higiene e Medicina Tropical / Unidade de Saúde Pública Internacional e Bioestatística; Centro

Colaborador da Organização Mundial da Saúde para Políticas e Planeamento dos Recursos Humanos para

a Saúde e Centro da Malária e Outras Doenças Tropicais.

E-mail

:

isabelc@ihmt.unl.pt.

RESUMO

Neste artigo, discute-se o impacto das Iniciativas Globais de Saúde

(IGSs) no Sistema de Saúde de Angola através da análise das

perceções de atores-chave. Esta análise está integrada num estudo

mais amplo, da responsabilidade de um consórcio com três países

europeus (Portugal, Irlanda e Bélgica) e três países africanos(Angola,

África do Sul e Moçambique).

Foram entrevistados informadores-chave: decisores políticos do

Ministério da Saúde e representantes dos doadores e organizaçõesnão-

governamentais. Foi ainda efetuada análise de documentosrelevantes:

política nacional de saúde, programas nacionais de malária,

tuberculose e saúde materna e relatórios nacionais e internacionais.A

recolha de dados em Angola decorreu entre abril e junho de 2009 e

maio de 2011.

Os resultados refletem a complexidade da interação entreosistemade

saúde angolano e os atores-chave externos. Angola não édependente

de financiamento externo, existindo mais complementaridadesentre

os programas estratégicos nacionais e a prestação de serviços e de

intervenções das IGSs, uma realidade diferente da que observamos

noutros países africanos, como Moçambique.

SUMMARY

This paper discusses the effects of Global Health Initiatives(GHI)on

the health care system of Angola as perceived by key actors. This

analysis is part of a broader study conducted by a consortium of

institutions from three European countries

(Belgium, Ireland, Portugal) and three countries from the Southern

part of Africa (Angola, Mozambique, South-Africa).

Interviews were conducted with key-informants,

e.g

policy and

decision-makers from Ministries of Health, representativesofdonor

agencies and from NGOs. This was complementedwith an analysisof

relevant documents such as national policies, malaria, tuberculosisand

maternal health programs and reports from national andinternational

organizations. Data collection took place betweenAprilandJune2009

and in May 2011.

Results showthe complexity of interactions betweentheAngolahealth

care system and external actors working through GHI. The factthat

Angola is little dependent on external aid facilitated more

complementarity between national programs and policiesandexternal

interventions. This is significantly different from what has been

observed in Mozambique, a country highly dependent on externalaid.

INTRODUÇÃO

As Iniciativas Globais de Saúde (IGSs) são

novos mecanismos externos de ajuda ao

desenvolvimento na área da saúde e surgiram como

forma de conseguir fundos adicionais para

combater doenças de alta prevalência, nos países de

6

Objetivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) 4:

reduzir a mortalidade infantil; ODM 5: melhorar a saúde

materna; ODM 6: combater o VIH, malária e outras

baixa renda, como VIH-SIDA, tuberculose e

malária, para expandir o acesso à vacinação e para

o reforço dos sistemas de saúde (Brugha, 2005).

Alguns exemplos de IGS são o

President’s Emergency Plan for AIDS Relief

(PEPFAR), uma

iniciativa que começou em2003 e que foi renovada

em 2009 (PEPFAR II) (Smith, 2007). Compõe-se

de acordos bilaterais entre o governo dos Estados

Unidos e um recipiente, que é tipicamente uma

organização

não-governamental

(ONG)

internacional ou o governo de um país recetor de

ajuda. O

GAVI

(Aliança Global para Vacinas e

Imunização), estabelecido em 2000, e o Fundo

Global

(Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária)

, criado em 2002, são

parcerias público-privadas que angariam e

distribuem fundos para tratamento de SIDA,

tuberculose e malária e para imunização e

vacinação (GAVI, 2009).

O Banco Mundial, o maior financiador na área

de VIH/SIDA no sistema das Nações Unidas,

também desenvolveu programas na área de VIH a

partir de 1989. Em 1999, lançou a primeira fase da

uma iniciativa de combate ao VIH/SIDA na África

subsaariana - o MAP (

Multi-country AIDS Programme )

, que acabou em 2006, quando

arrancou uma segunda fase, chamada

Agenda for

Action 2007-11

(World Bank, 2007). Essas IGSs

pretendem também contribuir diretamente para

alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do

Milénio 4, 5, 6 e 8, ligados à saúde

6

.

As IGSs estão presentes em todos os países

africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs),

embora apresentando diversidade de situações em

termos dos fundos atribuídos, do número de IGSs

presentes e do número de anos de atividade: em

Moçambique e Angola, estão presentes PEPFAR

(desde 2004 e 2009, respetivamente), GAVI (desde

2001 e 2003), Fundo Global (desde 2004 e 2005) e

doenças; ODM 8: criar uma parceria

global para o desenvolvimento.