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ATRAÇÃO E RETENÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM ZONAS CARENCIADAS: REVISÃO

DAS EVIDÊNCIAS

GILLES DUSSAULT

Unidade de Ensino e Investigação em Saúde Pública Internacional e Bioestatística, Instituto de Higiene e Medicina

Tropical, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para Política e Planeamento em Saúde e Centro de

Malária e Outras Doenças Tropicais (CMDT), Universidade Nova de Lisboa.

RESUMO

Este artigo revê a literatura recente sobre os problemas de atração e

retenção de trabalhadores de saúde qualificados em zonas carenciadas.

Os motivos que fazem com que os trabalhadores evitem essas zonas

são conhecidos. A literatura oferece propostas de estratégias para

melhorar a atração e a retenção, mas a evidência em apoio da sua

eficácia ainda é fraca. O que é mais consensual é que não há

intervenções que, por si mesmas, permitam resolver o problemaeque

os que formulam as políticas podem ser mais eficazes se tiverem

acesso a informação válida sobre as expectativas dos trabalhadoresde

saúde e sobre os fatores que influenciam a sua escolha de ondepraticar

a sua profissão.

SUMMARY

Abstract: This article reviews the recent literature on issues of

attraction and retention of qualified health workers in underserved

areas such as rural, isolated or poor urban areas. The reasons of

workers for avoiding these areas are pretty well known. Strategiesof

attraction and retention are proposed in the literaturebuttheevidence

as to their effectiveness is usually limited. What seems more

co n sen sual is t h at n o sin gle in t erv en t io n s can resolve the

problem and that policy-makers will be in a better position to design

effective policies if they have valid information abouttheexpectations

of health workers and the factors that affect their choiceofalocation

to practice.

INTRODUÇÃO

Em todos os países, pobres e ricos, a equidade de

acesso aos serviços de saúde baseada nas

necessidades de saúde permanece um ideal ainda

por alcançar. São vários os obstáculos que

explicam o facto de haver indivíduos e populações

que enfrentam mais dificuldades em conseguir os

serviços de que necessitam. Alguns desses

obstáculos

estão

relacionados

com

as

características da população (do lado da procura),

outros estão relacionados com os próprios serviços

(do lado da oferta). Estes obstáculos encontram-se

ilustrados na Tabela 1.

Tabela 1

Obstáculos no acesso aos serviços de saúde.

Do lado da procura

Do lado da oferta

Económicos

: pobreza, incapacidade para

pagar os serviços ou os seus custos indiretos

(transporte, tempo de trabalho perdido)

Culturais

:

baixa

educação,

falta

de

informações acerca da disponibilidade dos

serviços, tradições (utilização de serviços

informais), crenças, valores religiosos

Geográficos

: distância entre habitação e os

serviços, falta de transportes

Económicos

: custos diretos (incluído taxas

moderadoras e pagamentos informais) e indiretos

do acesso aos serviços

Organizacionais

: falta de pessoal, elevada

rotatividade do pessoal (“turnover”), horários de

funcionamento inadequados, longos tempos de

espera, comportamentos discriminatórios por parte

do pessoal, falta de sensibilidade cultural, má

qualidade

das

infraestruturas,

falta

de

equipamentos e medicamentos

Geográficos

: concentração dos serviços nas cidades

e em áreas mais favorecidas