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Tal pode indicar uma utilização “de corredor” dos serviços de saúde decorrente
da proximidade com o médico e que se efectivaria em consultas informais.
Morbilidade
Com a análise dos INS, verificou-se que o perfil de morbilidade dos
enfermeiros, outros PCS e outros profissionais, nas dimensões consideradas,
não era diferente.
A inexistência de diferenças entre os grupos profissionais, encontrada a partir
dos dados do INS, pode ser explicada por se ter agregado todas as doenças
crónicas (diabetes, asma ou bronquite crónica, alergia, hipertensão arterial e
lombalgias) numa só variável (doença crónica). Esta categorização pode ter
mascarado prevalências superiores de doenças que se sabem estar
associadas ao trabalho de enfermagem, como é o caso das lombalgias.
Não se verificaram diferenças entre os grupos profissionais relativamente ao
valor médio de IMC após controlar para o efeito de potenciais confundimentos.
Resultados semelhantes foram descritos por vários autores.
Os enfermeiros aparentavam ter estados mais pobres de saúde mental que os
outros PCS mas melhores que os outros profissionais. Pode-se postular que a
eventual diferença entre enfermeiros e outros PCS deriva da singularidade do
cuidar em enfermagem, da atenção especial que o caracteriza.
Pode ser reflexo da complexidade emocional do trabalho em enfermagem.
Auto-percepção do estado de saúde
Verificou-se que os PCS, considerados como um todo, ou separadamente em
enfermeiros e outros PCS, tendiam a percepcionar a saúde de forma mais
positiva que os outros profissionais.
Vários autores referem como determinantes da auto-percepção do estado de
saúde, o estado físico, a doença crónica, o estatuto sócio-económico e os
estilos de vida. No estudo da auto-percepção do estado de saúde controlaram-
se os efeitos destes determinantes. Contudo, as diferenças entre os grupos
profissionais mantinham-se. A disponibilidade de serviços de saúde é um
importante determinante da percepção do estado de saúde. Este factor não foi
tido em conta o que poderá, eventualmente, explicar a variação obtida.
Outro factor não medido foi a saúde mental e outros factores psico-sociais
como o apoio emocional, o stress e a auto-estima que influenciam, igualmente,
a auto-percepção do estado de saúde.
Mortalidade
Três aspectos caracterizavam a mortalidade dos PCS: morriam mais tarde do
que os não profissionais de saúde, tinham um défice de mortalidade na maioria
das causas consideradas até aos 54 anos de idade, apresentavam um excesso
de mortalidade por doenças do sistema nervoso e um défice de mortalidade por
doenças do aparelho geniturinário.
Na base do défice de mortalidade podem estar diversos factores. Os PCS
podem beneficiar dos seus próprios conhecimentos e, assim, terem estilos de
vida mais saudáveis e comportamentos relacionados com a saúde que lhes
permita viver mais tempo.
O trabalho no sector da saúde, e mais precisamente o trabalho dos PCS
(enfermeiros e outros) era relativamente estável, seguro e não existia
desemprego, nos restantes grupos profissionais existiriam profissões para as
quais tal não se verificava. Assim, em algumas delas, os indivíduos poderão ter
sido vítimas de desemprego ou de condições precárias de trabalho
(subemprego) que, cumulativamente com outras desvantagens adquiridas ao
longo da vida, podem ter influenciado fortemente a saúde do indivíduo e
consequentemente, a sua morte.