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S101

A n a i s d o I HM T

de investigação e o reforço das suas aptidões, autonomia e

competição num ambiente internacional; c) o favorecimen-

to do desenvolvimento institucional do ambiente de inves-

tigação no Sul e a sua integração no mundo global [44].

No seguimento de um workshop levado a cabo em Cape

Town, em Fevereiro de 2004, o Conselho Nuffield sobre

Bioética publicou um relatório onde se indica a necessida-

de de reforçar a capacitação local das instituições parceiras.

Neste workshop participaram 58 delegados de 28 países –

investigadores, financiadores e membros de comités de ética

de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os partici-

pantes argumentaram que a investigação financiada externa-

mente gera oportunidades para o aumento do número de

cientistas e para uma capacitação dos profissionais, e con-

cluíram que tanto os investigadores como os financiadores

partilham responsabilidades em termos de capacitação.Nes-

se sentido, deveriam ser reforçadas as parcerias para uma

maior capacitação regional e nacional, incluindo o apoio a

programas de capacitação por parte das entidades financia-

doras [1: 58-59]

Um modelo pioneiro no desenvolvimento de capacitação

em países de baixo e médio rendimento foi o Programa

Especial sobre Investigação e Formação em DoençasTropi-

cais (TDR), um programa cofinanciado pela UNICEF, Pro-

grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Banco

Mundial e Organização Mundial de Saúde. Poucos eram os

programas que nos anos 1970 levavam a cabo uma capacita-

ção da investigação em doenças tropicais, e oTDR, a partir

de 1974, desenvolveu umprograma de capacitação para for-

mar indivíduos e fortalecer os processos de investigação em

países onde estas doenças são endémicas [45: 1).

Inicialmente o TRD estava focado em instituições. Os pri-

meiros programas não eram competitivos, sendo caracteri-

zados por financiamento duradouro que ajudava as institui-

ções nos processos de capacitação. Posteriormente, este fi-

nanciamento tornou-se mais competitivo e oTDR também

permitiu que algumas instituições

se tornassem pontos fulcrais dos

processos de capacitação em re-

giões da OMS, como em Cali, na

Colômbia. Foi também introduzi-

do financiamento para formação

individual ao longo dos anos, inte-

grado com o apoio institucional.

Atualmente, oTDR visa lidar com

três aspetos críticos para fortalecer

a capacitação em PBMR: a) o reco-

nhecimento do percurso académi-

co dos investigadores; b) liderança

institucional; c) capacitação rele-

vante para as prioridades de inves-

tigação nacionais [45].

Dean et al. (2015) entrevistaram50

indivíduos de 12 instituições de paí-

ses de alto rendimento e de PBMR de forma a avaliar quali-

tativamente como se processam e os fatores que encorajam

as parcerias internacionais.Alguns aspetos fundamentais di-

zem respeito por exemplo aos benefícios da parceria ao ní-

vel individual e institucional – colaboração em financiamen-

to e na publicação de artigos; a capacidade de influenciar a

cultura de investigação assim como colaborações anteriores

(como relação supervisor-estudante) e também a equidade

da parceria.Aspetos como o controlo financeiro ou expeta-

tivas distintas podem prejudicar as colaborações entre países

do Norte e Sul global [46: 13].

A agência para a investigação e qualidade em cuidados de

saúde (AHRQ) dos EUA desenvolveu uma série de reco-

mendações para a gestão dos fundos de investigação que in-

cluem, por exemplo, como responder aos pareceres cientí-

ficos; o planeamento da implementação; a gestão financeira;

a gestão do pessoal; a criação e adesão a um cronograma; as-

petos ligados à autoria e à comunicação e a preparação para

candidaturas a financiamento futuro [47].

Beran et al. (2017), com base na sua experiência a partir de

instituições de PBMR, consideramque os dispositivos de ca-

pacitação em saúde global são aindamarcados por formas de

neocolonialismo.Apesar de existirem boas intenções, estas

por vezes não ultrapassam um registo meramente retórico,

e nesse sentido os investigadores desenvolveram uma série

de recomendações que incluem obrigações dos financiado-

res dos países de elevados rendimentos (como assegurar que

as chamadas para financiamento visam as necessidades locais

ao invés dos seus interesses); obrigações das Universidades

e investigadores dos países de alto rendimento (desenvol-

ver parcerias equitativas com os parceiros do Sul global);

obrigações das Universidades, investigadores e governos

dos PBMR (como o aperfeiçoamento da governação local,

melhoria da liderança e transparência a todos os níveis da

hierarquia institucional e o reconhecimento da importância

dos governos em financiarem a C&T); obrigações das revis-

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Tabela 4 - Recomendações de IJsselmuiden et al. para um fortalecimento dos

recursos humanos em investigação em saúde em África (adaptado de [49: 231-232])

1)

Mais dados sobre a investigação, investigação em saúde e sobre os recursos humanos

nestas áreas

2)

Com base nestes dados, África tem de desenvolver uma estratégia coordenada para

aumentar a sua capacidade em recursos humanos em investigação em saúde, incluindo a

alocação de 2% dos orçamentos em saúde para investigação nessa área

3)

Os programas de investigação sobre doenças devem ser restruturados para suportar a

capacitação nacional em investigação e gestão em saúde

4)

Maior comunicação e colaboração entre financiadores internacionais para levar a cabo

esta capacitação

5)

Diversificação da capacitação

6)

Ferramentas mais robustas de monitorização e avaliação

Chu et al. (2014) constatam que os aíses de baix e médio rendimen são os mais

afetados por problemas relacionados com saúde, apesar da investigação nessa área ter

pouca expressão - de facto, estima-se que a África subsariana apenas produza 1% das

publicações na área da biomedicina [50: 1]. Para que possa ocorrer uma verdadeira

capacitação em investigação em saúde, colocam-se três desafios fundamentais: a) como

é que as instituições e médicos africanos podem beneficiar das colaborações

internacionais de investigação sem serem explorados? B) como é que o avanço da

capacidade A ricana na inv stigação po nstituir uma prioridade tendo em conta as

exigências de publicação associadas às universidades do Norte? C) Como é que os

cientistas e governos africanos gerem a vaga de académicos do Norte que encaram

África como a próxima fronteira na investigação em saúde global? [50: 2].

Para fazer face a estes desafios, os autores sugerem seis eixos para uma capacitação

robusta na área da investigação em saúde no contexto africano: a) a criação de

capacidade local de i vestigaçã través da co peração com países do Norte e de

recursos regionais; b) a definição de uma agenda de investigação local; d) o

estabelecimento de colaborações duradouras; e) coordenação e monitorização locais; f)

Tabela 4:

Recomendações de IJsselmuiden et al. para um fortalecimento dos recursos humanos em investiga-

ção em saúde em África (adaptado de [49: 231-232])