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S103

A n a i s d o I HM T

de algumas instituições do Sul, a falta de capacidade de

negociação acaba por se manifestar em parcerias desi-

guais, pelo que, como vimos na secção 4, o COHRED

desenvolveu uma série de recomendações para as nego-

ciações contratuais em contextos de investigação colabo-

rativa [23]. Mais recentemente, estas recomendações fo-

ram expandidas para um documento que visa desenvolver

estratégias para sistemas de inovação e investigação mais

robustos. Estas estratégias dividem-se em três fases: pré-

-contrato (clarificar necessidades e horizontes; identificar

parceiros potenciais; clarificar os resultados ideais da par-

ceria; estar preparado para a negociação; compreender e

estabelecer processos internos; procurar aconselhamento;

estar a par de diferentes estilos de negociação; considerar

estratégias para negociações difíceis), contrato (formalizar

as negociações; aspetos básicos da contratação; definição

da calendarização) e pós-contrato (executar o contrato,

concluir o projeto de investigação) [57: 6].

Conclusão

Neste artigo levámos a cabo uma revisão de literatura

da base de evidências relativa ao primeiro domínio do

RFI – Equidade de Oportunidade. As diversas sugestões

e recomendações associadas a esta literatura heterogénea

incluem a adoção de standards e modelos nas mais diver-

sas áreas das colaborações, incluindo aspetos contratuais,

fiscais, de financiamento, de gestão de ciência, de defini-

ção de prioridades e de partilha de benefícios.

As melhores práticas elencadas neste artigo visam per-

mitir às instituições dos PBMR a obtenção de maiores

benefícios nas parcerias que estabelecem com as insti-

tuições e financiadores do Norte Global, contribuindo

nesse sentido para um esforço global na capacitação da

investigação em saúde.

As ciências sociais e os estudos de ciência e tecnologia

têm historicamente levado a cabo uma crítica dos proces-

sos de modernização, associados a conceitos como disci-

plina [58], estandardização [59] e mais recentemente à

imposição de indicadores de produtividade em contextos

académicos [60].

De acordo com Boaventura Sousa Santos, “temos o di-

reito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza

e temos o direito de ser diferentes sempre que a igual-

dade nos descaracteriza” [61: 56].A adoção de práticas e

modelos pode permitir uma maior equidade Norte/Sul

no âmbito das colaborações em investigação em saúde e

C&T em geral; por outro lado, corremos o risco de levar

a cabo um processo universalizante que descarateriza as

epistemologias das comunidades locais.

De acordo com James Scott (1998), os processos de es-

tandardização e homogeneização associados à moderni-

dade – como a silvicultura científica, a uniformização das

medidas e das moedas – procederam a uma obliteração

de práticas e conhecimentos específicos. Os contextos

epistemológicos locais são caracterizados por formas

particulares de produção de expertise e da relação entre

cidadãos e leigos [62], e as epistemologias cívicas variam

consoante as tecnologias a que se referem [63].

O objetivo do RFI é promover uma maior igualdade nas

colaborações internacionais ao nível da investigação em

saúde. Para esse efeito, identificaram-se 3 domínios e 45

indicadores que avaliam de forma sistemática o “compor-

tamento” de uma instituição, convidando-a a comprome-

ter-se a adotar mecanismos para melhorar e fortalecer

todas as dimensões associadas às relações de parceria.

Prevendo-se que o RFI seja adotado em larga escala nos

próximos anos por instituições do Norte e Sul global, é

premente que as diversas organizações aderentes não se

limitem a adotar de forma acrítica recomendações, prá-

ticas e procedimentos desenvolvidos

a priori

, mas sejam

capazes de desenvolver, através de formas de deliberação

interna e colaborativa com os seus

stakeholders

, os mode-

los e abordagens mais úteis para os seus contextos cultu-

rais e epistemológicos.

Dessa forma, o RFI poderá comportar uma dimensão

positiva e criativa, tornando-se numa oportunidade para

as instituições reinventarem os seus processos colabora-

tivos, por um lado assegurando os seus interesses num

contexto internacional cada vez mais competitivo e exi-

gente e, por outro lado, transformando as suas ambições,

perspetivas e situações particulares em modelos vincula-

tivos com um potencial impacto nas comunidades a que

pertencem.

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