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Artigo de Revisão
de mediação e de resolução de conflitos poderem ofe-
recer soluções, é também necessário que os parceiros
tenham uma estratégia clara para terminar a parceria
em certas situações [24: 4].
As recomendações do KFPE oferecem algumas suges-
tões para lidar com os conflitos nas parcerias, nomea-
damente o estabelecimento de padrões para a resolução
de conflitos, a definição de termos de referência e me-
morandos de entendimento, a criação de acordos equi-
tativos e vinculativos e até a designação de um comité
externo para tomar uma decisão em caso de conflito
[17].
A Rede do Novo México sobre Excelência na Investiga-
ção Biomédica (NM-INBRE) também desenvolveu uma
política de resolução e prevenção de conflitos.A resolu-
ção de conflitos tem uma dimensão informal e formal.
Em relação à informal, são sugeridas as seguintes solu-
ções: a)Trate a outra pessoa com respeito; b) Confronte
o problema; c) Defina o conflito; d) Comunique de uma
forma compreensiva; e) Explore soluções alternativas;
f) Chegue a um acordo acerca da solução mais viável; e)
Faça uma avaliação da solução após algum tempo [25].
Do ponto de vista formal, e caso a abordagem informal
falhe, o líder do projeto/diretor do programa será o
primeiro ponto de contacto, e caso as várias partes não
cheguem a um acordo será formado um comité com
poder vinculativo para resolver a situação [25].
Bagshaw et al. (2007) argumentam que os desafios
associados à investigação (desde a preparação de uma
revisão de literatura, passando pela definição das ques-
tões de partida até à análise dos dados) se tornam mais
complexos em situações de colaboração internacional,
no sentido em que a equipa é constituída por indivíduos
de diferentes “disciplinas, países, culturas, histórias, e
sistemas educativos que têm diferentes aptidões linguís-
ticas” [26: 434].
Os autores fornecem quatro pistas interessantes para a
prevenção de conflitos nestes contextos de diversidade
cultural: o reconhecimento da diversidade e o desenvol-
vimento de objetivos de cooperação; o desenvolvimen-
to de autorreflexão e de reflexividade (existem várias
técnicas para refletir acerca da situação social, cultural,
somática e étnica dos indivíduos – [27]); a promoção de
um diálogo colaborativo (incluindo práticas para escu-
tar o “outro” em plena consciência – [28]); o desenvol-
vimento de confiança ao longo do tempo (reconhecen-
do que a confiança emerge através de uma cooperação
continuada) [26].
Bammer, partindo de uma análise histórica das colabo-
rações de investigação com base em três exemplos (a
construção da bomba atómica, o Projeto do Genoma
Humano e a Comissão Mundial sobre barragens), de-
senvolve algumas considerações acerca da avaliação e
gestão das parcerias. Reconhecendo que é necessário
solidificar a investigação sobre este tema para maximi-
zar o impacto positivo das colaborações, a autora apre-
senta algumas sugestões acerca de quatro dimensões
fundamentais destes processos: 1) a gestão das diferen-
ças que podem destruir as parcerias; 2) a decisão acer-
ca do que a colaboração deve envolver na prática; 3) a
compreensão de aspetos que podem distorcer os poten-
ciais resultados da investigação; 4) o recrutamento de
parceiros necessários, preservando a independência da
investigação [29: 875].
A explicitação das contribuições dos parceiros também
pode ser enquadrada no âmbito de uma preocupação
mais vasta com a identificação do potencial impacto
da investigação a montante dos próprios processos de
desenho das propostas. No Reino Unido, os Research
Councils (RCUK), responsáveis por uma parte signi-
ficativa do financiamento público da investigação nas
diversas áreas científicas, recomendam que as candida-
turas a financiamento tenham uma declaração explícita
acerca do seu potencial impacto, articulando o mérito
científico com dimensões sociais e éticas.
De facto, os RCUK recomendam que esta declaração
seja “específica do projeto e não generalizada” e tam-
bém “flexível e focada em potenciais resultados” [30:
2]. Nesse sentido, os investigadores devem: “identificar
e envolver-se ativamente com utilizadores da investiga-
ção e
stakeholders
em fases apropriadas”; “articular um
entendimento claro do contexto e necessidades dos
utilizadores e considerar formas para a investigação
proposta ir ao encontro dessas necessidades ou ter um
impacto em função do entendimento dessas necessida-
des”; “desenvolver o planeamento e gestão de atividades
associadas incluindo (…) pessoal, orçamento (…) re-
sultados e exequibilidade” e “incluir evidências de al-
gum envolvimento existente com utilizadores relevan-
tes” [30:2]. Uma previsão acerca do potencial impacto
económico da investigação em saúde pode justificar um
aumento do financiamento desta área, em função dos
seus benefícios sociais a longo prazo [31].
De acordo com Darby (2017), a avaliação do impac-
to deve ser coproduzida de uma forma participativa
com as comunidades diretamente visadas. Isso requer
abordagens de investigação baseadas em racionalida-
des e práticas centradas nos valores dessas mesmas
comunidades. As abordagens coprodutivas, promo-
vidas pela autora, “promovem um diálogo acerca do
que não só é aceitável mas também desejável. Essa
investigação valoriza não só os produtos finais mas
também as necessidades e processos de aprendizagem
emergentes” [32: 231].
A abordagem da autora vai ao encontro das recentes
preocupações com avaliações participativas das tec-
nologias, realizadas a montante, sob a égide do para-
digma de investigação e inovação responsáveis. Esta