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S95

A n a i s d o I HM T

A OMS definiu, em 2012, a sua estratégia para a investi-

gação em saúde, guiada por três princípios fundamentais

– qualidade, impacto e inclusão (que contempla a parti-

cipação da sociedade civil e comunidade nos processos

de investigação em saúde). Essa estratégia subdivide-se

depois em 5 objetivos interrelacionados – Organização;

Prioridades; Capacidade; Standards e Tradução. No que

diz respeito ao objetivo da tradução, este está diretamente

relacionado com a relevância da investigação para as comu-

nidades, no sentido em que visa “fortalecer os laços entre a

investigação, política e prática” [2:11].Algumas ações suge-

ridas para levar a cabo uma melhor tradução incluem, por

exemplo, modelos efetivos de transferência de tecnologia;

o desenvolvimento de sumários de investigação disponí-

veis para políticos, profissionais de saúde e o público em

geral e melhores formas de ter acesso aos resultados da in-

vestigação através de práticas de acesso livre, por exemplo.

A aplicação de standards e normas no domínio da investi-

gação em saúde também tem o potencial de maximizar o

envolvimento da comunidade, gerando maior apoio e con-

fiança do público na saúde e investigação médica [2:27].

Viergever et al. (2010) desenvolveram um modelo para

identificar as prioridades de investigação em saúde de co-

munidades específicas. De acordo com os autores,

“A definição de prioridades para a investigação em saúde é

essencial para

maximizar o impacto dos investimentos,

o que é especialmente relevante em

ambientes de

baixos recursos. A criação de prioridades na investigação

em saúde

é considerada como uma dimensão cha-

ve dos esforços necessários para fortalecer os sistemas na-

cionais de investigação” [3:1]

Os nove princípios promovidos porViergever et al. estão

divididos em três áreas fundamentais: trabalho preparató-

rio (que inclui uma análise do contexto local; a utilização

de uma abordagem sistemática; a inclusão; a recolha de

informação; o planeamento necessário para a implemen-

tação); decisão sobre prioridades (seleção de critérios re-

levantes; métodos para a decisão acerca de prioridades) e

ações a levar a cabo após as prioridades terem sido defini-

das (avaliação e transparência) [3:3].

De acordo com Bradley (2008), a cooperação não deve ser

entendida enquanto uma panaceia para os problemas que

afetam as instituições do Sul Global. De facto, e segundo a

autora, a motivação para as parcerias é fundamentalmente

económica, pois é a forma das instituições dos países em

desenvolvimento terem acesso a financiamento. A agenda

destas parcerias é habitualmente controlada pelas institui-

ções do Norte, e aspetos como as barreiras de linguagem,

complexas estruturas de gestão, acesso desigual a recursos

financeiros, bibliotecas, redes de investigação e oportuni-

dades de publicação dificultam cooperações equitativas e

verdadeiramente benéficas para as comunidades [4: 674].

De facto,

“apesar das parcerias Norte-Sul poderem aumentar os re-

cursos e aptidões individuais e institucionais, não são uma

panaceia para todos os desafios

associados à criação de

capacidade e à criação de conhecimento para permitir o

desenvolvimento (…) as parcerias Norte-Sul não são ne-

cessariamente a melhor forma para levar a cabo investi-

gação baseada nos princípios do Sul.” [4:674]

Um dos aspetos que prejudicam estas colaborações, dimi-

nuindo os seus impactos positivos nas comunidades, são

as questões burocráticas. Justice (1987) levou a cabo um

estudo etnográfico no Nepal acerca do desenvolvimento

de cuidados primários, e considera que as verdadeiras ne-

cessidades da população são ignoradas devido às exigências

burocráticas. As perspetivas burocráticas dos administra-

dores e responsáveis pelo planeamento contrastam com as

da população, sendo necessário implementar de forma ro-

busta as metodologias e expertise das ciências sociais para

analisar de forma qualitativa os reais problemas e anseios

das comunidades. Como afirma a autora: “Enquanto a es-

trutura e cultura das burocracias de saúde se mantiverem

inalteradas, a informação social e cultural acerca das popu-

lações terá um impacto reduzido” [5:1306].

Para que o impacto positivo sobre as comunidades possa

ser maximizado, é fundamental que as colaborações inci-

dam sobre as prioridades de investigação locais. Nas últi-

mas 3 décadas a questão da definição das prioridades de

investigação nacionais e internacionais tem assumido gran-

de relevo, reconhecendo-se a necessidade de desenvolver

estratégias e métodos que permitam que este seja um pro-

cesso participativo, abrangendo todos os

stakeholders

(e não

apenas técnicos, corporações e funcionários governamen-

tais) [6] na definição de prioridades.

Existem várias metodologias para definir as prioridades de

investigação em saúde, como ferramentas desenvolvidas ao

nível nacional e tambémmetodologias como aAbordagem

da Matriz Combinada (CAM), metodologias fornecidas

pelo COHRED, a Iniciativa de Investigação em Saúde e

Nutrição Infantil (CHNRI) [7], o modelo de Investigação

Essencial em Saúde Nacional (ENHR), e o método Delphi

[8].

De acordo comTomlinson et al. (2011), diferentes abor-

dagens acabam por gerar resultados distintos, indicando

o caráter performativo das metodologias [9] e ilustrando

também a existência de diferentes estilos sociopolíticos de

definição de prioridades, que se distinguem ao nível da do-

cumentação e legitimidade, envolvimento de

stakeholders

, e

diferentes formas de liderança [7].

Na sexagésima Assembleia Mundial da Saúde, a OMS pe-

diu aos estados membros para “desenvolverem e forta-

lecerem um mecanismo participativo (…) para todos

os

stakeholders

de forma a priorizar a agenda de investi-

gação em saúde com base em mudanças dinâmicas dos

sistemas de saúde (…) e tópicos emergentes relaciona-

dos com a saúde” [10:69], e o CIOMS (Conselho para

as Organizações Internacionais de Ciências Médicas),