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S102

Artigo de Revisão

tas científicas (como não cobrar um custo para a publicação

em regime de livre-acesso, no caso do projeto não ter sido

financiado por uma instituição do Norte) [48].

IJsselmuiden et al. (2012) também argumentam que é ne-

cessário reforçar os esforços de capacitação em recursos

humanos para a investigação em saúde em África. De

acordo com os autores, o esforço de capacitação nesta

área é “descoordenado, em pequena escala e desenvol-

vido maioritariamente a partir de fora de África” e

o “conhecimento sobre a capacitação para a inves-

tigação em saúde (…) em África é fragmentado ou

inexistente” [49: 231]. Para fazer face a este contexto e

promover um fortalecimento dos recursos humanos em

investigação em saúde em África, os autores fazem 6 re-

comendações, que elencamos na tabela 4.

Chu et al. (2014) constatam que os países de baixo e mé-

dio rendimento são os mais afetados por problemas re-

lacionados com saúde, apesar da investigação nessa área

ter pouca expressão - de facto, estima-se que a África

subsariana apenas produza 1% das publicações na área da

biomedicina [50: 1]. Para que possa ocorrer uma verda-

deira capacitação em investigação em saúde, colocam-se

três desafios fundamentais: a) como é que as instituições

e médicos africanos podem beneficiar das colaborações

internacionais de investigação sem serem explorados? B)

como é que o avanço da capacidade Africana em investi­

gação pode constituir uma prioridade tendo em conta as

exigências de publicação associadas às universidades do

Norte? C) Como é que os cientistas e governos africanos

gerem a vaga de académicos do Norte que encaram Áfri-

ca como a próxima fronteira na investigação em saúde

global? [50: 2].

Para fazer face a estes desafios, os autores sugerem seis ei-

xos para uma capacitação robusta na área da investigação

em saúde no contexto africano: a) a criação de capacida-

de local de investigação através da cooperação com países

do Norte e de recursos regionais; b) a definição de uma

agenda de investigação local; d) o estabelecimento de co-

laborações duradouras; e) coordenação e monitorização

locais; f) o estabelecimento de comités éticos locais; g) a

exigência de participação na autoria das publicações e na

disseminação de resultados [50: 2-3].

Bates et al. (2006) desenvolveram uma ferramenta para

avaliar a capacitação na investigação em saúde no con-

texto africano, que foi testada no Hospital Universitário

de Anokye, no Gana. Essa ferramenta, baseada numa ex-

tensa revisão de literatura acerca de várias ferramentas e

modelos de capacitação e de melhores práticas, foi depois

adaptada ao contexto específico do hospital.A ferramen-

ta centrou-se em diferentes fases, como a implementa-

ção, a expansão e a consolidação [51: 1226], e elencou as

atividades que caraterizaram o processo de capacitação,

como por exemplo a inscrição de participantes de espe-

cialidades clínicas e não clínicas no curso; o envolvimento

de organizações nacionais no programa; a organização de

uma reunião nacional de disseminação ou até a integra-

ção de atividades de investigação nas responsabilidades

diárias do Hospital [51: 1226]

Um exemplo de boa prática relativa especificamente à

capacitação financeira diz respeito aos esforços da Asia

Foundation. Esta agência, que há mais de 55 anos trabalha

com diversas organizações locais para o desenvolvimento

na região da Ásia-Pacífico, leva a cabo uma avaliação da

capacidade financeira destas organizações, antes que es-

tas se candidatem a financiamento específico. Caso não

cumpram os standards exigidos, a fundação providencia

apoio no que diz respeito à adoção de standards financei-

ros e contabilísticos, incluindo assistência feita à medida

da organização local e também um programa de treino

financeiro de dois dias, que inclui a formação em softwa-

re e manuais relevantes [52].

Outra organização responsável pela capacitação financei-

ra em países em desenvolvimento e economias emergen-

tes é aACCA, uma associação global para os contabilistas

profissionais. A ACCA levou a cabo vários programas de

capacitação financeira em países como o Botswana, Pa-

quistão, Vietname, Zâmbia e Zimbabwe, centrando-se

nas seguintes ações: a) fortalecimento dos sistemas, pro-

cessos e infraestrutura para a gestão financeira pública; b)

a melhoria das qualificações financeiras; c) o desenvolvi-

mento de aptidões básicas para as exigências laborais; d)

a formação de auditores e contabilistas do setor público;

e) a melhoria da cooperação entre governos nacionais e

instituições locais e internacionais; f) a melhoria de com-

petências através do apoio e desenvolvimento [53: 6].

De acordo com o Instituto Alemão para o Desenvolvi-

mento, uma progressiva reforma dos sistemas públicos

de gestão financeira (SPGF) nos países em desenvolvi-

mento teria benefícios para os processos de governação,

incluindo uma maior responsabilização dos atores pe-

rante o Parlamento e o público; o estabelecimento de

estruturas de SPGF encorajaria a separação de poderes;

a reforma dos SPGF iria gerar maior transparência, au-

mentando também a eficácia e eficiência da ação do go-

verno, assim como a legitimidade do Estado. [54: 2].

Já no que diz respeito às organizações sem fins lucrativos,

a capacitação financeira deve incluir a implementação dos

seguintes dispositivos: políticas fiscais e manuais de pro-

cedimentos; sistemas de contabilidade; mapa das contas;

orçamento(s); declarações financeiras; análise financeira;

relatórios financeiros; revisão/auditoria financeira [55:6-

7]. No que concerne a modelos de boas práticas finan-

ceiras em contextos de investigação, a Universidade de

Stanford desenvolveu uma série de recomendações para

a gestão financeira que salienta a responsabilidade fiscal –

e não meramente científica – dos líderes dos projetos de

investigação [56].

Para além das deficiências ao nível da organização fiscal