Table of Contents Table of Contents
Previous Page  32 / 108 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 32 / 108 Next Page
Page Background

S30

Artigo Original

investigação científica têm de estar integradas no curriculum

dos cursos de medicina e os estudantes devem iniciar precoce-

mente a atividade científica. Estas indicações estão contidas na

revisão de 2015 dos padrões globais para a melhoria da quali-

dade da educação médica básica da Federação Mundial da Edu-

cação Médica

1

.A fraca atratividade da carreira de investigação

é uma séria limitação que toma maiores proporções nos países

em desenvolvimento, pelo que a adesão precoce à prática de

investigação deve ser encorajada. Daí que, mais recentemente,

a preocupação de introduzir a investigação científica precoce-

mente na educação médica, levou ao desenvolvimento de uma

linha de investigação com o objetivo de avaliar as percepções

dos estudantes nesta temática, tendo sido feita esta avaliação

na Faculdade de Medicina da Universidade Katyavala Bwila

(Correia, 2015). Em várias faculdades, como em Katyavala

Bwila (Benguela), os estudantes são encorajados a desenvolver

a sua própria investigação, que pode ser apresentada em jor-

nadas científicas anuais.

Redes colaborativas

Como outro exemplo de redes colaborativas referimos

A

NAME for Health

2

, que foi co-financiado pelo Programa EDU-

LINK da Comissão Europeia de 2008 a 2012, envolvendo a Fa-

culdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Por-

tugal, Faculdade de Medicina da UAN,Angola, a Faculdade de

Medicina da UEM,Moçambique, a Faculdade Ciências da Saú-

de, Universidade Lúrio (UniLúrio), Moçambique, o Hospital

São João, Porto, Portugal e a Fundação Calouste Gulbenkian

(FCG), Portugal (Ferreira et al, 2012). Os objetivos incluíram

melhorar a saúde das populações através da educação médica

pelo desenvolvimento de um programa entre as instituições

de ensino superior e melhorar as competências académicas

e clínicas em áreas prioritárias (cuidados de saúde materno-

-infantis e doenças infeciosas). Esta iniciativa permitiu, entre

outras, as seguintes atividades: reforço do Centro de Estudos

Avançados em Educação e Formação Médica (CEDUMED)

que fora criado em Angola em 2003 e o estabelecimento de

Centros de Educação Médica na UEM, Maputo, e UniLúrio,

Nampula,Moçambique; estabelecimento de três Gabinetes de

Apoio ao Estudante; estudo e avaliação dos currículos de me-

dicina, reforma curricular e monitorização do processo de de-

senvolvimento curricular; e estabelecimento de um programa

para a mobilidade clínica de docentes e médicos. No âmbito

deste projeto foi apresentada a proposta da criação da Rede de

Educação Médica da Comunidade Médica da Língua Portu-

guesa (CMLP), tendo sido realizadas reuniões no âmbito desta

Rede, emMaputo (2010) e em Luanda,Angola (2011) (Louri-

nho et al, 2011).Angola reconhece que é urgente inscrever as

instituições em organizações, redes e projetos de excelência,

bem como adoptar programas de cooperação dirigidos para

objetivos concretos, visando a melhoria da qualidade da edu-

cação e do ensino e contribuir decisivamente para o desenvol-

vimento nacional e regional pretendidos (Simões et al, 2016).

Nesse sentido, a necessidade de criação de redes nacionais e

internacionais de educação médica (associações), integrando

todas as partes interessadas, fundamenta-se na inexistência de

um fórum alargado que proporcione o debate dos principais

problemas com que se defronta esta área formativa e a refle-

xão sobre eventuais soluções.

Dinamização de organizações

da sociedade civil

Criada em Maio de 2013,

Health4MOZ

(

Health 4 Mozambican

Children and Families

) ONG, em parceria com a FMUP e a Uni-

Lúrio, é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos

e que tem como objetivo cooperar no âmbito da formação

pré e pós-graduada com Moçambique, em particular com a

UniLúrio, em Nampula. Iniciou a sua atividade no terreno em

junho de 2014. Desde então apoiou: a formação pré-graduada

de alunos de medicina em pediatria, obstetrícia, ginecologia

e cirurgia pediátrica; a formação pós-graduada de médicos

em cardiologia e ecografia pediátrica e em cuidados básicos e

intensivos neonatais; ofereceu em Moçambique uma pós-gra-

duação em radiologia e ecografia; fez formação de formado-

res; oferece de estágios específicos a médicos portugueses em

Moçambique e a médicos moçambicanos em Portugal. Estas

atividades, para além da atenção ao médico são muitas vezes

estendidas a outros profissionais de saúde, como enfermeiros

e nutricionistas.

Regulação do ensino médico

A regulação do ensino médico e a sua consequente tradução na

acreditação e avaliação periódica dos cursos constitui um fator

de elevada importância para assegurar a qualidade do ensino e

do médico formado e lançado no mercado de trabalho, sobretu-

do pelas novas instituições de formação e pelas privadas.

Esta regulação tem vindo a evoluir de uma responsabilidade ex-

clusivamente ministerial para uma responsabilidade partilhada

(dependendo se é a licenciatura, pós-graduação ou especializa-

ção) entre os Ministérios do Ensino Superior e da Saúde e as

Ordens dos Médicos. Nestas parcerias as Ordens têm um papel

variável (mais bem estabelecido em Moçambique e particular-

mente débil na Guiné-Bissau) dependendo da sua implantação

no país, da sua estruturação interna (particularmente o funcio-

namento dos colégios das especialidades, que parecem mais ati-

vos em Moçambique) e da forma como assumem as questões

educacionais, quer a nível pré quer pós- graduado.

Em 2015, foi retomada no XVIII Congresso Nacional de Me-

dicina (no Porto, Portugal, a 26-28 novembro, 2015) a imple-

mentação da CMLP, centralizada nas Ordens dos Médicos dos

Países de Língua Portuguesa, como elemento centralizador das

iniciativas neste âmbito de cooperação.