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S24

Artigo Original

A Rede de EscolasTécnicas

em Saúde (RETS-CPLP)

Durante as reformas liberalizantes das últimas décadas, os Es-

tados nacionais, e as políticas de educação e de saúde particu-

larmente, foram reconfiguradas em todo o mundo, provocando

tensões entre as heranças históricas de desigualdades políticas,

sociais e culturais dos países e as receitas homogeneizantes para

fazer frente aos desafios da globalização [14].

Na CPLP isso pode ser especialmente observado no campo da

educação de técnicos em saúde, incluindo elementos de regula-

ção das relações de trabalho e das políticas de educação, os quais

estão estritamente vinculados aos princípios e características das

políticas nacionais e regionais de saúde [15].

Os trabalhadores e profissionais técnicos em saúde representam

a porção mais significativa do pessoal vinculado aos serviços de

saúde. Porém, apesar do papel fundamental que os técnicos em

saúde exercem, a pouca visibilidade da categoria e a falta de reco-

nhecimento profissional são uma constante. [16].

Apesar de existirem EscolasTécnicas de Saúde (ETS) e institui-

ções similares vinculadas direta ou indiretamente à formação de

técnicos em saúde em todos os países da CPLP, ainda há, no âm-

bito da Comunidade, muita assimetria e desigualdade na oferta

de formações desses

trabalhadores.As

escolas do Brasil e de Por-

tugal, já na época de elaboração do PECS, formavam profissio-

nais em diversas especialidades. CaboVerde, Angola e Moçam-

bique também ofereciam diversos cursos de formação técnica,

muitas vezes em cooperação com Portugal. Já Guiné Bissau, São

Tomé e Príncipe eTimor Leste possuíam um escopo mais restri-

to de formação, focado principalmente nas áreas de enfermagem

e de laboratórios.

O facto de a formação dos trabalhadores técnicos em saúde estar

sendo, cada vez mais, determinada por imperativos de mercado

traz outros desafios importantes, tais como o aprofundamento

das desigualdades nacionais e regionais e a ampliação do grau de

instrumentalização, fragmentação e especialização da formação

oferecida. Este cenário torna-se incompatível com uma atuação

profissional orientada para o enfrentamento dos determinantes

sociais da saúde e da construção dos sistemas universais de saúde

que estes países necessitam.

A falta de professores qualificados para a formação dos traba-

lhadores técnicos em áreas especializadas afeta a qualidade e a

quantidade dos quadros formados. Ademais, as fragilidades na

qualificação pedagógica dos professores existentes resultam na

dificuldade para a elaboração dos projetos político-pedagógicos

das instituições dedicadas à formação de técnicos, além da ina-

dequação dos currículos face às necessidades de formação dos

sistemas nacionais de saúde. Somam-se a essas questões dificulda-

des relacionadas à infraestrutura das escolas, principalmente no

que diz respeito às bibliotecas, às redes de informática, ao acesso

a internet e a disponibilidade de laboratórios para realização de

atividades práticas.

Além dos problemas apontados acima, apesar de inúmeros es-

forços para mudança desta realidade, a formação técnica não

se apresentava como sistema coordenado. Ao longo dos anos

colocaram-se em andamento cursos conforme demandas pon-

tuais, fortemente determinadas pela disponibilidade de recursos

de cooperação internacional. Outro ponto que compromete o

desenvolvimento qualitativo da formação técnica em saúde é a

ausência de normalização e padronização em questões de base,

cujo resultado é a manutenção de obstáculos reais que se esten-

dem aos mais variados aspectos formativos.

A RETS-CPLP foi criada em novembro de 2009, durante a 2ª

Reunião Geral da Rede Internacional de Educação de Técnicos

em Saúde (RETS), tendo se configurado como uma de suas sub-

-redes. Naquela ocasião, foi realizada a 1ª Reunião Ordinária da

RETS-CPLP e aprovado seu primeiro plano de trabalho (2010-

2012). Na reunião também ficou estabelecido que a coordenação

da Rede ficaria a cargo da Escola Politécnica de Saúde Joaquim

Venâncio (EPSJV/Fiocruz), função reiterada nas reuniões de ava-

liação e repactuações seguintes, ocorridas em2013, 2014 e 2016.

Atualmente, a RETS-CPLP, reúne quase 40 instituições de for-

mação da CPLP, bem como representantes de órgãos governa-

mentais responsáveis pela ordenação dessa formação nos respec-

tivos países.

Segundo seu regimento, aprovado na 2ª Reunião Ordinária (no-

vembro de 2013 – Recife, Pernambuco, Brasil), a RETS-CPLP

tem por objetivo “fortalecer a área de formação de trabalhadores

técnicos em saúde nos Estados membros da Comunidade, por

meio da troca de experiências e desenvolvimento de conheci-

mento, que permitam ampliar e melhorar as atividades de en-

sino, investigação e desenvolvimento tecnológico, conduzindo à

melhoria dos sistemas nacionais de saúde e a sua imprescindível

adequação às necessidades de suas populações, e à integração re-

gional”. Suas funções e atividades incluem, de forma resumida:

(1) a promoção da cooperação técnico-científica e pedagógica

entre as instituições membros para a elaboração de propostas

educacionais, projetos de currículo, planos de cursos, material

didático, metodologias e formação docente em áreas conside-

radas prioritárias; (2) o monitoramento, sistematização e com-

partilhamento permanentemente de informações e experiências

relacionadas com a área de formação dos trabalhadores técnicos

da saúde e sua interface com a organização do trabalho em saú-

de; (3) o fomento e o desenvolvimento de estudos na interface

das áreas de saúde, educação e trabalho, que resultem em novos

conhecimentos sobre a educação dos trabalhadores técnicos em

saúde, sua inserção no mercado de trabalho e sua mobilidade em

âmbito nacional, regional e global; e (4) o fortalecimento da in-

fraestrutura física e de equipamentos das ETS.

Entre as diversas atividades realizadas [17] nos sete anos de exis-

tência da RETS-CPLP, sempre orientadas pelo princípio da coo-

peração estruturante [2], vale destacar a realização de um curso

itinerante de Especialização em Educação Profissional em Saúde

(Ceeps) para os PALOP, realizado pela equipa de pós graduação

da EPSJV/Fiocruz e construído coletivamente com membros

dos países participantes, considerando a realidade concreta da

educação e do trabalho em saúde de cada território. No curso,

realizado de março de 2001 a dezembro de 2012, formaram-se