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Doenças endémicas e epidémicas em Lourenço
Marques no início do Século XX:
processos de controlo versus desenvolvimento urbano
Endemic and epidemic diseases in Lourenço Marques in the early 20th Century:
forms of control versus urban development
Ana Cristina Roque
Doutorada em História da Expansão e dos Descobrimentos
CH-ULisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa
anaroque1@campus.ul.ptResumo
No início do século XX, Lourenço Marques surgia como auspiciosa
metrópole na África Austral, sendo a ligação ao Transval apontada
como principal responsável pelo seu desenvolvimento. Ali se mistu-
ravam gentes de todas as origens e ofícios tornando urgente a imple-
mentação de estruturas urbanas e políticas de saúde pública que res-
pondessem às necessidades decorrentes deste surto populacional.
No século XIX, as dificuldades na implementação dos Serviços de
Saúde tinham evidenciado as consequências deste crescimento, dando
origem a reformas e medidas que, não raro, se revelaram insuficientes
ou inadequadas às condições tropicais.
Doenças endémicas e epidémicas encontravam em Lourenço Marques
um meio propício à sua proliferação e, no início de 1900, procuraram-
-se e testaram-se estratégias de combate às principais doenças que
implicaram o investimento no reforço de medidas preventivas e num
número significativo de obras públicas e saneamento. Porém, frequen-
temente, mais do que atuar na profilaxia destas doenças, relegaram-
-nas para a periferia, acentuando dicotomias e desigualdades.
Utilizando documentação da Direção dos Serviços de Saúde e da Di-
reção de Obras Públicas este artigo examina a eficácia e os resultados
dessas medidas, designadamente no referente à assistência médica ao
indígena, no âmbito da medicina tropical e da implantação do sistema
colonial em Moçambique.
Palavras Chave:
Doença, políticas de saúde pública, desenvolvimento urbano, política co-
lonial, Moçambique.
Abstract
In the early 20th century, Lourenço Marques emerged as a promising
metropolis in southern Africa being the relation with the Transvaal
pointed as the main responsible for its development. Therein mingled
people of all backgrounds and crafts making imperative to implement
urban structures and public health policies to respond the needs ari-
sing from this population outbreak.
In the 19th century, the difficulties in implementing the Health Servi-
ces had shown the main consequences of this growth, leading to refor-
ms and legislation that often proved to be inadequate or inappropriate
to tropical conditions.
Endemic and epidemic diseases found in Lourenço Marques favorable
conditions to their proliferation and, as early as 1900, different stra-
tegies were considered and tested to combat major diseases. These
strategies involved investment in preventive measures and public and
sanitation works but, most times, rather than acting in a prophylactic
way, they contribute to relegate diseases to the city’s periphery, accen-
tuating dichotomies and social inequality.
Using the documents of the Health Services and the PublicWorks Ser-
vices, this article address the effectiveness and results of these mea-
sures, particularly with regard to the indigenous medical care, in the
scope of Tropical Medicine and the implementation of the colonial
system in Mozambique.
KeyWords:
Disease, public health policy, urban development, colonial policy, Mozam-
bique.
An Inst Hig MedTrop 2016; 15:167-174
Medicina tropical e ambiente