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com variações inexplicáveis. Para o mesmo resultado, usamos meios e

recursos muito diversos.A carência de informação fiável e atempada

é um dos grandes problemas, dificulta e atrasa a tomada de decisão

”.

Isto trava a possibilidade do sector da saúde se tornar num

motor de desenvolvimento económico,gerador de emprego e exporta-

ção, competindo na criação de valor em diversas áreas … na econo-

mia mundial

”. Mantendo-se o compromisso da “

universalidade

do acesso compatibilizado com a solidariedade do financiamento

procura-se uma estratégia para o sector que corrija “

as causas

estruturais

” das atuais ineficiências do SNS (Macedo 2012).

2 . Ciclos de Gestão Estratégica em Portugal

O pensamento estratégico desenvolveu-se nos anos 60 e 70

do século XX, enquanto forma de estabelecer e projectar

no tempo estratégias para aumentar a competitividade das

empresas (Mintzberg 1994). Ao longo das últimas décadas,

assistiu-se à sua evolução e desenvolvimento em várias cor-

rentes, distintas na forma como abordam o processo da sua

formulação e implementação, tendo sido adotado na admi-

nistração pública e por um vasto conjunto de organizações

(Mintzberg

et al

1998).

A gestão estratégica da saúde em Portugal, cada vez menos

centrada no SNS e abrangendo o SSP em todas as suas partes

constituintes, reconheceu até agora três ciclos que se sobre-

puseram a um número maior de ciclos políticos. O último

destes ciclos está em curso e tem como ponto de partida a

elaboração de um PNS que se estenderia até 2016, sobre-

pondo-se até ao momento, com dificuldade em se adaptar, a

dois ciclos políticos muito distintos, sendo que o atual ciclo

político traz para o sector da saúde o desafio de o alargar

a um “complexo económico da saúde” de relevância inter-

nacional (Ferrinho

et al

2007, Ferrinho

et al

2012, Macedo

2012).

Saúde um Compromisso - Estratégia de Saúde para

oVirar do Século (1998-2002)

é um dos resultados visí-

veis do conjunto de reformas que marcaram o ciclo políti-

co iniciado nas eleições legislativas de 1995. Estabelecendo

como missão do SSP a obtenção de ganhos em saúde, a Es-

tratégia propõe uma nova política para o sector e visa ser “

um

quadro de referência nacional a partir do qual é necessário esta-

belecer prioridades regionais e locais, de acordo com cada situação

específica

” (DGS 1999, p. 25).

Focada nos principais problemas de saúde da população, o

volume publicado apresenta objetivos gerais, metas a cinco

anos, horizontes qualitativos a 10 anos e orientações de ação

para lhes responder (Beja 2011). Um segundo volume com

concretização dos indicadores para monitorização e avaliação

das intervenções propostas não chegou a ser publicado.

Aquele que foi o primeiro ciclo de planeamento estratégico

coincidiu, na sua quase totalidade, com um ciclo político que

compreendeu dois governos da mesma força partidária. No

entanto, e pese embora a sua abordagem inovadora, a Es-

tratégia não recolheu, dentro destes Executivos, o consenso

político necessário à sua prossecução (Justo 2000), sendo

abandonada pouco tempo depois da apresentação pública do

documento final. No entanto, continuou a servir como guia

informal de atuação das ARS e dos serviços de saúde (DGS

2002).

Em 2001, Craveiro e Ferrinho conduziram um estudo de

carácter académico sobre este processo no qual analisaram

as definições de planeamento estratégico de um conjunto de

stakeholders

. A diversidade de definições avançadas demons-

tra a ausência de consenso sobre o conceito, concluindo os

autores que o planeamento estratégico era, ainda, um pro-

cesso pouco familiar e relativamente desconhecido em Por-

tugal (Craveiro e Ferrinho 2001).

Não existindo qualquer documento oficial de avaliação da

Estratégia, é possível encontrar uma reflexão sobre diversos

domínios por ela contemplados no relatório “

Ganhos de saú-

de em Portugal: ponto de situação

” do Diretor Geral de Saúde

e Alto Comissário da Saúde (que era no momento um dos

autores deste texto – JPM), apresentado como um contri-

buto para verificar o estado de saúde do país e para dar “

um

pequeno passo de alerta sobre os assuntos que, mais detalhadamente,

deverão ser aprofundados

” (DGS 2002, p. 13) na avaliação final

que se previa para 2003, e que se pretendia que alimentasse

o ciclo de planeamento subsequente.

Em 2004 o

Plano Nacional de Saúde 2004-2010

, apre-

sentado como alavanca com “

orientações estratégicas destinadas

a sustentar - política, técnica e financeiramente o Sistema Nacional

de Saúde

” (DGS 2004a, p. 13), assume continuidade com a

Estratégia anterior, sendo balizado por um aprofundamento

de conceitos teóricos (Sena

et al

2006), pelo conhecimen-

to existente sobre o processo de planeamento (Craveiro

e Ferrinho 2001) e da situação da saúde (DGS 2002), por

evidências e orientações veiculadas em publicações relevan-

tes, elaboradas em mesas redondas de peritos (Carrolo

et

al

2004, WHO 2006) ou emitidas por organizações como

a União Europeia, a OMS ou a OCDE, bem como por um

amplo processo de consulta a organizações da sociedade ci-

vil (OSC), académicas e profissionais, a peritos individuais

e através de um fórum nacional (em Lisboa) e três fóruns

regionais de saúde (nas Regiões de Saúde de Lisboa eVale do

Tejo,Algarve e Norte).

Este ciclo de planeamento foi orientado por um dos autores

(JPM) e coordenado por um Secretariado Técnico dirigido

por outro (PF) com base na Direcção Geral da Saúde (DGS).

O ciclo, incluindo a sua implementação e parte da avaliação,

prolongou-se de 2003 a 2010, período no qual o país atra-

vessou dois ciclos políticos de diferente orientação, com três

ministros da saúde, durante os quais o Plano foi implemen-

tado, monitorizado e submetido a avaliação, processo que

serviu de base para se começar a reflectir sobre um novo

ciclo (Beja 2011,WHO 2010a,WHO 2010b).

No Plano, o estado de saúde da população é descrito com os

indicadores disponíveis, utilizados, juntamente com os resul-

tados da consulta pública e dos debates preparatórios, para es-

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