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A n a i s d o I HM T

perspetivas: múltiplos serviços, interesses das diferentes orga-

nizações da sociedade civil, indústria, academia, ordens e asso-

ciações, etc. (

http://www.acs.min-saude.pt/pns2012-2016/

files/2010/02/2010-03-05_PensarSaude_nr1-2.pdf). Os ob-

jectivos e metas deveriam ser estruturantes de um sistema de

monitorização e avaliação que especificasse o quê, quem, como

e quando recolher, introduzir, analisar e comunicar aos utilizado-

res e à comunidade antevendo as possíveis consequências para a

continuação ou eventual correção da implementação da estraté-

gia, como destacou a OMS: “

Commitments and processes for change

should be linked into the plan. In order to be effective, the plan will have

to integrate commitments and processes for change and ensure that an

evaluation framework is in place and commensurate with the measures

taken for implementing the plan

” (WHO 2010a).

O sistema de monitorização a implementar deveria correspon-

der a um processo de acompanhamento da execução das ações,

tendo em vista a recolha de informação que fundamentasse e fa-

cilitasse a tomada de decisão face às ações a desenvolver ou alte-

rar (Hartz e Ferrinho 2011).

Por sua vez a avaliação deveria, no próximo PNS, emergir como

a institucionalização da sustentação metodológica para se obte-

rem informações sobre a implementação e efetividade das estra-

tégias de saúde – avaliação de desempenho e institucionalização

da avaliação.Neste sentido, deveria vir a ser definida uma “

Política

de avaliação de políticas

”– provavelmente pelo INSA no âmbito das

competências que agora lhe são atribuídas por lei - que fosse con-

siderada como um conjunto de orientações permitindo analisar

a efectividade das acções desenvolvidas. A institucionalização da

avaliação deveria também clarificar as responsabilidades dos im-

plementadores, avaliadores e utilizadores, de modo a que possam

vir a integrar as informações recolhidas nas ações a desenvolver.

O conceito de desempenho que se consideraria adequado para

introduzir no próximo PNS referir-se-ia ao nível em que o sis-

tema de saúde português alcança metas de impacto, se adapta e

gera produtos de qualidade, mantendo ou criando novos valores

e respetivos indicadores, operacionalizando-se assim os “4P”

6

de-

finidos por Mintzberg

et al

( 2009) como as finalidades de uma

estratégia.

O modelo de estimação/cálculos desses indicadores não é sim-

ples, não existindo consenso teórico sobre como atribuir rela-

ções de causalidade com os impactos ou efeitos objetivados no

PNS. O desempenho avaliado é multidimensional, integrando

eficácia, eficiência e efetividade. Para além destas dimensões, a

avaliação deve ser um instrumento que permita aumentar a equi-

dade no acesso e utilização dos serviços de saúde, a qualidade dos

cuidados fornecidos, a cidadania e a implementação de políticas

saudáveis. Neste sentido, a institucionalização da avaliação deve

articular os valores, eixos e objetivos estratégicos com a monito-

rização de indicadores e de metas estabelecidas, tendo em vista a

implementação de uma gestão comprometida com resultados e

ganhos em saúde (Hartz e Ferrinho 2011).

Assim, considera-se que uma proposta de avaliação para o pró-

ximo PNS deveria caracterizar-se pela implementação de uma

cultura avaliativa, tantas vezes referida como estando em falta no

contexto português. Para tal, é necessário considerar um mo-

delo de avaliação de desempenho que se associe a um modelo

de avaliação de resultados, combinando informação normativa e

pesquisa avaliativa, triangulando quantitativos e qualitativos que

permitam superar as limitações e dificuldades associadas à utili-

zação exclusiva de cada tipologia de avaliação (Hartz e Ferrinho

2011).

4 . Apoios teóricos no percurso a fazer

O percurso avaliativo em Portugal não foi planeado: vai-se fazen-

do, fazendo.Tem tido pouca reflexão teórica.

No resto do mundo, a temática da avaliação tem vindo a tornar-

-se pertinente, devido à preocupação com a participação de múl-

tiplos atores, com os custos e sustentabilidade dos sistemas de

saúde e as necessidades cada vez mais exigentes deste sector. A

avaliação surge como ummeio de recolher e analisar informações

sobre a efetividade dos sistemas de saúde, sendo um procedi-

mento relevante para refletir e tomar decisões sobre as atividades

desenvolvidas e a afetação de recursos (Hartz e Ferrinho 2011).

O crescente interesse pela avaliação permitiu o aparecimento de

uma grande diversidade de estudos centrados na validação da sua

qualidade, dando origem à emissão de

guidelines

e ao aparecimen-

to de Sociedades deAvaliação com a responsabilidade de estudar

e desenvolver conhecimento nesta área (Hartz 2006).

Tradicionalmente, a utilidade da avaliação tem sido limitada por

falta de clareza quanto ao conceito de desempenho, nomeada-

mente concepções inadequadas e simplistas de avaliação cen-

tradas sobretudo na análise do alcance das metas obtidas e nas

confusões existentes entre monitorização e avaliação.Oprocesso

de monitorização consiste no acompanhamento das acções de-

senvolvidas e implementadas ao longo do tempo.A avaliação, por

sua vez, consiste num julgamento de valor sobre uma interven-

ção, fornecendo informações científicamente válidas e úteis para

a própria intervenção e para a gestão (Hartz e Ferrinho 2011).

Contandriopoulos (2006) refere que a credibilidade da avaliação

6

Segundo Mintzberg, uma estratégia define: (i)

P

ercepção do papel que

queremos assumir num mercado (regulador do sistema, dinamizador de

políticas saudáveis, financiador, produtor de recursos e prestador de servi-

ços) e da forma como nos queremos relacionar com os cidadãos no nosso

sistema social de referência; (ii)

P

rodutos/ofertas (serviços, fármacos e ou-

tras tecnologias, materiais informacionais, etc.) que queremos colocar no

(ou retirar do) mercado da saúde, a nossa área de negócio, produtos/ofertas

essas que devem fazer a diferença em termos de ganhos em saúde que são

definidos através de metas,

smart

; (iii)

P

adrão de desempenho que ambi-

cionamos em termos de segurança dos doentes e qualidade do sistema de

saúde e das suas unidades sanitárias assim como em termos de outros pa-

drões relacionados, por exemplo, com o acesso e a equidade; e (iv)

P

lanos

e outros documentos orientadores, das operações, onde são apresentados

valores e princípios orientadores, missão, visão, diagnóstico da situação,

intervenções, responsáveis, recursos e calendário. A definição destes “

4Ps

é um procedimento complexo, procedimento esse que vale só por si en-

quanto conducente a: (i) Um processo activamente

participado

por um

grande número de cidadãos, mobilizador de todos os quadrantes da socie-

dade; (ii) Ganhos em

conhecimento

sobre o sistema de saúde e a saúde e

seus determinantes em Portugal e difusão dessa informação de uma forma

generalizada e direccionada; (iii) Obtenção de

consensos

e legitimação

da visão estratégica proposta; e (iv) Clarificação das áreas

prioritárias

em

termos de concentração de recursos através de, por exemplo, processos de

contratualização (Simões e Ferrinho 2010).