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depende da capacidade de produzir informação coerente para

todos os sujeitos envolvidos numa intervenção. É necessário que

as instâncias de decisão, às quais a avaliação se destina, possam

participar e utilizar as informações produzidas, o que justifica a

indicação de uma abordagem contextualizada, co-produzida ou

participada e utilitária da avaliação.

Nesta perspetiva, Denis e Champagne (1997) apresentam as

vantagens de uma avaliação orientada por um modelo teórico de

desempenho, sendo este entendido como o nível em que os sis-

temas de saúde cumprem os objetivos e as metas estabelecidas.

Esta avaliação permite explicitar o “como” e o “porquê” das polí-

ticas, estratégias ou programas terem determinada orientação

e impacto em grupos populacionais específicos. Desta forma é

possível clarificar o para quê, para quem e como é implemen-

tada determinada política, estratégia ou programa. O carácter

utilitário desta avaliação relaciona-se com a análise da adequação

entre o conteúdo da política ou estratégia e o contexto de utili-

zação, permitindo efetuar reorientações em direção aos objeti-

vos previstos.A avaliação de desempenho apresenta um carácter

complexo e reflexivo: complexo porque valoriza a influência

de múltiplos fatores, nomeadamente contextuais, e reflexivo

porque promove a discussão sobre a implementação no terreno

de uma determinada política. Neste sentido, considera-se que

a avaliação deve funcionar como um sistema de

feedback

entre o

meio e a política ou estratégia, sendo tanto mais relevante quan-

to mais útil for a informação que produz.A avaliação assim con-

ceptualizada permite melhorar a implementação da estratégia e

o cumprimento dos objetivos estabelecidos.

O modelo de Denis e Champagne (1997) (EGIPSS-

Evaluation

Globale et Integrée de la Performance des Systemes de Santé

) está orien-

tado para melhorar, de forma contínua, o desempenho e a go-

vernança em saúde (Côrtes 2005), segundo uma visão ampla

das funções que devem ser desempenhadas pelas organizações

no contexto onde se inserem (Sicotte

et al

1998).

O EGIPSS admite que existem vários modelos conceptuais de

avaliação de desempenho e que cada um possui uma compreen-

são particular de como as organizações funcionam, valorizando

determinados critérios, valores, responsabilidades e preferên-

cias de determinados grupos de interesse. Por exemplo, o mo-

delo racional de avaliação de desempenho baseia-se unicamen-

te em metas e pressupõe que uma organização tem um bom

desempenho quando alcança essas mesmas metas. Por sua vez,

o modelo baseado na aquisição de recursos remete para a ca-

pacidade de inovação, transformação e adaptação à mudança.

No caso do modelo EGIPSS, vários autores defendem que nem

sempre as organizações conseguem alcançar bom desempenho

em todas as dimensões (Contandriopoulos 2008, Champagne

& Contandriopoulos 2010).Assim sendo, este modelo permite

várias abordagens considerando as organizações de saúde como

“sistemas de acção” que devem operacionalizar quatro funções

interdependentes (Hartz e Ferrinho 2011):

Alcançar metas de impacto relacionadas com a capacidade

da organização para cumprir a sua missão (avaliar o estado de

saúde, monitorizar a manutenção e a melhoria da saúde). Os

indicadores utilizados permitem monitorizar a efetividade: (a)

redução da duração, intensidade e consequências dos problemas

de saúde; (b) promoção da saúde e prevenção de doenças; (c)

satisfação da população; (d) equidade.

Desenvolver a capacidade de adaptação relacionada com a

potencialidade para obter e controlar os recursos que necessita

(financeiros, humanos e outros), de inovar para dar resposta às

necessidades da população, assim como atrair novos clientes e

mobilizar a comunidade. O desempenho desta função numa or-

ganização depende da sensibilidade dos decisores em aproveitar

as oportunidades à medida que estas surgem nos meios científi-

co, técnico, clínico, político e social.

Produzir produtos de qualidade. Esta função relaciona-se com

a produtividade dos envolvidos na prestação de serviços e refe-

re-se ao volume de cuidados, atividades, intensidade, qualidade

dos cuidados, coordenação e continuidade dos serviços, intera-

ção entre a dimensão clínica e administrativa.

Desenvolver novos valores, nomeadamente relacionados com

a capacidade de uma organização para facilitar ou dificultar o

exercício das 3 funções anteriores. Nestes casos os sistemas de

saúde são caracterizados por 3 valores fundamentais: universali-

dade, equidade e liberdade.

Omodelo apresentado descreve estas quatro funções genéricas,

considerando que a natureza dinâmica do desempenho resul-

ta dos diversos equilíbrios que se estabelecem entre as funções

enunciadas (Figura 1) (Hartz e Ferrinho 2011):

Equilíbrio “estratégico”, decorrendo da função de adaptação e

realização de metas de impacto;

Equilíbrio “tático”, dependendo da capacidade dos mecanis-

mos de produção para apoiar a realização das metas;

Equilíbrio “operacional” ,interligando o impacto da produção

sobre o clima organizacional;

Equilíbrio “contextual”, situando-se entre a manutenção de

valores e a capacidade de adaptação organizacional;

Equilíbrio de ‘afectação’, dependendo da compatibilidade en-

tre os meios de que dispõem os diversos serviços ou ramos de

uma organização e a produção;

Equilíbrio de ´legitimidade´, entre a manutenção de valores e

a realização de metas e está relacionado com a capacidade dos

mecanismos contribuírem para a realização das metas, reforçan-

do os valores considerados socialmente desejáveis.

Nomodelo EGIPSS, o desempenho deve ser observado enquan-

to inserido numa rede de interações que contribuem para um

maior desempenho do sistema. Este modelo possui a vantagem

de permitir integrar tanto a abordagem racionalista, centrada

nas metas, como o modelo de produção de recursos, centrado

na produtividade; o modelo de relações humanas, que conside-

ra a qualidade do contexto social; o modelo zero defeito, onde

a organização tem bom desempenho se não cometer erros; e

o modelo comparativo, segundo o qual a organização tem um

bom desempenho se for considerada melhor que as semelhantes

(Contandriopoulos 2008).

As características intrínsecas, as dificuldades sentidas e as críticas

enunciadas à avaliação levaram a que os avaliadores combinas-

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