Table of Contents Table of Contents
Previous Page  90 / 114 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 90 / 114 Next Page
Page Background

90

em termos do uso indevido dos recursos públicos – num

contexto de escassa regulamentação do sector da saúde

nos PALOP. Salientou-se que o duplo emprego pode aju-

dar a reter quadros qualificados no público, e que as ra-

zões pelas quais os trabalhadores da saúde decidem ficar

a trabalhar para o Estado podem ser múltiplas, desde a

maior segurança oferecida pelo sector público, até aos

benefícios em termos de experiência profissional do em-

prego público.

O painel foi questionado sobre a recente experiência da

autoridade reguladora dos medicamentos em Moçambi-

que, salientando-se que a dita autoridade tem recebido

muitas pressões políticas por parte dos operadores eco-

nómicos privados desta área, mas também que o nível de

competência actual do órgão não pode ser considerado

adequado para o desempenho das funções delicadas que

é chamado a exercer. O caso do elevado número de ce-

sarianas em Portugal foi citado como exemplo de uma

das áreas precisando a atenção da Entidade Reguladora

da Saúde, tendo sido este fenómeno estudado pela disci-

plina de economia da saúde como um claro exemplo de

‘procura induzida pela oferta’ em todo o mundo (13).

Uma reflexão geral à qual se chegou foi que cada vez

mais países têm sistemas de saúde ‘pluralísticos’ ou seja,

baseado em fornecedores múltiplos de serviços de saú-

de e caracterizados por mercados segmentados, grande

diferença entre produtos, serviços e qualidade. Neste

sentido, vários estudos mostram como em vários países

os provedores privados e informais já representam mais

que 50% da totalidade dos serviços de saúde prestados

(14,15). A difusão das relações de mercado – a chamada

‘comercialização’ da saúde - não é frequentemente vista

de forma positiva, tendo sido ligada à excessiva impor-

tância dada às questões económicas nas políticas, ou à

incapacidade dos governos de prestar os cuidados de saú-

de esperados. Contudo, esta dinâmica é, de uma certa

forma, inevitável, e ligada ao próprio crescimento eco-

nómico dum país, bem como aos progressos registados

pela liberalização económica dos mercados.

A dita ‘comercialização da saúde’ viria, por um lado,

criar desafios para os sistemas de saúde, e por outro,

abrir oportunidades para os pobres, que poderiam ter

mais escolha sobre características, qualidade e fornece-

dores dos produtos, e por consequência, sobre o preço

a pagar (1). Apesar de existirem excepções, a qualidade

destes serviços ‘informais’ costuma ser muito variável,

e às vezes, má (16). Por isto, será importante que os

governos tenham sistemas para monitorizar e avaliar o

desempenho dos sistemas de saúde, mas sobretudo, uma

regulamentação clara e eficiente dos mercados, especial-

mente no que diz respeito os recursos humanos da saúde.

Neste sentido, o trabalho desempenhado pelo IHMT tem

contribuído, e vai continuar a contribuir no futuro, para

documentar as experiências do sector privado informal

da saúde nos PALOP, com vista a fornecer uma base de

evidência científica para a sua regulação.

Mesa Redonda - Cooperação Internacional

Bibliografia

1. Bloom G, Standing H, Lucas H, Bhuiya A, Oladepo O, Peters DH.

Making hea

lth markets work better for poor people: the case of informal provi-

ders. Health Policy Plan. 2011 Jul;26 Suppl 1:i45–52.

2. Russo G,Trindade ALB da. A investigação do IHMT sobre os prestadores pri-

vados de saúde nos PALOP: lições aprendidas e que futuras áreas de investigação?

An Inst Hiiene E MedTrop. 2012;11:154–61.

3. Simões J, Carneiro C. Os desafíos da regulação. An Inst Hiiene E Med Trop.

2012;11:162–71.

4. Dussault G.Atração e retenção de profissionais de saúde em zonas carenciadas:

revisão das evidências.An Inst Hiiene E MedTrop. 2012;11:146–53.

5. Ferrinho P,Van LerbergheW, Fronteira I, Hipólito F, Biscaia A. Dual practice

in the health sector: review of the evidence. Hum Resour Heal. 2004 27;2(1):14.

6. Ferrinho P,Van LerbergheW, Julien MR, Fresta E, GomesA, Dias F,

et al

. How

and why public sector doctors engage in private practice in Portuguese-speaking

African countries. Health Policy Plan. 1998 Sep;13(3):332–8.

7. Roenen C, Ferrinho P, Van Dormael M, Conceição MC, Van Lerberghe W.

How African doctors make ends meet: an exploration.Trop Med Int Heal Tm Ih.

1997 Feb;2(2):127–35.

8. Ferrinho P,Van LerbergheW, da Cruz Gomes A. Public and private practice: a

balancing act for health staff. BullWorld Health Organ. 1999;77(3):209.

9. Van Lerberghe W, Conceicao C, Van Damme W, Ferrinho P. When staff is

underpaid: dealing with the individual coping strategies of health personnel. Bull

World Health Organ. 2002;80(7):581–4.

10. Russo G,Barbara McPake, Inês Fronteira, and Paulo Ferrinho. “Negotiating Ma-

rkets for Health: An Exploration of Physicians’ Engagement in Dual Practice inThree

African Capital Cities.”

Health Policy and Planning

(September 26, 2013). doi:10.1093/

heapol/czt071.

11. Russo G, McPake B. Medicine prices in urban Mozambique: a public health

and economic study of pharmaceutical markets and price determinants in low-

-income settings. Health Policy Plan. 2010 Jan;25(1):70–84.

12. WHO |The African Regional Health Report:The Health of the People [Inter-

net].WHO. [cited 2013 Sep 19]. Available from:

http://www.who.int/bulletin

/

africanhealth/en/

13. Sakala C. Medically unnecessary cesarean section births: Introduction to a

symposium. Soc Sci Med. 1993 Nov;37(10):1177–98.

14. Mills A, Brugha R, Hanson K, McPake B.What can be done about the private

health sector in low-income countries? BullWorld Health Organ. 2002;80(4):325–

30.

15. Forsberg BC, Montagu D, Sundewall J. Moving towards in-depth knowledge

on the private health sector in low- and middle-income countries. Health Policy

Plan. 2011 Jul 1;26(suppl 1):i1–i3.

16. Berendes S, Heywood P, Oliver S, Garner P. Quality of Private and Public

Ambulatory Health Care in Low and Middle Income Countries: Systematic Review

of Comparative Studies. Plos Med. 2011 Apr 12;8(4):e1000433.