Table of Contents Table of Contents
Previous Page  95 / 114 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 95 / 114 Next Page
Page Background

95

A n a i s d o I HM T

usualmente aqueles que apresentam maior produtividade

científica na área das doenças tropicais negligenciadas.[3]

Contudo, e embora Portugal seja um país com um passado

colonial e uma ligação histórica às ex-colónias africanas (An-

gola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e S. Tomé e

Príncipe), onde as doenças tropicais se assumem como pro-

blemas de saúde relevantes, são inexistentes estudos sobre

a atenção que os media portugueses dedicam ao tema das

doenças tropicais.

Assim sendo, é objetivo deste estudo analisar a cobertura

mediática sobre doenças tropicais nos órgãos de comunica-

ção social portugueses, no âmbito da estratégia de comuni-

cação desenvolvida pelo Instituto de Higiene e MedicinaTro-

pical em torno da organização de um evento técnico-científi-

co dedicado a estas temáticas – o 2.º Congresso Nacional de

Medicina Tropical. Pretende-se, através da análise, aferir o

papel e a preponderância deste tipo de acontecimentos para

influenciar a agenda mediática no sentido de promover uma

maior atenção pública às problemáticas relacionadas com a

saúde tropical. É ainda finalidade deste estudo refletir sobre

novas estratégias para captar o interesse dos profissionais do

jornalismo para as doenças tropicais, tentando contornar o

atual panorama da invisibilidade destas matérias nos media.

A agenda mediática na saúde

As temáticas de saúde nos media são sobretudo dominadas

pela inovação científica, pelas novas descobertas terapêuti-

cas e avanços no tratamento de doenças.As principais fontes

de informação dos jornalistas são as empresas farmacêuticas

que, normalmente através da ação das agências de comunica-

ção, divulgam informação sobre problemas de saúde para os

quais investigam e comercializam medicamentos. As doen-

ças tropicais negligenciadas, como são exemplo a doença do

sono, a doença de chagas, a schistosomose ou a leishmanio-

se, embora causadoras de elevada mortalidade e morbilidade

nos países em desenvolvimento, em particular se considera-

das em conjunto,[4] recebem pouca atenção e financiamento

das autoridades de saúde e quase nenhum investimento por

parte da indústria para o desenvolvimento de terapêuticas

novas, mais eficazes e com menos efeitos adversos [5]. Isto

significa que as doenças subfinanciadas e onde não se regis-

tam investimentos e avanços científicos, como o surgimento

de novas moléculas, raramente figuram nas notícias, sofren-

do de uma crónica falta de visibilidade na arena não só medi-

ática, mas também política e social. Por seu turno, a falta de

conhecimento do público sobre estas doenças, pela ausência

de difusão de informação, contribui, num ciclo vicioso, para

perpetuar a invisibilidade das doenças tropicais negligencia-

das, havendo mesmo estudos que reportam uma correlação

entre a cobertura mediática e o financiamento concedido a

essas doenças. [6]

Os media tem a sua própria cultura profissional, o que os

leva a ter em conta determinados fatores e valores na seleção

das notícias. Numa análise moderna dos designados

fatores-

-notícia

, Harcup refere que, atualmente, os media não pro-

cedem à cobertura noticiosa de um

evento

pelo simples facto

deste afetar um elevado número de pessoas, como acontece

com as doenças tropicais, ou ser considerado “importante”

de alguma forma [7]. Há muitos outros fatores concorren-

ciais na escolha que os jornalistas fazem diariamente sobre

o que é e não é considerado “notícia” - designadamente o

entretenimento e notoriedade das pessoas envolvidas.

Um outro

fator-notíci

a importante é a proximidade cultural

e geográfica ou, em outras palavras, a relevância para os lei-

tores. A (escassa) existência de cobertura noticiosa sobre as

doenças tropicais negligenciadas resulta usualmente da ocor-

rência de surtos e epidemias. Nos casos em que os media

noticiam estes fenómenos, têm, no entanto, a necessidade

de os contextualizar nas realidades nacionais, com interesse

específico para a audiência a quem se dirigem, usualmen-

te enquadrando-os como riscos ou ameaças de saúde para

a população. Também esta lógica no funcionamento do jor-

nalismo contribui para a pouca cobertura das doenças tro-

picais, já que na maioria dos países ocidentais, estas não são

endémicas e não constituem um fator de risco iminente para

a população.

Baseando-se na comunicação veiculada no contexto do 2º

Congresso Nacional de Medicina Tropical, este artigo pre-

tende mostrar que os eventos técnico-científicos na área das

doenças tropicais podem constituir momentos de comuni-

cação valiosos para promover um aumento da sensibilização

pública para estas doenças, promovendo uma maior cober-

tura mediática destas temáticas.

Esta análise tem como objetivo investigar, descrever e anali-

sar a cobertura mediática de temáticas relacionadas com as

doenças tropicais, propulsionada pela comunicação decor-

rente da realização do 2º Congresso Nacional de Medicina

Tropical, organizado pelo Instituto de Higiene e Medicina

Tropical a 22 e 23 de abril de 2013 em Lisboa. O estudo visa

averiguar de que forma a realização de um evento científico

na área das doenças tropicais pode influenciar a cobertura

mediática e pretende estudar como estes eventos poderão

contribuir para uma maior atenção dos jornalistas a estas te-

máticas.

Métodos

A comunicação do 2º Congresso Nacional de Medicina Tro-

pical foi desenvolvida através de diversos contactos com os

órgãos de comunicação social, que envolveram a difusão de

notas de agenda e comunicados de imprensa, a disponibi-

lização de informação e o agendamento de entrevistas em

regime de exclusividade ou não, antes e durante o evento.

As notícias que resultaram desses contactos foram recolhi-

das através de bases de dados eletrónicas, especificamente o