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Embora numa fase em que os países depositam uma significativa

esperança na implementação da estratégia, Francisco Sarmento

chama a devida atenção para os desafios que se colocam para

uma implementação plena da estratégia em cada um dos países

como, entre outras, das capacidades técnicas e financeiras limi-

tadas em vários dos países da CPLP, da vinculação hierárquica

dos mecanismos de governança na maioria dos países, da limita-

ção no alcance das medidas previstas para fortalecer a produção

familiar e ausência de dados relativos à produção familiar e a

debilidade de algumas redes ou grupos de trabalho da sociedade

civil a nível nacional.

2. Países da CPLP: A situação nutricional de Angola,

desafios e perspectivas [2]

Odiagnóstico da situação nutricional apresentado por Maria Futi

Tati [2] revela que a malnutrição continua a ser problema sig-

nificativo emAngola, sendo especialmente afectadas as crianças

menores de cinco anos, havendo, por exemplo, 29% destas com

desnutrição crónica.A taxa de aleitamento materno exclusivo é

reduzida, ao que acresce uma alimentação complementar ina-

dequada a partir dos seis meses. A malnutrição por carência de

micronutrientes foi outro dos aspectos contemplados, sendo que

o consumo de sal iodado é de apenas 44% e a taxa de cobertura

de suplementação com vitamina A é inferior a 60% em todas as

províncias deAngola.

As perspectivas de controlo da malnutrição neste país incluem a

expansão das unidades especiais de nutrição, bem como a expan-

são do programa de tratamento dos doentes em ambulatório e

na comunidade.A formação de técnicos em Gestão Integrada da

Malnutrição Aguda Severa em 9 províncias, bem como o treino

para a acção comunitária de agentes em 21 municípios constitui

outra vertente deste esforço de controlo da malnutrição.

Os passos tomados para a melhoria sustentada da situação nutri-

cional englobam acções tão distintas como a iniciação de negocia-

ções sobre a fortificação de alimentos emAngola a nível central,

a compra e abastecimento atempado de produtos nutricionais

terapêuticos bem como de medicamentos essenciais, evitando

assim as rupturas. A nível local foi efectuada expansão das cozi-

nhas comunitárias recorrendo a produtos locais e a promoção da

diversificação alimentar com a constituição de hortas comunitá-

rias, escolares e familiares.

As estratégias operacionais apresentadas incluem, entre ou-

tras, a maior integração dos serviços de nutrição nos cuidados

de saúde primários com a concomitante formação contínua de

pessoal, e ainda o reforço da suplementação com vitamina A e

a desparasitação. Acrescem ainda a promoção da diversificação

alimentar com produtos locais, o reforço da promoção do zin-

co no tratamento das diarreias, a fortificação e enriquecimentos

dos alimentos e a mobilização de parcerias estratégicas, que en-

tre outras, conformam as estratégias seguidas.

Havendo ainda um longo caminho a percorrer, com indicadores

nutricionais preocupantes, foi patente a multiplicidade de acções

e o empenho na melhoria da situação nutricional emAngola.

3. O envolvimento da comunidade internacional face à

desnutrição:

“ScalingUpNutrition”

emMoçambique [3]

Edna Possolo, na sua comunicação [3], fez um enquadramento da

situação revelando que os indicadores nutricionais de Moçambi-

que mostram um cenário complexo, em que o baixo peso para a

idade foi reduzido a 6%de acordo como Inquérito Demográfico

e de Saúde (IDS) de 2011, atingindo assim o Objectivo de De-

senvolvimento do Milénio 1 (ODM), mas tendo a desnutrição

crónica nas crianças menores de cinco anos permanecido sem

alteração, com 43% de prevalência nacional. A análise por pro-

víncia revela que são Nampula e Cabo Delgado, no norte do país,

as quais o cenário é especialmente preocupante, havendo mais

de 50% das crianças com desnutrição crónica, apresentando a

província de Sofala o cenário mais grave em termos de desnu-

trição aguda.As deficiências emmicronutrientes constituem um

grave problema de saúde pública, com 62% das crianças meno-

res de cinco anos com deficiência emVitamina A. A vulnerabi-

lidade crónica à segurança alimentar atinge 35% dos agregados

familiares, sendo os principais factores limitantes do acesso aos

alimentos e outros serviços básicos o isolamento e o baixo poder

de compra assim como as infra-estruturas deficitárias. Em suma,

38% das famílias têm uma diversidade de dieta baixa. Não obs-

tante o consumo calórico parecer adequado, as mães e crianças

não têm o aporte suficiente de gorduras essenciais, proteína de

alto valor biológico e de micronutrientes.

Em termos do enquadramento das acções em nutrição, estas in-

cluíram a aprovação da Estratégia de SegurançaAlimentar e Nu-

tricional I (ESAN I) e Plano de Acção (PASANI) em 1998, a 1ª

Reunião Nacional de Nutrição em 2008, e o desenvolvimento da

ESAN II para o período entre 2008 e 2015, que incluiu o concei-

to de Direito Humano àAlimentaçãoAdequada.

Em 2009, a propósito da avaliação do Plano deAcção para a Re-

dução da Pobreza Absoluta (PARPA 2006-2009) emanou como

principal recomendação a urgência de uma abordagem a nível

nacional para a redução da desnutrição crónica, e que esta fosse

considerada prioritária nos planos do governo.

Moçambique torna-se, em 2011, parte dos

Early Riser Countries

para o movimento

Scaling Up Nutrition

– SUN, sendo o Presi-

dente da República de Moçambique membro do grupo de lide-

rança do movimento. Precedendo esta acção, é lançado em 2010

o Plano de Acção Multissectorial para a redução da desnutrição

crónica emMoçambique 2011-2014 (2020), tendo como objec-

tivo geral acelerar a redução da desnutrição crónica emmenores

de 5 anos de 44% em 2008 até 30% em 2015 e 20% em 2020.

Destaca-se, neste plano, a multissectorialidade, o processo de

descentralização, a integração da nutrição nos outros sectores,

tais como a saúde, a educação e o ambiente.

Apesar de todos os progressos realizados há ainda um longo ca-

minho a percorrer na área da Nutrição em Moçambique, que é

actualmente plena de desafios.

Mesa Redonda - Cooperação Internacional