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Introdução

O interesse pelo conhecimento e investigação de novas noso-

logias e terapêuticas, no contexto dos trópicos e da epopeia

dos descobrimentos, foi particularmente valorizado desde

Garcia de Orta (1500-1568). Num passado mais recente e

na sequência da Conferência de Berlim (iniciada em 1884),

Portugal viu-se obrigado a considerar as várias componen-

tes da colonização para uma ocupação efectiva das colónias,

destacando-se a medicina como uma das ferramentas mais

eficazes para facilitar a presença do europeu e melhorar as

condições de saúde dos povos locais, em prol da missão civi-

lizadora, “conhecer para dominar”.

A realização do 1.º Congresso Nacional de Medicina Tro-

pical surgiu na sequência de alguns eventos de maior re-

levo da propaganda do Estado, realizados na metrópole e

nas colónias/províncias ultramarinas, onde a medicina, a

higiene ou saúde pública, marcaram posição, de uma for-

ma ou de outra: o 1º Congresso de Medicina Tropical da

África Ocidental, em Luanda (1923); a 1ª Exposição Co-

lonial Portuguesa, no Porto (1934); a Exposição Históri-

ca da Ocupação e o I Congresso da História da Expansão

Portuguesa no Mundo, em Lisboa (1937); o Congresso do

Mundo Português, em Lisboa (1940); e a exposição “Cons-

trução nas Colónias Portuguesas: Realizações e Projectos”,

em Lisboa (1944), que incluía uma secção dedicada às es-

truturas sanitárias.

O 1º Congresso de Medicina Tropical realizado em Luanda

(Angola), designado como 1º Congresso Nacional de Me-

dicina da África Ocidental, foi presidido por António Da-

mas Mora (1879-1949), Chefe de Repartição Superior de

Higiene da Secretaria do Interior e representante da Escola

de Medicina Tropical, sendo o Alto-Comissário da Repúbli-

ca, José Mendes Ribeiro Norton de Matos (1867-1955), o

seu presidente de honra. Este evento partiu da iniciativa do

governo de Angola e tinha por objectivo o estabelecimento

de um intercâmbio científico entre a metrópole, as colónias

portuguesas e as restantes possessões com interesses no País,

na tentativa do estabelecimento de redes de cooperação em

prol do combate às doenças tropicais, que como tantas ou-

tras, nunca conheceram fronteiras. Protagonizou, assim uma

das intervenções mais eficazes do governo português em ter-

ritório africano, em resposta às ameaças de Inglaterra, Ale-

manha e França, evidenciando desta forma a preponderância

da medicina tropical no processo de ocupação efectiva de

Portugal em África [1].

A fórmula “Portugal não é um país pequeno” (figura 1), divul-

gada na 1ª Exposição Colonial Portuguesa, surgia como legen-

da de um mapa, atribuído a Henrique Galvão (1895-1970),

que evidenciava a distribuição do império colonial português,

face à das restantes nações europeias imperialistas.

Também no domínio da Medicina Tropical “Portugal não

[foi] um país pequeno”: a Medicina expandiu-se, enraizou-se

e afirmou-se pelas múltiplas missões, temporárias ou per-

manentes, levadas a cabo pela escola portuguesa de medici-

na tropical. Angola, Moçambique, Guiné, Cabo-Verde, São

Tomé e Príncipe, Goa, Damão, Diu e Timor, foram espaços

férteis de investigação, de ensaio e implementação de no-

vos saberes levados da metrópole mas, também, na execu-

ção de obras de fomento sanitário (instalação de serviços de

saúde centrais e regionais, de postos sanitários e hospitais),

em paralelo ao fomento de infra-estruturas de comunicação

(portos, estradas, caminhos-de-ferro, transportes aéreos,

telegrafia e telefones), de redes escolares, da instalação de

serviços administrativos, do fomento agrícola, pecuário, mi-

neiro e industrial.

cal network in the metropolis and in the colonies of the national context, as

well as the participation of some international figures of relevance in tropical

medicine.

As methodology, we will analyse the iconographic and documentary material

existing in the museum of the IHMT, such as the correspondence related to

the organisation of this congress, the scientific and social programme, the sci-

entific communications, some iconography related with the exhibition on the

overseas sanitary activities, and the movies produced for the event. Amongst

the multiplicity of papers presented at this conference, later published in

the

Anais do Instituto de Medicina Tropical

(Annals of the Institute of Tropical

Medicine) we will particularly focus on the analysis of communications on

trypanosomiasis and malaria, as well as on some elements of the exhibition of

Overseas Sanitary Activities, held at the National Palace of Junqueira (Palace

Burnay), crucial elements to understand the importance of this congress to

the consolidation and projection of the Portugal image around the world.

Should this paper contribute to explore new and different lines of research on

Portuguese tropical medicine providing continuity to this piece of our history

always unfinished.

KeyWords:

1st National Congress ofTropical Medicine 1952, João Fraga de Azevedo,

Tripanossomiasis, Malaria, Overseas Health Assistance.

cinquentenário da medicina tropical portuguesa, e o congresso científico

propriamente dito, que reuniu os principais actores da rede médica na

metrópole e nas colónias, no contexto nacional, bem como a participação

de algumas figuras de relevo da medicina tropical mundial.

Como proposta metodológica atentar-se-á na análise do material docu-

mental e iconográfico existente no museu do IHMT, como sejam a corres-

pondência, o programa científico e social, as comunicações científicas, a

iconografia associada à exposição sobre a actividade sanitária no Ultramar,

bem como alguns filmes realizados por ocasião do evento. Dos múltiplos

trabalhos apresentados neste congresso, posteriormente publicados sob a

forma de actas nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, destacaremos

as comunicações sobre as tripanossomíases e a malária, bem como alguns

elementos da Exposição Documental das Actividades Sanitárias do Ultra-

mar, elementos cruciais para a compreensão da importância deste evento

para a consolidação e projecção da imagem de Portugal no mundo.

Possa este trabalho contribuir para explorar novas e diferentes vias de in-

vestigação sobre a medicina tropical portuguesa dando continuidade a este

pedaço da nossa história sempre inacabada.

Palavras Chave:

1º Congresso Nacional de MedicinaTropical 1952, João Fraga deAzevedo,

Tripanossomíases, Malária,Assistência Sanitária no Ultramar.

V Mostra Museológica do IHMT